quinta-feira, 31 de março de 2011

A “emoção” do mata-mata

Um dos argumentos muito usado a favor da disputa de torneios com mata-mata é que essa fórmula seria mais emocionante do que a disputa por pontos corridos. O atual Campeonato Paulista, no entanto, mostra que isso nem sempre é verdade.

Faltando 3 rodadas para o fim da primeira fase, apenas 1 ponto separa o 1º do 4º colocado. Se a disputa fosse por pontos corridos, teríamos um final de campeonato épico (ok, “épico” é exagero para um Paulistinha), com enorme pressão sobre as equipes e uma grande chance de ver 4 times brigando pelo título até a última rodada – coisa que é impossível no mata-mata.

Em vez disso, temos pela frente 3 rodadas mornas. Afinal de contas, está óbvio que os 4 grandes ocuparão as 4 primeiras posições. E, embora traga uma pequena vantagem nas fases decisivas, a briga pelo 1º lugar não desperta grandes paixões – até porque os jogos que valem mesmo só acontecem na próxima etapa.

Além disso, não custa lembrar que as finais de torneios mata-mata nem sempre são tão emocionantes assim. Só para citar alguns exemplos recentes, a decisão do Paulista de 2008 foi muito sem graça (o Palmeiras venceu os dois jogos contra a Ponte, por 1x0 e 5x0), a final da Copa do Brasil de 2009 foi morna (o Corinthians nunca teve o título ameaçado pelo Internacional depois de ganhar o jogo de ida por 2x0, já que marcou os 2 primeiros gols no 2x2 da volta) e até a decisão da Libertadores de 2007 trouxe poucas emoções (o Boca matou o Grêmio no primeiro jogo, por 3x0, e ainda ganhou o segundo, 2x0).

Pode-se argumentar, com razão, que os exemplos citados são exceções e que, normalmente, o mata-mata permite um desfecho mais emocionante. É verdade, mas essa emoção final vem à custa de uma primeira fase longa e chata, o que não acontece nos pontos corridos. Assim, se fosse possível fazer um “gráfico de emoção”, a comparação entre os dois modelos seria a seguinte (mata-mata com um regulamento parecido ao do Paulista):

Nos dois casos, depois da empolgação da estréia, há uma natural perda de interesse. No caso dos pontos corridos, a disputa começa a esquentar no segundo turno, aumentando lentamente o interesse até o clímax das rodadas finais. No mata-mata, a primeira fase é mais chata, e a emoção só aumenta um pouco nas últimas rodadas; depois, ela cresce rapidamente durante as etapas eliminatórias, terminando num pico mais alto, na grande final. Vale a pena?

5 comentários:

  1. Um dos problemas do mata-mata é a anomalia criada pela briga pela classificação. Vamos ao exemplo do brasileirão onde se classificavam os 8 primeiros: Classificando-se 8, significa que é provável que os primeiros já estejam classificados com certa antecedência. A atenção da mídia volta-se completamente para os clubes que estão na metade da tabela, que têm inclusive seus estádios cheios. Os primeiros colocados são praticamente ignorados neste caso.

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  2. Acho que mata-mata só faz sentido em campeonatos onde as equipes são dividas em grupos pequenos como a Libertadores e a Champions League. Até mesmo por questão da competitividade, não tem como saber quem seria o campeão se as equipes não tiverem oportunidade de se enfrentarem em algum momento.

    Agora essa fórmula de mata-mata antecedido por um sistema de pontos corridos realmente é bizarra. Faz a equipe que teve a melhor campanha provar duas vezes que é a melhor entre todas. É por isso que no caso do Campeonato Paulista, eu acredito que a melhor fórmula seria dividir os 20 times em pequenos grupos (com um grande em cada grupo) e realizar mata-mata com apenas o campeão cada grupo. Isso faria todos felizes, não? A FPF conseguiria manter o campeonato cheio de clubes. As equipes grandes jogariam menos partidas na primeira fase. As equipes pequenas teriam oportunidade de lotar seus estádios contra uma equipe grande. A primeira fase seria menos morna, pois obrigaria as equipes grandes a se garantirem em seus grupo. E se as equipes grandes fizessem a lição de casa, teríamos clássicos decisivos nas finais.

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  3. Mata-mata nas copas e pontos corridos no Brasileiro. Se os que comandam o futegbol fizessem as coisas direitos, no calendário, ninguém ia reclamar

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  4. Você não pode pegar uma fórmula esdrúxula como essa do Paulista para dar um exemplo de fracasso do mata mata. Pegue a do campeonato carioca de alguns anos atrás. Dois turnos com semi final e final em cada um. É uma comparação mais justa.

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    1. Oi, Michel!
      Note que o texto em questão é de 2011, época em que o Paulista tinha uma fórmula mais "normal" de mata-mata (todos os times se enfrentavam na primeira fase, e depois acontecia um playoff). Não só essa fórmula é a mais comum nos torneios estaduais, como também é o sistema que o Brasileirão usava antes de adotar os pontos corridos. Por isso, foi ela que usei como exemplo para "medir" a emoção do mata-mata.
      É bom mencionar que, no modelo em dois turnos, com duas finais, não mudaria muita coisa: apenas haveria um curto pico de emoção na metade, entre duas fases longas e chatas...

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