sábado, 30 de abril de 2011

Equilíbrio de títulos – últimos 20 anos

Seguindo no assunto do equilíbrio histórico na distribuição de títulos, achei interessante calcular como ficaria o ranking considerando-se apenas os últimos 20 anos em cada campeonato nacional. Afinal, a trajetória e longevidade dos torneios são muito diferentes, o que torna a comparação histórica muito desigual.
Veja só como ficou a classificação, para os 15 campeonatos nacionais mais importantes (para entender como é feito o cálculo, clique aqui):
Pos
Torneio
Índice
1
México
9,2
2
Brasil
8,7
3
Argentina
5,8
4
França
4,9
5
Itália
4,1
6
Rússia
3,5
7
Alemanha
3,3
8
Turquia
3,0
9
Bélgica
3,0
10
Holanda
2,8
10
Espanha
2,8
12
Inglaterra
2,7
13
Grécia
2,2
14
Portugal
2,1
15
Escócia
1,8

Inclui os campeonatos encerrados entre 1991 e 2010 (para a Rússia, a partir de 1992)
Nesta classificação, os resultados ficam muito mais próximos do senso comum – ou seja, mais campeonatos com fama de equilibrados estão no topo. Mesmo assim, há fatos interessantes a se destacar.
A primeira coisa que salta aos olhos é que os índices de todos os países (com exceção da Rússia) caíram. Isso já era esperado. Mais do que o menor número de edições, o que derruba os índices é o fato de desconsiderar o passado distante, quando muitos clubes amadores e pequenos conseguiam ser campeões, embolando a lista de títulos.
Outro fato marcante é a presença dos três campeonatos latino-americanos no topo. A explicação, a meu ver, é simples: sempre que um time campeão é formado nesses países, seus melhores jogadores são levados por clubes europeus, o que dificulta muito a formação de equipes que monopolizem o campeonato por muito tempo. Nos casos do México e (parcialmente) do Brasil, a fórmula de disputa em mata-mata também contribui para aumentar a variabilidade dos campeões.
Na parte de baixo da tabela, é interessante notar como o equilíbrio da Inglaterra despencou, ficando abaixo até da Holanda. A lanterna, claro, é a Escócia, que só teve dois times campeões nestes últimos 20 anos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Os campeonatos mais equilibrados ao longo do tempo

No post anterior, mostrei o ranking de equilíbrio histórico dos principais campeonatos nacionais do mundo. Mas faltou mostrar quais são, de fato, os torneios que mais equilíbrio tiveram ao longo da história – incluindo todos os países.

Pois bem, testei a fórmula de cálculo do ranking (que você pode ver aqui como funciona) em 77 torneios diferentes. Escolhi todos os países que têm campeonatos regulares e um mínimo de tradição no futebol (e listas de campeões disponíveis no site da RSSSF).

Assim, os 10 campeonatos nacionais que apresentam maior equilíbrio ao longo da história são:

Pos.
Torneio
Índice
1
Venezuela
19,3
2
México
15,7
3
Tailândia
14,4
4
Indonésia
14,3
5
Austrália
12,5
6
Dinamarca
12,3
7
Alemanha*
11,7
8
Inglaterra
11,3
9
Brasil
11,2
10
França
11,1
*Inclui Alemanha Ocidental

Aproveitando, apresento aqui os 10 campeonatos menos equilibrados:

Pos.
Torneio
Índice
1
Letônia*
1,7
2
Ucrânia*
1,9
3
Croácia*
2,0
4
Egito
2,1
5
Escócia
2,8
6
Grécia
2,9
7
Uruguai
2,9
8
Costa do Marfim
3,0
9
Gana
3,0
10
Rússia*
3,5
*Pós-independência/separação

Nota-se que, nos dois extremos da classificação, não há campeonatos de grande nível técnico (o primeiro que aparece é a Alemanha, em 7º lugar entre os mais equilibrados). Esse resultado tem lógica.

Nenhum grande campeonato aparece entre os menos equilibrados por um motivo simples: bons torneios, para manter o interesse histórico, têm que contar com um número razoável de times fortes. Na lista, até há alguns países com tradição no futebol, como Escócia e Uruguai, mas cujas pequenas dimensões impedem o surgimento de muitos “times grandes” e fazem com que o campeonato nacional não seja tão competitivo.

No outro extremo, nota-se que os campeonatos que tiveram muitos campeões alcançaram essa condição, em geral, pela total falta de grandes times consolidados (Austrália), por uma instabilidade das equipes (times “grandes” que, depois de um tempo, fecham ou perdem sua força, como na Venezuela) ou por regulamentos malucos que favorecem um aumento na variabilidade dos campeões (casos de Brasil e México).

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ranking de equilíbrio histórico

Em um post anterior, apresentei um ranking dos campeonatos mais equilibrados do mundo. Agora, introduzo um novo tipo de ranking, que também aponta equilíbrio, mas, em vez de abordar apenas uma temporada, mostra como se dá a divisão de forças considerando todas as edições de cada torneio nacional.

Este novo ranking foi criado com base no Índice de Herfindahl, que é usado para medir a concentração de um determinado setor da economia (órgãos de proteção à concorrência o usam para definir se há risco de monopólio). Nos negócios, usa-se como parâmetro a renda de casa empresa do setor; no futebol, tomo como base o número de títulos de cada clube.

A conta não é complicada. É só pegar o número de títulos de cada clube, dividir pelo total de títulos da competição e elevar ao quadrado. Somam-se os resultados e calcula-se o inverso (1/x). Para uma explicação mais detalhada, clique aqui.

E o que quer dizer esse número? Um resultado de 5,00, por exemplo, indica que o torneio em questão tem equilíbrio equivalente ao de um campeonato em que todos os títulos foram divididos igualmente entre 5 equipes. Neste ranking, o resultado mínimo possível é 1,00 (ou seja, um time ganhou todos os títulos) e o máximo é o número total de temporadas disputadas (ou seja, cada ano teve um campeão diferente).

Aí vai o ranking de equilíbrio histórico dos 15 campeonatos nacionais mais importantes (o critério de escolha dos torneios foi subjetivo):

Pos.
Torneio
Índice
1
México
15,7
2
Alemanha*
11,7
3
Inglaterra
11,3
4
Brasil**
11,2
5
França
11,1
6
Argentina
10,0
7
Bélgica
7,7
8
Holanda
7,6
9
Itália
7,0
10
Espanha
4,0
11
Turquia
3,7
12
Portugal
3,5
13
Rússia***
3,5
14
Grécia
2,9
15
Escócia
2,8
*Inclui a Alemanha Ocidental, mas não a Oriental
**Inclui a a Taça Brasil e o Robertão
***Só o período pós-União Soviética

O primeiro lugar do México na tabela é mais que justificado. O maior campeão do país tem só 15 títulos (ou seja, 12% das 125 edições), há 15 times com 3 títulos ou mais e um total de 29 campeões diferentes!

A surpresa, talvez, seja a Alemanha aparecer em segundo lugar. Afinal, o campeonato é dominado pelo Bayern, não é? Olhando a lista de campeões, no entanto, percebe-se que o domínio dos bávaros é relativamente recente e que eles têm só 22,4% do total de títulos. Ao todo, foram 29 campeões diferentes e 12 times com pelo menos 3 conquistas. Ou seja, ao longo de toda a história, o Alemão é, sim, bem distribuído – mas o índice tende a cair, se o domínio do Bayern se estender pelas próximas décadas.

Em seguida, Inglaterra, Brasil e França aparecem quase empatados. Aqui, nenhuma surpresa: são três campeonatos considerados historicamente equilibrados.

No pé da tabela, também são poucas surpresas. O Escocês (Rangers e Celtic), o Grego (Olympiacos e Panathinaikos) e o Português (Porto, Sporting e Benfica) estão entre os mais concentrados. Menos óbvia é a presença da Rússia no meio desses campeonatos. Mas, de fato, a concentração do período pós-soviético é grande, com o Spartak Moscou ganhando 47,4% dos títulos e só outras 5 equipes sendo campeãs.

Vale nota, também, a posição da Espanha em 10º lugar, com índice de apenas 4,0, bem perto dos campeonatos menos equilibrados. É o único torneio forte com índice inferior a 7,0. Mostra de que o duopólio Real Madrid/Barcelona se aproxima muito daquilo que se vê em campeonatos “Mickey Mouse”, como o Escocês, o Grego, etc, que só têm 2 ou 3 times fortes de verdade.

Mas quais são os campeonatos nacionais mais concentrados e mais distribuídos do mundo, considerando todos os países? Fiz o teste em 77 torneios nacionais e apresentarei os resultados no próximo post.