sábado, 27 de outubro de 2012

Evolução do equilíbrio na Europa é preocupante



No último texto, apresentei a evolução histórica do equilíbrio no Campeonato Alemão. Para a análise ficar completa, é importante comparar a tendência da Bundesliga com os outros principais campeonatos europeus, o que farei agora.

Abaixo, está o gráfico com as linhas de tendências (calculadas com ferramentas estatísticas do Excel, a partir dos Índices de Equilíbrio ano a ano) dos 5 principais campeonatos do continente:


Legenda: em preto, Alemanha; em azul, França; em amarelo, Espanha; em verde, Itália; em vermelho, Inglaterra.

Nota-se facilmente que a evolução do equilíbrio na Alemanha, em linhas gerais, acompanha a dos outros principais campeonatos europeus. Curiosamente, embora tenha oscilado pouco, a Bundesliga chegou a ser, por curtos períodos, o torneio mais equilibrado da Europa (comecinho da década de 1970) e também o menos equilibrado (primeira metade dos anos 1980). Mas isso é mais uma curiosidade estatística que um dado significativo.

O que realmente importa é constatar que a queda no equilíbrio é generalizada na Europa. Com base nos dados dos 5 principais campeonatos, já é possível fazer uma média do equilíbrio ano a ano. Vejamos a evolução:


Em marrom, a média ano a ano; em azul, a linha de tendência calculada pelo Excel.

Esse cálculo da média é útil porque atenua variações pontuais que naturalmente ocorrem nos torneios. Graças a isso, foi possível traçar uma linha de tendência com alto grau de significância (r² superior a 0,6). E essa linha indica uma queda contínua, cada vez mais acentuada, desde 1960.

Agora, cabe perguntar: será que chegamos ao fundo do poço, ou dá para o futebol ficar ainda menos equilibrado? Um pessimista só precisa olhar para a linha de tendência do último gráfico para argumentar que a situação vai piorar; já um otimista pode tomar como base o primeiro gráfico deste post, que sinaliza uma clara convergência das linhas para a faixa dos 55%-60%, e afirmar que o pior já passou. Para uma resposta definitiva, no entanto, será preciso esperar mais alguns anos.

sábado, 20 de outubro de 2012

Equilíbrio em queda também na Alemanha




Um assunto que considero muito interessante e que abordo de tempos em tempos aqui é a evolução histórica do equilíbrio nos principais campeonatos do mundo. Usando um método de cálculo baseado no Índice de Gini (veja aqui como funciona), é possível chegar a um índice que indica quão nivelado um torneio foi em determinada temporada. Comparando esse valor ao longo do tempo, encontramos alguns resultados muito interessantes.

Já fiz essa análise para quatro campeonatos: Inglês, Italiano, Espanhol e Francês. Em todos, a conclusão foi a mesma: o equilíbrio entre os clubes é cada vez menor nesses países.

Nesta semana, fiz o cálculo do equilíbrio na Alemanha, e o resultado é parecido com o dos outros países. Vejamos no gráfico abaixo como o índice de equilíbrio variou desde que a Bundesliga passou a ser disputada por pontos corridos, na temporada 1963/4:

Em vermelho, o Índice de Equilíbrio ano a ano; em preto, a linha de tendência calculada pelo Excel

Fica evidente que a tendência é de queda, embora haja leve esperança de uma retomada. Da mesma forma que aconteceu  nos outros países, na Alemanha o equilíbrio vem caindo gradativamente há muito tempo, mas a tendência claramente se acelerou a partir da segunda metade dos anos 1990.

Aliás, não é por acaso que 4 das 5 temporadas mais desniveladas da história aconteceram neste século (o recorde é de 2001/2, com índice de 49,6%). Para as mais equilibradas, é o inverso: 3 das 5 encontram-se na década de 1960 (a temporada mais equilibrada foi 1968/9, que teve 82,1% de índice).

domingo, 14 de outubro de 2012

Desempenho do Fluminense é recorde no Brasil, mas não impressiona lá fora



Com uma ótima campanha de 19 vitórias, 8 empates e apenas 2 derrotas, o Fluminense vem despontando não só como provável campeão brasileiro, mas tem também grandes chances de estabelecer novos recordes de aproveitamento no Brasileirão por pontos corridos. A imprensa, claro, não perdeu a chance de enaltecer a campanha do Tricolor, e adjetivos como “histórico”, “inesquecível” e “inigualável” já chegaram a ser usados por comentaristas mais empolgados.

Embora o desempenho da equipe seja realmente excelente para os padrões brasileiros, basta uma olhadinha para o exterior para perceber que a campanha do Fluminense não tem nada de extraordinário, se comparada com o aproveitamento que os campeões costumam ter nos principais campeonatos mundiais.

Abaixo, está a listagem com o número de pontos que os campeões (e os vices) fizeram na última edição de cada um dos 12 principais campeonatos de pontos corridos do mundo, além de todos os Brasileirões com essa fórmula de disputa. Para permitir a comparação, fiz uma projeção da média de pontos para um campeonato com 38 rodadas:

Campeonato
Campeão
Vice
Jogos
Projeção Campeão
Projeção Vice
Ucraniano 2012
79
75
30
100,1
95,0
Espanhol 2012
100
91
38
100,0
91,0
Português 2012
75
69
30
95,0
87,4
Escocês 2012
93
83
38
93,0
83,0
Grego 2012
73
69
30
92,5
87,4
Alemão 2012
81
73
34
90,5
81,6
Inglês 2012
89
89
38
89,0
89,0
Brasileiro 2012*
65
56
29
85,2
73,4
Holandês 2012
76
70
34
84,9
78,2
Italiano 2012
84
80
38
84,0
80,0
Japonês 2012
75
71
34
83,8
79,4
Brasileiro 2003
100
87
46
82,6
71,9
Francês 2012
82
79
38
82,0
79,0
Brasileiro 2006
78
69
38
78,0
69,0
Brasileiro 2007
77
62
38
77,0
62,0
Argentino 2012
38
36
19
76,0
72,0
Brasileiro 2008
75
72
38
75,0
72,0
Brasileiro 2004
89
86
46
73,5
71,0
Brasileiro 2005
81
78
42
73,3
70,6
Brasileiro 2011
71
69
38
71,0
69,0
Brasileiro 2010
71
69
38
71,0
69,0
Brasileiro 2009
67
65
38
67,0
65,0
*Até a 29ª rodada

Veja que, embora tenha com folga o melhor desempenho de um time na era dos pontos corridos no Brasil, o Fluminense ainda fica atrás de 7 dos 12 atuais campeões estrangeiros – ou seja, em termos globais, está apenas na média. Para garantir o recorde brasileiro, o Tricolor precisa de apenas 18 pontos; por outro lado, mesmo que vença suas 9 partidas restantes, ainda ficará atrás dos campeões de Ucrânia, Espanha, Portugal, Escócia e Grécia.

O interessante é que o Fluminense nem precisava de um desempenho tão bom para ser campeão. Se seus perseguidores mantiverem o ritmo, o time precisaria só de mais 9 pontos para levar a taça para as Laranjeiras. Afinal, para ser campeão, uma equipe só tem que fazer 1 ponto a mais que o vice-campeão, certo?

Nessa categoria, Atlético-MG e Grêmio também estão batendo um recorde histórico. Se um dos dois mantiver o ritmo, superará a campanha do Grêmio de 2008, até hoje o melhor vice dos pontos corridos. O que chama a atenção é como é “fácil” (em relação ao número de pontos) ser campeão no Brasil. Nunca um vice daqui fez mais que 72 pontos (em 38 jogos), aproveitamento inferior a todos os vice-campeões estrangeiros da última temporada.

O motivo, claro, é o equilíbrio do Brasileirão. Não bastasse os times serem relativamente nivelados, ainda vemos as melhores equipes perderem seus jogadores para a Seleção em 15 rodadas (!!!), se pouparem para disputar outros torneios, etc (esse assunto já foi abordado neste post). Com isso, perdem grande número de pontos e “achatam” a diferença entre os líderes e o bolo que vem atrás. Assim, campanhas “comuns” como a do Fluminense acabam parecendo extraordinárias a nossos olhos.