sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Quadro de medalhas alternativo das Olimpíadas Rio-2016


Para encerrar a série de matérias sobre os Jogos Olímpicos Rio-2016, trago aqui um quadro de medalhas alternativo para a competição.

Os meios de comunicação em geral e até mesmo o Comitê Olímpico Internacional apresentam um quadro em que são atribuídas três medalhas (ouro, prata e bronze) para cada modalidade esportiva. Isso, no entanto, leva a grandes distorções. Esportes como canoagem e levantamento de peso distribuem mais de uma dúzia de medalhas de ouro, enquanto competições como futebol e basquete não passam de duas.

Assim, países que calham de serem bons em esportes que valem muitas medalhas aparecem em posição desproporcional na listagem (exemplo clássico é a Jamaica). Para corrigir isso, desde 2011 apresento este quadro de medalhas alternativo, em que a contagem é feita por esporte, não por modalidade.

Explicando melhor: para cada um dos 32 esportes da Olimpíada foi montado um quadro de medalhas. Ao 1º colocado no esporte foi atribuída 1 medalha de ouro no quadro geral; o 2º ficou com uma de prata, e o 3º com uma de bronze. Assim, pode-se descobrir quais países realmente são potências esportivas e quais concentram seus ganhos em poucos esportes.

Por esse critério, o quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos Rio-2016 é o seguinte:

Pos
País
Ouro
Prata
Bronze
Dif.*
1
Reino Unido
6
3
3
+1
2
Estados Unidos
6
2
2
-1
3
Rússia
5
2
2
+1
4
China
5
2
1
-1
5
Alemanha
3
3
2
0
6
Coreia do Sul
3
0
0
+2
7
Austrália
2
1
1
+3
8
Brasil
2
1
0
+5
9
Japão
1
3
1
-3
10
Sérvia
1
1
1
+22
11
Itália
1
0
4
-2
12
Uzbequistão
1
0
0
+9
13
Argentina
1
0
0
+14
14
Dinamarca
1
0
0
+14
15
Fiji
1
0
0
+39
16
Espanha
0
3
1
-2
17
França
0
2
4
-10
18
Holanda
0
2
1
-7
19
Hungria
0
1
2
-7
20
Nova Zelândia
0
1
2
-1
21
Cuba
0
1
1
-3
22
Quênia
0
1
0
-7
23
Tailândia
0
1
0
+12
24
Porto Rico
0
1
0
+30
25
Suécia
0
0
2
+4
26
Jamaica
0
0
1
-10
27
Suíça
0
0
1
-3
28
Irã
0
0
1
-3
29
Ucrânia
0
0
1
+2
30
Bélgica
0
0
1
+5
31
Indonésia
0
0
1
+15
32
Croácia
0
0
0
-15
33
Canadá
0
0
0
-13
*Diferença, em número de posições, em relação ao quadro de medalhas tradicional.
**A divisão dos esportes seguiu o mesmo padrão da feita pela Wikipedia. A única diferença é a divisão do vôlei em dois esportes (de quadra e de praia).

Veja só que interessante: se contarmos o domínio em número de esportes, o Reino Unido aparece em primeiro lugar, à frente dos “imbatíveis” Estados Unidos. Isso mostra quanto o quadro de medalhas tradicional acaba favorecendo países que são fortes em determinados esportes. No caso dos norte-americanos, seu domínio absoluto se deve ao poderio na natação e no atletismo, esportes onde ganharam 29 de suas 46 medalhas de ouro. Se tirarmos eles da conta, os EUA ficam com apenas 17 ouros, contra 24 dos britânicos (mesmo se eliminássemos os dois esportes onde o Reino Unido se sai melhor, ciclismo e remo, ainda sobrariam 18 ouros).

Falando sobre o Brasil, o País aparece na lista por esportes melhor do que no quadro tradicional, como tem acontecido em todas as Olimpíadas recentes. O Brasil ficou com o ouro no vôlei e no vôlei de praia, e com a prata no futebol. Esse resultado é suficiente para colocar o País na 8ª posição e, assim, dentro da meta de ficar no “top 10” dos Jogos.

Há um outro critério no qual o Brasil se sai ainda melhor. Vejamos, abaixo, em quantos esportes diferentes cada país ganhou medalhas de ouro na Rio-2016:

País
Esportes
Reino Unido
15
Estados Unidos
13
China
10
Rússia
9
Alemanha
9
França
7
Brasil
7
Austrália
6
Japão
5
Coreia do Sul
5
Itália
5
Holanda
5
Espanha
5
Croácia
4
Canadá
4
Hungria
3
Nova Zelândia
3
Cazaquistão
3
Colômbia
3
Grécia
3
Argentina
3

Com medalhas de ouro em 7 esportes diferentes, o Brasil só fica atrás de 5 países, em termos de variedade (aspecto no qual, novamente, o Reino Unido ficou na liderança). Nesse critério, estamos à frente de nações consideradas fortes, como Austrália, Japão e Canadá, e ao lado da França.

Essas duas tabelas mostram que, se formos um além da análise simplista baseada apenas no quadro de medalhas tradicional, dá para perceber que o Brasil conseguiu estabelecer uma presença relevante nos Jogos Olímpicos. Não, não somos uma “potência olímpica” – e provavelmente nunca seremos. Mas, fora esse grupo de 4 ou 5 países (Reino Unido, Estados Unidos, China, Rússia e, em menor grau, Alemanha), é razoável dizer que o Brasil não deve nada a ninguém.

O País ter conseguido se inserir no “segundo escalão” dos Jogos, em patamar parecido ao de nações fortes como Japão e Austrália, é um feito que não deve ser subestimado – principalmente se lembrarmos do desempenho discretíssimo que costumávamos ter até o começo dos anos 1990. Agora é torcer para que, passada a empolgação dos Jogos em casa, não deixem a fonte de recursos secar, e o progresso continue.