segunda-feira, 27 de abril de 2015

Confrontos entre brasileiros na Libertadores

O chaveamento das oitavas-de-final da Copa Libertadores colocou equipes brasileiras frente-a-frente em dois confrontos. Se, por um lado, isso faz com que dois times do País fiquem de fora das quartas-de-final, por outro, pelo menos garante que não repetiremos o vexame de 2014, quando só um brasileiro esteve entre os 8 melhores do torneio. Para Cruzeiro, São Paulo, Internacional e Atlético-MG, serão jogos duros, com muito equilíbrio. Isso é o que a história mostra.

O primeiro jogo entre brasileiros na Libertadores aconteceu em 1963, quando o Santos eliminou o Botafogo na semifinal. Desde então, foram 155 partidas “nacionais” no torneio. Os dois encontros mais comuns aconteceram 8 vezes cada e envolvem o São Paulo: contra o Atlético-MG (4 vitórias dos mineiros, 3 empates e apenas 1 dos paulistas) e contra o Palmeiras (domínio total do Tricolor, com 6 vitórias e 2 empates). Também há três confrontos que aconteceram 6 vezes: Cruzeiro x Grêmio (3x2 para os mineiros, com 1 empate); Palmeiras x Corinthians (3 vitórias para cada lado) e Vasco x Grêmio (2 vitórias para cada, com 2 empates).

E os embates que veremos neste anos, nas oitavas-de-final? Internacional e Atlético-MG nunca se enfrentaram na Libertadores; Cruzeiro e São Paulo já se encontraram 4 vezes, com 2 vitórias de cada lado. Em etapas posteriores, entre os confrontos possíveis, há desde jogos inéditos (Cruzeiro x Atlético-MG e Cruzeiro x Corinthians) até o embate mais comum da história (São Paulo x Atlético-MG).

Se falarmos só de partidas dos playoffs, considerando apenas classificados e eliminados (em vez do resultado das partidas individuais), será que alguma equipe se destaca? Vejamos como se saíram os brasileiros em confrontos contra conterrâneos:

Time
Classificado
Eliminado
Diferença
Fluminense
2
0
+2
Internacional
3
1
+2
Grêmio
5
3
+2
Palmeiras
6
4
+2
Atlético-MG
2
1
+1
São Paulo
7
6
+1
Cruzeiro
3
3
0
Vasco
2
2
0
Flamengo
1
1
0
Corinthians
3
4
-1
Atlético-PR
1
2
-1
Bahia
0
1
-1
Criciúma
0
1
-1
São Caetano
0
1
-1
Sport
0
1
-1
Santos
1
3
-2
Botafogo
0
2
-2

Considerando as classificações e eliminações, nenhum time se destaca muito. Entre os que disputam a Libertadores em 2015, Internacional, Atlético-MG e São Paulo têm saldo ligeiramente positivo; o Cruzeiro está neutro, e o Corinthians tem leve prejuízo. Mesmo entre as outras equipes, ninguém tem um saldo maior que +2 ou menor que -2.

A título de curiosidade, vale destacar o retrospecto do São Paulo. Além de ser o time com mais história nesse tipo de confronto (já enfrentou brasileiros em 13 oportunidades, só no mata-mata), o Tricolor foi invencível até 2006, classificando-se nas 6 vezes que jogou contra outro brasileiro. A partir da final daquele ano, no entanto, a sorte do clube se inverteu: desde então foram 6 eliminações em 7 confrontos. A única exceção aconteceu no último encontro contra o Cruzeiro, justamente o adversário que o São Paulo enfrentará neste ano.

Considerando-se todas as partidas, individualmente, também não há nenhum time grande que possa mostrar superioridade incontestável. Na verdade, o melhor retrospecto é de um pequeno: o Guarani, que venceu 5 e empatou 1 dos 6 jogos que fez contra brasileiros. Depois dele, os melhorzinhos são Cruzeiro (10 vitórias, 6 empates, 6 derrotas) e São Paulo (17 vitórias, 12 empates e 13 derrotas). Do outro lado, também não há nenhum saco de pancadas. Os piores retrospectos, de Palmeiras (14 vitórias, 10 empates, 19 derrotas) e Internacional (5 vitórias, 8 empates, 9 derrotas), não chegam a ser grandes vexames.

E, com todos esses números, pode-se apontar algum favorito para os jogos das oitavas-de-final? De jeito nenhum. Só dá para saber, como mencionado no começo do texto, que os confrontos serão bem equilibrados.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Há mais de 40 anos os grandes não tinham tanta moleza nos Estaduais

Semifinais do Campeonato Paulista: Palmeiras x Corinthians, São Paulo x Santos. Semis no Rio de Janeiro: Botafogo x Fluminense, Flamengo x Vasco. Em Minas, Cruzeiro e Atlético só não farão a final porque se encontraram nas semis; no Rio Grande do Sul, Grêmio e Inter jogarão a decisão.

Tudo óbvio, tudo dentro dos conformes. Afinal, ninguém espera que os maiores times do Brasil sejam eliminados por nanicos nos Estaduais. Mas a história mostra que não é bem assim. Se não acontecer uma zebra na final de Minas Gerais, será a primeira vez desde 1969 que nenhum dos 12 times grandes do país sofreu uma eliminação frente a um time pequeno nos Estaduais. Isso mesmo: já faz 46 anos que isso não acontece.

Primeiro, uma breve explicação sobre critérios, necessária graças aos regulamentos esdrúxulos dos Estaduais ao longo da história. “Ser eliminado por um pequeno” significa perder a vaga em uma fase posterior do torneio para um time que não seja um dos 12 grandes do Brasil. Quando se trata da fase final do campeonato, também conta como “eliminação” ficar atrás do time menor na classificação final. Por fim, em torneios com dois turnos (daqueles em que os dois campeões se enfrentam no fim), cada turno é considerado como um torneio à parte.

Respeitando esses critérios, pode-se dizer que, nos últimos 45 anos, sempre aconteceu de pelo menos um dos 12 grandes perder a vaga para um time de menor expressão. Em 2015, isso ainda não ocorreu – e só pode acontecer na final do Mineiro.

No Rio de Janeiro e em São Paulo, onde esse tipo de zebra é mais comum, a soberania dos grandes foi incontestável. Pela primeira vez desde 2009, em ambos os Estados os gigantes garantiram as 4 primeiras colocações do campeonato local (o que não impediu Vasco e Flamengo de serem eliminados pelo Resende, no 1º turno daquele ano).

Além da curiosidade estatística, a ausência total de surpresas mais uma vez confirma a total inutilidade dos campeonatos estaduais. Afinal de contas, um dos principais argumentos para a manutenção dessas relíquias no calendário é a possibilidade de times pequenos se destacarem e revelarem bons jogadores. Mas, sabendo que os pequenos têm se limitado a montar “catadões” de última hora e nem sequer têm conseguido resultados dignos de nota, por que continuar forçando os grandes a jogar contra eles?

E pior: por que forçar os torcedores a aguentar quase 3 meses de torneios absolutamente previsíveis, cujas únicas partidas que podem trazer emoção (as finais, entre os times grandes) acontecem nas últimas 2 semanas, espremidas entre jogos mais importantes da Copa Libertadores?

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Os campeonatos mais equilibrados nos últimos 20 anos


Em abril de 2011, apresentei no blog o Ranking de Equilíbrio Histórico, uma lista montada para mostrar quais torneios tiveram maior concentração na distribuição de seus títulos ao longo da história (a metodologia está explicada aqui). Mais interessante que o ranking que engloba todas as edições de um torneio, no entanto, é a lista que inclui apenas um período mais recente. Por considerar um número uniforme de edições (no caso, 20) o ranking elaborado dessa forma permite comparações mais significativas entre os diferentes torneios.


Pois bem, a lista do equilíbrio de títulos nos últimos 20 anos foi publicada em 2011. Passadas 4 temporadas, vale a pena fazer uma atualização. Vejamos:

Pos
Torneio
Índice
1
México
9,6
2
Brasil
8,0
3
Argentina
6,1
4
França
5,7
5
Japão
5,1
6
Rússia
4,3
6
Paulista
4,3
8
Itália
3,4
9
Espanha
3,3
10
Bélgica
3,1
11
Carioca
2,9
12
Turquia
2,9
13
Inglaterra
2,8
14
Holanda
2,7
15
Alemanha
2,7
16
Mineiro
2,6
17
Gaúcho
2,3
18
Escócia
2,0
19
Portugal
1,9
20
Grécia
1,5

Comparando esta lista com a que foi publicada 4 anos atrás, vemos que as quatro primeiras colocações não mudaram: México, Brasil, Argentina e França ainda são os torneios com mais equilíbrio na distribuição recente de títulos. No entanto, vale notar que o índice do Brasil caiu bastante (de 8,7 para 8,0), enquanto os outros três países tiveram um aumento. Seria esse um efeito da fórmula de pontos corridos, que cada vez ocupa mais espaço na conta brasileira?

Na parte de baixo, espanta a incrível monotonia do Campeonato Grego, com índice de apenas 1,5 (lembrando que o mínimo possível é 1,0). Esse nível baixíssimo foi alcançado graças aos 16 títulos ganhos pelo Olympiacos (os outros 4 ficaram com o Panathinaikos). Em Portugal, até houve 4 campeões diferentes, mas o índice foi baixo em virtude das 14 conquistas do Porto. Já na Escócia, nem foi preciso fazer contas: como Celtic e Rangers ganharam 10 títulos cada um, o índice só poderia ser 2,0. Com tais níveis de concentração, até os Estaduais brasileiros parecem equilibrados (o pior entre os quatro “grandes” é o Gaúcho, com 2,3).

Quem procura grande equilíbrio nos títulos deve olhar para os torneios continentais, em vez dos nacionais. Confira os índices dos principais campeonatos interclubes:

Pos
Torneio
Índice
1
Liga dos Campeões da Ásia
13,3
2
Copa Libertadores
11,8
3
Liga dos Campeões da Europa
9,0
4
Copa dos Campeões da Concacaf
8,0
5
Liga dos Campeões da África
6,9
6
Liga dos Campeões da Oceania
3,3

Tanto a Liga dos Campeões da Ásia quanto a Libertadores tiveram o incrível número de 16 campeões diferentes nos últimos 20 anos. Isso explica como alcançaram índices superiores a 10 (lembrando que, em 20 edições, o máximo valor possível seria 20 – ou seja, campeões diferentes em todos os anos). Europa, Concacaf e África também apresentam resultados muito superiores à média dos campeonatos nacionais.

É possível especular sobre o motivo: torneios disputados em mata-mata tendem a apresentar maior rotatividade de campeões. Não por acaso, o Mexicano e o Brasileiro, os dois primeiros no ranking dos campeonatos nacionais, também contam (ou contavam) com uma fase final em mata-mata. Agora imagine só quais seriam os índices dos Estaduais se fossem todos em pontos corridos...