quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Campeonato Espanhol está cada vez menos equilibrado?

Dando continuidade à análise da evolução do equilíbrio nos principais campeonatos europeus, apresento aqui os dados do Campeonato Espanhol.

A primeira impressão, motivada pelos absurdos desempenhos de Barcelona e Real Madrid em temporadas recentes, é que o Espanhol vive uma fase de extremo desequilíbrio. No entanto, o gráfico histórico traz surpresas:

*Em vermelho, o Índice de Equilíbrio de cada temporada; em preto, a linha de tendência calculada pelo Excel

Vemos que, na Espanha, a variação da tendência histórica é bem mais suave que em outros países. Na verdade, o futebol espanhol não apresenta uma direção tão clara quanto Itália e Inglaterra: há um sobe-e-desce muito forte de uma temporada para outra, o que dificulta a construção de uma linha de tendência significativa. Não por acaso, o R² (medida estatística que indica a significância da regressão calculada) é só de 0,18, enquanto nos outros países era superior a 0,50.

Calculando-se as médias do índice por décadas, uma certa oscilação fica mais visível:


Podemos dizer que houve um leve crescimento de equilíbrio até os anos 1970, e desde então a liga espanhola tem ficado cada vez mais polarizada. Essa queda, no entanto, é lenta e pouco significativa, se comparada com a de outros países.

No entanto, a sensação de que o equilíbrio está em baixa não é falsa: a temporada 2009/10 foi a mais desequilibrada de todos os tempos – o último campeonato, no entanto, recuperou-se um pouco. Ainda é cedo para afirmar que se trata de uma tendência para o futuro, mas existem motivos para preocupação.

domingo, 27 de novembro de 2011

O futebol italiano está cada vez menos equilibrado?

Ultimamente, tenho visto muitos jornalistas e torcedores dizerem que o futebol europeu está cada vez menos equilibrado. Boa parte dessas opiniões vêm de gente que entende do assunto e é acompanhada de argumentos razoáveis: é quase impossível um time pequeno ser campeão, a diferença entre ricos e pobres está cada vez maior, Barcelona e Real Madrid fazem campanhas absurdas na Espanha...

Em vista disso, fiz um pequeno levantamento para verificar se, estatisticamente, a percepção de que o futebol nas grandes ligas européias está cada vez mais polarizado se sustenta. Para isso, calculei o Índice de Equilíbrio de todas as temporadas dos três mais tradicionais campeonatos da Europa: Inglaterra, Itália e Espanha.

Os resultados na Inglaterra já foram assunto de um texto anterior. Apresento, agora, os dados da Itália; nos próximos posts, falarei da Espanha e farei um balanço da situação como um todo.

No caso da Itália, o cálculo do Índice de Equilíbrio só foi possível a partir do momento em que o campeonato passou a ser disputado por pontos corridos, ou seja, da temporada 1929/30 em diante. Para o cálculo, foi considerada a pontuação alcançada pelas equipes dentro de campo, descontando as frequentes punições que resultaram em perdas de pontos.

Assim, o Índice de Equilíbrio do Calcio ano a ano é o seguinte:

 *Em azul, o Índice de Equilíbrio de cada temporada; em preto, a linha de tendência calculada pelo Excel

Agrupando os resultados médios de cada década, temos os seguintes valores:


Os dois gráficos apresentam os mesmos resultados: um pico de equilíbrio nos anos 40 e 50, queda gradual até os anos 70 e uma leve recuperação nos anos 80, antes de despencar nas duas décadas passadas. Nos últimos 2 anos, há sinais de esperança de que um pouco de equilíbrio esteja retornando ao Calcio.

Observando os anos de maior e menor equilíbrio, também fica clara a polarização recente: a pior marca da história, 42,1%, foi alcançada na temporada 2003/4, e todos os 5 anos que ficaram abaixo de 50% estão entre 1998 e 2007. Por outro lado, as 7 temporadas que ficaram acima de 70% concentram-se entre 1938 e 1958.

Em resumo: no caso do futebol italiano, pode-se afirmar sem dúvida que o campeonato, hoje, é muito menos equilibrado do que no passado. Como consolo, há a esperança de que já tenhamos saído do “fundo do poço” – graças, em parte, ao enfraquecimento de alguns times grandes depois do escândalo do “Calciopoli”.

domingo, 20 de novembro de 2011

Os fracos líderes do Brasileirão


É clichê entre os comentaristas esportivos dizer que o Campeonato Brasileiro é equilibradíssimo. No entanto, ninguém sabe apontar os motivos desse equilíbrio, para além do manjado “o nível técnico é muito parelho”.

Aqui, neste blog, tenho tentado expor algumas causas desse equilíbrio. Em um texto anterior, mostrei como a Seleção Brasileira contribui para embolar a briga, ao tirar os melhores jogadores de seus times em 7 rodadas do torneio. Agora, trago outro dado que ajuda a explicar o equilíbrio: os times não resistem à pressão de serem líderes.

Como isso pode ser mostrado numericamente? Analisando o desempenho das equipes que estiveram na ponta do Brasileirão. Excluindo-se as duas primeiras rodadas (quando não se pode falar em líder de fato), o campeonato teve os seguintes times no topo da tabela:

- São Paulo: da 3ª à 6ª rodada;
- Corinthians: da 7ª à 23ª, da 28ª à 30ª e desde a 32ª rodada (até a 35ª, quando escrevo este texto);
- Vasco: da 24ª à 27ª e na 31ª rodada.

Vejamos, agora, qual foi o desempenho dessas equipes nas rodadas em que eles tiveram que defender a liderança (ou seja, da 4ª à 7ª para o São Paulo, a partir da 8ª para o Corinthians, e assim por diante):

- São Paulo: 2V / 0E / 2D = 6 pontos em 4 jogos
- Corinthians: 11V / 3E / 9D = 36 pontos em 23 jogos
- Vasco: 1V / 3E / 1D = 6 pontos em 5 jogos

Somando o desempenho das três equipes, temos 48 pontos em 32 partidas, ou seja, uma média de 1,5 ponto ganho por jogo. Com essa produtividade, uma equipe ocuparia, hoje, apenas a 9ª colocação no Campeonato Brasileiro – e olha que as vitórias do Corinthians nas últimas duas rodadas melhoraram a média.

Esse dado é impressionante. Seria até normal que o desempenho combinado dos líderes ficasse um pouco abaixo da pontuação do primeiro colocado. Mas a diferença no Brasileirão é assustadora. Os números deixam claro que o rendimento das equipes cai assim que elas assumem o primeiro lugar. Só não aconteceram mais trocas na liderança graças à incompetência dos segundos colocados, que muitas vezes tropeçaram junto com os líderes.

A queda de desempenho na 1ª colocação fica ainda mais clara quando comparamos os resultados de São Paulo, Corinthians e Vasco na liderança e fora dela. Vejamos:

- São Paulo: 6 pontos em 4 jogos como líder (1,5 por jogo); 47 pontos em 31 outros jogos (1,52)
- Corinthians: 36 pontos em 23 jogos como líder (1,57 por jogo); 28 pontos em 12 outros jogos (2,33)
- Vasco: 6 pontos em 5 jogos como líder (1,2 por jogo); 56 pontos em 30 outros jogos (1,87)

Dos três times, só o São Paulo não viu seu aproveitamento despencar enquanto esteve na liderança (isso porque a campanha do Tricolor foi medíocre durante todo o campeonato). Já Vasco e Corinthians viram seu aproveitamento cair mais de 30% nas rodadas em que tiveram que lidar com o peso da liderança.

E esse padrão é bom ou ruim para o campeonato? Em termos de emoção, claro, é ótimo, pois aumenta muito o interesse na disputa pela liderança. Em termos técnicos, no entanto, é ruim. Essa enorme oscilação leva a crer que os times que chegaram ao topo da tabela não são genuinamente fortes, apenas aproveitaram bons momentos de alguns jogadores. O fim da “hot streak”, acompanhada da pressão pela ponta, faz o líder tropeçar em série, até finalmente perder o primeiro lugar. Assim, fica-se com a impressão de que o Campeonato Brasileiro não é equilibrado, é aleatório.

Update: neste domingo, o Corinthians ganhou a terceira partida seguida, melhorando um pouquinho o aproveitamento dos líderes - mas não invalida nada do que está escrito aqui. Pelo contrário: se o alvinegro realmente for campeão, o terá feito por ser o único a conseguir segurar a liderança em meio à pressão.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Brasileirão da Seleção

Depois de vários amistosos sem utilidade, futebol fraco e alguns vexames, finalmente estamos chegando ao fim do calendário da Seleção Brasileira em 2011. Nestas duas últimas partidas, pela primeira vez, a CBF decidiu não convocar atletas que jogam aqui no Brasil – embora isso torne esses jogos ainda mais inúteis, a decisão é boa para o Brasileirão.

Ao contrário do que aconteceu das outras vezes, agora o Campeonato Brasileiro não será prejudicado pelo time de Mano Menezes. Entre amistosos e Copa América, a Seleção desfalcou os times daqui em nada menos que 7 rodadas do Nacional (isso em uma estimativa conservadora): a 3ª, 8ª, 9ª, 10ª, 21ª, 28ª e 29ª.

Quais será que foram os times que mais sofreram com a Seleção? Vejamos como fica a tabela montada a partir dos resultados dessas 7 rodadas:

Pos
Time
Pts
V
Saldo
1
Santos
16
5
+3
2
Coritiba
15
5
+8
3
São Paulo
13
4
+5
4
Corinthians
13
4
+4
5
Flamengo
12
3
+1
6
Internacional
11
3
+1
7
Grêmio
10
3
+2
8
Atlético-MG
10
3
0
9
Ceará
10
2
+4
10
Palmeiras
10
2
+3
11
Fluminense
9
3
-1
12
Cruzeiro
9
2
+1
13
Avaí
9
2
0
14
Figueirense
8
2
0
15
América-MG
8
2
-2
16
Vasco
7
2
-8
17
Bahia
7
1
-1
18
Botafogo
7
1
-2
19
Atlético-GO
2
0
-8
20
Atlético-PR
2
0
-10

Essa tabela deve ser analisada com cuidado. Afinal, os resultados não podem ser creditados apenas aos desfalques da Seleção Brasileira. Mas algumas constatações são válidas. Por exemplo, chama a atenção o fato de o Santos ser o time de melhor performance nas rodadas em questão. Lembremos que o Peixe teve dois jogos adiados, de maneira que a equipe não sofresse com os desfalques. Aparentemente, a estratégia funcionou. O Coritiba também teve aproveitamento de campeão, embora, neste caso, seja mais difícil apontar a Seleção como causa (embora o Coxa praticamente não tenha perdido jogadores nas convocações).

No lado de baixo, chamam a atenção os candidatos ao título Vasco e Botafogo, que fizeram campanhas dignas de rebaixamento nas 7 rodadas em questão. Os piores desempenhos, porém, foram de Atlético-GO e Atlético-PR, por larga margem. Nestes dois casos, também é difícil colocar a culpa em Mano Menezes.

A título de curiosidade, veja como estaria a classificação do Campeonato Brasileiro (até a 33ª rodada) se excluíssemos as rodadas nas quais a Seleção também esteve em campo:

Pos
Time
Pts
V
Saldo
Diferença
1
Vasco
51
14
+20
+1
2
Botafogo
48
15
+13
+2
3
Fluminense
47
15
+7
0
4
Corinthians
45
13
+9
-3
5
Figueirense
45
12
+5
+1
6
Flamengo
43
11
+12
-1
7
Atlético-GO
40
11
+10
+5
8
Internacional
40
10
+12
-1
9
São Paulo
37
9
+1
-1
10
Grêmio
36
10
-6
+1
11
Coritiba
33
8
+6
-1
12
Santos
32
9
0
-3
13
Bahia
32
8
-4
+2
14
Atlético-PR
32
8
-7
+4
15
Palmeiras
31
7
-2
-2
16
Atlético-MG
29
8
-8
-2
17
Cruzeiro
25
7
-10
0
18
Ceará
25
7
-20
-2
19
Avaí
20
5
-25
0
20
América-MG
20
3
-13
0

Em relação à tabela real, a mais importante mudança é a queda do Corinthians, que ficaria a 6 pontos do líder Vasco. O Atlético-PR estaria fora da zona de rebaixamento, relativamente confortável em 14º, e o Atlético-GO seria o time que mais subiria: 5 posições, chegando a 7º.