segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Gerd Müller foi um jogador decisivo?

Gerd Müller foi um dos maiores atacantes da história do futebol mundial. Aqui no Brasil, o alemão costuma ser lembrado como o jogador que detinha o recorde de gols em Copas do Mundo superado por Ronaldo em 2006. Desvalorizado por não fazer jogadas de efeito e por ser um dos expoentes da época em que a Alemanha jogava “algo parecido com futebol” (de acordo com comentaristas esportivos ignorantes), Müller é muitas vezes tratado, por aqui, como um astro de segunda linha. No entanto, seus números e sua brilhante carreira mostram que ele não deve nada a outros gênios da grande área, como Puskas e Romário, principalmente no que diz respeito a jogos decisivos.

Neste texto, sigo com a série de análises sobre o desempenho de grandes jogadores da história em partidas decisivas. Nos posts anteriores, falei sobre os brasileiros Romário e Ronaldo e sobre o húngaro Ferenc Puskas.

Para fazer essas avaliações, pesquisei a carreira de cada atleta e montei duas listas. Uma apresenta o desempenho em finais, incluindo placares e gols marcados. Outra mostra os resultados nos jogos de mata-mata, a partir das oitavas-de-final, considerando apenas vitórias e derrotas. Em ambos os cálculos, foram contados os números das seleções principais e olímpica e de todas as competições de clubes, excluindo as Supercopas nacionais e torneios amistosos. Nos dados referentes a mata-mata, como nem sempre as escalações das partidas estão disponíveis, partiu-se da suposição de que o atleta em questão sempre participou dos jogos, a não ser quando estivesse sabidamente suspenso ou machucado.

Os resultados


Vejamos como Gerd Müller se saiu nas finais que disputou:

Final (Ano)
Resultado
Gols
Copa da Alemanha (1966)
4x2 Meidericher
0
Copa da Alemanha (1967)
4x0 Hamburg
2
Recopa (1967)
1x0 Rangers
0
Copa da Alemanha (1969)
2x1 Schalke 04
2
Copa da Alemanha (1971)
2x1 Colônia
0
Eurocopa (1972)
3x0 União Soviética
2
Liga dos Campeões (1974)
5x1 Atlético de Madrid*
2
Copa do Mundo (1974)
2x1 Holanda
1
Liga dos Campeões (1975)
2x0 Leeds
1
Supercopa Europeia (1975)
0x3 Dynamo Kiev*
0
Liga dos Campeões (1976)
1x0 St. Etienne
0
Supercopa Europeia (1976)
3x5 Anderlecht*
3
Mundial de Clubes (1976)
2x0 Cruzeiro*
1
Campeonato Norte-Americano (1980)
0x3 New York Cosmos
0
*Final disputada em 2 jogos

Nos jogos de mata-mata, Müller teve o seguinte desempenho:

Equipe
Vitórias
Derrotas
%
Alemanha Ocidental
4
1
80,0%
Bayern de Munique
50
15
76,9%
Fort Lauderdale Strikers
5
3
62,5%
TOTAL
59
19
75,6%

Análise


Crédito: NL-HaNA, ANEFO / neg. stroken
MÜLLER: decisivo pela seleção
e pelo Bayern de Munique
Como todos os outros jogadores analisados nesta série, Gerd Müller não é perfeito. Mas seus números são bem impressionantes e não ficam a dever para nenhum outro craque. O atacante esteve presente em 14 finais, das quais venceu 11 – vale dizer que as 3 perdidas são, provavelmente, as menos importantes que disputou (2 Supercopas e 1 Liga dos EUA). O alemão não só ganhou a grande maioria das decisões, como também foi impactante: fez um total de 14 gols nessas 18 partidas, incluindo alguns importantíssimos, como os 2 na final da Euro-72 e o gol do título da Copa de 1974.

Pela seleção alemã, aliás, Müller esteve perto da perfeição. Sua única derrota em mata-mata aconteceu na lendária semifinal da Copa de 1970, frente à Itália. Nos dois torneios seguintes, foi campeão. Seus números com a camisa branca só não são mais impressionantes porque, na época, os torneios contavam com poucas partidas eliminatórias (foram só 2 na Euro-72 e 1 na Copa de 1974).

Nas partidas de mata-mata em geral, Müller teve um aproveitamento excelente: são mais de 3 vitórias para cada derrota. Poucos craques conseguem superar essa proporção. Embora não tenha sido o jogador mais refinado da história, Müller tem números que mostram que teve talento mais que suficiente para figurar ao lado dos maiores de todos os tempos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Ferenc Puskas foi um jogador decisivo?



Ferenc Puskas foi, sem dúvida, um dos maiores artilheiros da história. O húngaro participou de três equipes lendárias: o Honved e a seleção húngara, na década de 1950, e o Real Madrid do início dos anos 1960. Com ótimo aproveitamento e auxiliado por grandes esquadrões, Puskas tornou-se um dos jogadores que mais fez gols na história. Mas será que, nas partidas decisivas, seu desempenho se manteve alto?

Neste texto, sigo com a série de análises sobre o desempenho de grandes jogadores da história em partidas decisivas. Nos posts anteriores, falei sobre os brasileiros Romário e Ronaldo.

Para fazer estas avaliações, pesquisei a carreira de cada atleta e montei duas listas. Uma apresenta o desempenho em finais, incluindo placares e gols marcados. Outra mostra os resultados nos jogos de mata-mata, a partir das oitavas-de-final, considerando apenas vitórias e derrotas. Em ambos os cálculos, foram contados os números das seleções principais e olímpica e de todas as competições de clubes, excluindo as Supercopas nacionais e torneios amistosos. Nos dados referentes a mata-mata, como nem sempre as escalações das partidas estão disponíveis, partiu-se da suposição de que o atleta em questão sempre participou dos jogos, a não ser quando estivesse sabidamente suspenso ou machucado.

Os resultados


Vejamos como Puskas se saiu nas finais que disputou:

Final (Ano)
Resultado
Gols
Olimpíada (1952)
2x0 Alemanha Ocidental
1
Copa do Mundo (1954)
2x3 Alemanha Ocidental
1
Liga dos Campeões (1959)
2x0 Stade Reims
0
Copa da Espanha (1960)
1x3 Atlético de Madrid
1
Liga dos Campeões (1960)
7x3 Eintracht Frankfurt
4
Copa da Espanha (1961)
2x3 Atlético de Madrid
1
Copa da Espanha (1962)
2x1 Sevilla
2
Liga dos Campeões (1962)
3x5 Benfica
3
Liga dos Campeões (1964)
1x3 Internazionale
0

Nos jogos de mata-mata, Puskas obteve o seguinte desempenho:

Equipe
Vitórias
Derrotas
%
Hungria
4
1
80,0%
Honved*
0
1
0,0%
Real Madrid
34
11
75,6%
TOTAL
38
13
74,5%
*Não foi possível encontrar informações sobre as 3 Copas da Hungria disputadas com o Honved

Análise


PUSKAS: 13 gols marcados em
9 finais disputadas
A análise sobre a carreira de Puskas em jogos importantes fica um pouco prejudicada pela estrutura do futebol europeu na época em que ele atuava pelo Honved: não havia copas internacionais de clubes, e mesmo a Copa da Hungria era incipiente. Assim, seus números em mata-mata ficam restritos aos anos de Real Madrid, além dos dois torneios disputados pela seleção húngara.

Feitas as ressalvas, a média de aproveitamento de Puskas é boa: são praticamente 3 vitórias para cada derrota (muito melhor que Ronaldo e Romário, por exemplo). No entanto, vale lembrar que o grosso dos triunfos ocorreu em um time que costuma ser apontado como o melhor de todos os tempos.

Nas finais disputadas por Puskas é que aparecem seus números mais interessantes. Em termos de vitórias, seu desempenho não é bom – perdeu 5 das 9 decisões que disputou, a maioria das derrotas frente a times mais fracos. No entanto, chama a atenção o número de gols marcados: foram 13 em 9 partidas, média de quase 1,5 por jogo, muito acima da registrada por qualquer outro dos craques que foram analisados nesta série.

No geral, pode-se dizer que, em jogos decisivos, Puskas confirma a fama de ter sido um dos maiores jogadores da história. É uma pena que ao longo de boa parte de sua carreira não existissem mais torneios de mata-mata, o que permitiria uma amostragem maior e uma comparação mais igualitária com outros craques. Mas, nas oportunidades que teve, o Major Galopante brilhou e esteve à altura de seu status na história do futebol.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Ronaldo “Fenômeno” foi um jogador decisivo?

Ronaldo, o “Fenômeno”, costuma figurar nas listas de maiores atacantes da história do futebol brasileiro – e até do futebol mundial. Uma polêmica comum, que costuma opor cariocas e paulistas, é sobre se ele foi ou não melhor que outro craque recente da Seleção, o “Baixinho” Romário. De fato, são dois goleadores indiscutíveis, com números impressionantes e fama de serem decisivos, mas que tiveram a carreira prejudicada por contusões.

No texto passado, analisei a carreira de Romário sob o ponto de vista de seu desempenho em jogos decisivos. Agora é a vez de Ronaldo. Será que, nos momentos mais importantes, ele foi melhor que seu antecessor?

Para fazer estas avaliações, pesquisei a carreira de cada atleta e montei duas listas. Uma apresenta o desempenho em finais, incluindo placares e gols marcados. Outra mostra os resultados nos jogos de mata-mata, a partir das oitavas-de-final, considerando apenas vitórias e derrotas. Em ambos os cálculos, foram contados os números das seleções principais e olímpica e de todas as competições de clubes, excluindo as Supercopas nacionais e torneios amistosos. Nos dados referentes a mata-mata, como nem sempre as escalações das partidas estão disponíveis, partiu-se da suposição de que o atleta em questão sempre participou dos jogos, a não ser quando estivesse sabidamente suspenso ou machucado.

Os resultados


Vejamos como Ronaldo se saiu nas finais que disputou:

Final (Ano)
Resultado
Gols
Recopa Sul-Americana (1993)
0x0* São Paulo**
0
Copa da Holanda (1996)
5x2 Sparta
0
Recopa Europeia (1997)
1x0 Paris Saint-Germain
1
Copa América (1997)
3x1 Bolívia
1
Copa das Confederações (1997)
6x0 Austrália
3
Copa Uefa (1998)
3x0 Lazio
1
Copa do Mundo (1998)
0x3 França
0
Copa América (1999)
3x0 Uruguai
1
Copa do Mundo (2002)
2x0 Alemanha
2
Campeonato Paulista (2009)
4x2 Santos**
2
Copa do Brasil (2009)
4x2 Internacional**
1
*Derrota nos pênaltis
**Final disputada em 2 jogos

Em jogos de mata-mata, o desempenho de Ronaldo é o seguinte:

Equipe
Vitórias
Derrotas
%
Brasil
17
3
85,0%
Cruzeiro
1
2
33,3%
PSV
3
2
60,0%
Barcelona
7
0
100,0%
Internazionale
9
5
64,3%
Real Madrid
8
7
53,3%
Milan
1
1
50,0%
Corinthians
6
1
85,7%
TOTAL
52
21
71,2%

Análise


RONALDO: espetacular na Seleção,
irregular nos clubes
Assim como Romário, Ronaldo foi mais decisivo quando jogou pela Seleção Brasileira. Com a camisa amarela, ganhou 4 títulos, além de um vice-campeonato mundial. Com 85% de aproveitamento em mata-mata e 6 gols nas 5 finais que disputou, Ronaldo mais que justifica a alcunha de “Fenômeno” pelo Brasil.

Já no futebol de clubes, a história de Ronaldo não é tão brilhante. Na média, seus resultados são apenas razoáveis: 35 vitórias e 18 derrotas em confrontos de mata-mata. Vale destacar que esse desempenho está longe de ser uniforme. Em jogos decisivos, Ronaldo teve duas temporadas excepcionais: foram 7 vitórias em 1996/97, pelo Barcelona, e 6 vitórias pelo Corinthians, em 2009. No resto do tempo, o “Fenômeno” foi medíocre, com 22 triunfos e 19 derrotas.

Mais do que Romário, o histórico de Ronaldo foi muito prejudicado por suas contusões – e também por algumas escolhas de carreira equivocadas. O maior erro do jogador foi ter deixado o Barcelona, onde estava muito bem, para juntar-se a uma Internazionale que vivia sob o peso de uma enorme “seca” de títulos. Some-se a isso as sérias contusões que vieram nos anos seguintes, e o jogador nunca mais conseguiu brilhar de maneira consistente – apesar de alguns momentos espetaculares pelo caminho.

No geral, dá para dizer, sim, que Ronaldo foi um jogador decisivo. Não é coincidência que o jogador tenha vencido 9 das 11 finais que disputou, com o excelente retrospecto de 12 gols marcados nesses 14 jogos (se contarmos só do Barcelona em diante, a média chega a 1 gol por partida). No entanto, é inegável que ainda faltou “algo a mais” para que Ronaldo pudesse ser considerado um verdadeiro “Fenômeno” em todas as decisões.