quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Curiosidades sobre o ranking de equilíbrio

A criação do ranking de equilíbrio dos campeonatos deve ter levantado uma curiosidade em muita gente: qual seria o torneio mais equilibrado de todos os tempos?
A RSSSF tem uma página dedicada a esse assunto. E um dos torneios indicados por ela parece ser mesmo o campeão de todos os tempos. Trata-se do Campeonato Marroquino de 1965/6, que alcança um incrível índice de equilíbrio de 92,75%.
Esse fato é um indício bem forte de que nível de equilíbrio não tem nada a ver com qualidade técnica, não é? Ou alguém acha que o Campeonato Marroquino nos anos 1950 era fortíssimo? Aliás, se equilíbrio fosse sinal de qualidade, teríamos que dizer que a Série B do Brasileirão foi melhor que a Série A em 2010!
No outro extremo do (des)equilíbrio, o torneio mais desnivelado que já testei é o lanterna do post anterior, ou seja, o Campeonato Holandês 2009/10, com apenas 31,12% de equilíbrio. Mas certamente deve haver torneios mais desequilibrados do que esse.
Se algum leitor tiver sugestões de outros campeonatos que possam ter alcançado índices mais altos que 92,75% ou mais baixos que 31,12%, é só me mandar o link para a tabela que eu faço o cálculo! (lembrando que só valem torneios por pontos corridos, independentemente do número de times participantes e de turnos disputados)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O campeonato mais equilibrado do mundo

Todo ano ouvimos na imprensa repetitivos elogios à emoção e ao equilíbrio do Campeonato Brasileiro, que por isso seria um dos melhores torneios do mundo, já que não é previsível como os “chatos” campeonatos europeus.
Nem precisa de muito senso crítico para perceber que não existe nenhuma correlação entre a qualidade técnica e o equilíbrio de uma competição (afinal, o campeonato pode ser equilibrado porque todos os times são bons ou porque todos são ruins). Mas em um aspecto o clichê da imprensa está certo: o Brasileirão é mesmo o campeonato mais equilibrado do mundo!
Essa conclusão vem do Ranking de Equilíbrio dos Campeonatos de Futebol, que eu criei com base no Índice de Gini. Esse índice é usado em economia para medir a desigualdade na distribuição de renda de um país. A lógica do ranking é análoga: em vez da renda, avaliou-se a desigualdade na distribuição de pontos na tabela final dos campeonatos.
É importante notar que, quando se fala de equilíbrio de um campeonato, muita gente pensa só na emoção da disputa pelo título. Só que essa é uma visão parcial: no Espanhol deste ano, por exemplo, a briga pelo título está equilibradíssima, mas existe um abismo separando os dois primeiros colocados do resto. O ranking baseado no Índice de Gini vai além da disputa pelo título e realmente considera o equilíbrio de todas as equipes participantes, do primeiro ao último colocado.
Na tabela a seguir, o nível de equilíbrio foi expresso em porcentagens. Assim, um torneio 100% equilibrado seria um no qual todos os times terminassem o campeonato com a mesma pontuação. E o que seria um torneio com 0% de equilíbrio? Seria aquele em que sempre dá a lógica, ou seja, o melhor time vence todos os jogos. Assim, teríamos uma tabela final em que o lanterna ficou com 0 pontos, o penúltimo teve 6 (supondo um torneio com dois turnos), o antepenúltimo ganhou 12 e assim por diante, até chegar no líder, que teve 100% de aproveitamento. Essa conclusão nem sempre é intuitiva, mas é realmente impossível um campeonato mais desequilibrado do que isso.
Não vou me alongar mais na explicação da metodologia do ranking, que é meio complicada. Se você quiser entender direitinho como os cálculos foram feitos, é só clicar aqui.
No ranking abaixo, são considerados os resultados finais da temporada 2009/10 (ou 2010, para os países que seguem o calendário solar). Escolhi só os campeonatos mais relevantes e também descartei os que não usam fórmulas de pontos corridos. Dessa forma, o ranking ficou assim:
País
Equilíbrio
Brasil (Série B)
74,35%
Brasil (Série A)
63,24%
Turquia
58,36%
Itália
56,15%
Rússia
55,24%
Japão
54,25%
França
54,24%
Alemanha
54,07%
Argentina
52,67%
Escócia
50,39%
Grécia
49,61%
Espanha
49,24%
Bélgica
47,54%
Inglaterra
45,13%
Coreia do Sul
43,75%
Portugal
40,02%
Ucrânia
36,73%
Holanda
31,12%


É impressionante que, em 18 campeonatos pesquisados, o único torneio mais equilibrado que o Brasileirão é o “Brasileirinho”, ou seja, a Série B do nosso campeonato. Não só os torneios do Brasil são os mais equilibrados, como também existe uma diferença considerável em relação aos campeonatos que vêm depois.
O ranking também comprova algumas percepções comuns. Na base da tabela, estão três campeonatos que são tradicionalmente conhecidos pelo desequilíbrio entre grandes e pequenos (embora na Holanda, curiosamente, um dos “pequenos” é que foi campeão). Também é interessante perceber que a Inglaterra, que costumava ser um torneio bastante equilibrado (até os anos 1990, o índice raramente caía abaixo de 60%), agora está se aproximando dos mais desequilibrados do mundo.
Vale notar que esses resultados são relativamente estáveis ao longo dos anos. Pegando as tabelas da temporada anterior, descobre-se que os três torneios mais equilibrados foram, na ordem, o Brasileirão (Série A), o Japonês e o Brasileirinho (Série B). No pé da tabela, os piores foram o Ucraniano, o Grego e o Português – ou seja, não houve diferenças radicais em relação a este ano.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tradição dos times do Brasileirão-2011

A exemplo do que foi feito no ranking do Inglês, aqui vai um gráfico para mostrar quanta “tradição” têm os times que vão disputar o próximo Campeonato Brasileiro, com base no ranking histórico. Veja só:

Dá para ver que, entre os “grandes”, há dois patamares bem definidos, com o Vasco colocado em um nível intermediário entre os dois. Depois, destacam-se três times médios (Atlético-PR, Coritiba e Bahia), sendo que Fluminense e Botafogo fazem uma espécie de “transição” entre os “grandes” e os intermediários. Por fim, há cinco “pequenos”, que estão muito atrás do resto.
Quem gosta de torcer para os times mais tradicionais deve, então, esperar que Atlético-GO, Avaí, América-MG e Figueirense caiam. Para o lugar deles, os mais tradicionais hoje na Segundona são Guarani, Sport, Goiás e Vitória. Se fossem exatamente esses os promovidos e rebaixados, teríamos 19 dos 20 times mais tradicionais do Brasil na primeira divisão, faltando só a Portuguesa (no lugar do Ceará) para completar o grupo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Mais sobre o ranking do Brasileirão

A título de curiosidade, vale a pena publicar uma tabela indicando qual o time de maior tradição no Campeonato Brasileiro em cada Estado. Vejam só a lista:
UF
Tim
Pontos
AL
CSA
39
AM
Nacional
48
BA
Bahia
329
CE
Ceará
74
DF
Gama
24
ES
Desportiva
44
GO
Goiás
314
MA
Sampaio Corrêa
18
MG
Atlético
783
MS
Operário
101
MT
Mixto
25
PA
Paysandu
81
PB
Botafogo
23
PE
Sport
327
PI
Tiradentes
18
PR
Atlético
385
RJ
Flamengo
1.008
RN
América
50
RS
Internacional
978
SC
Figueirense
73
SE
Sergipe
22
SP
São Paulo
1.267

*Os outros cinco Estados (Tocantins, Acre, Roraima, Rondônia e Amapá) nunca tiveram times na primeira divisão
Vale lembrar que a tabela só leva em conta o Brasileirão pós-71 e não inclui sucessos das equipes em outros torneios, como os Estaduais, Libertadores, etc.
Em alguns Estados, a corrida está bem apertada: só 20 pontos separam Atlético e Cruzeiro em Minas; igual é a vantagem do Atlético sobre o Coritiba, no Paraná (até 2009, o Coxa estava na frente); e o Paysandu só está 6 pontos à frente do Remo, no Pará.
Mais uma curiosidade: se esta tabela fosse usada como critério para escolher as 12 sedes da Copa de 2014 (o que não é algo tão disparatado, já que ela reflete um pouco da tradição de cada Estado), teríamos quatro mudanças: cairiam fora Natal, Manaus, Brasília e Cuiabá, e entrariam Florianópolis, Goiânia, Belém e Campo Grande. Faria mais sentido, não faria?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ranking histórico do Campeonato Brasileiro


Depois do ranking histórico do Inglês, agora é a vez de descobrir quais são os times de maior tradição no Campeonato Brasileiro.
A metodologia para montar o ranking é a mesma do Inglês (100 pontos para o campeão, 100/2 para o vice, etc.), que é explicada em mais detalhes neste link. No entanto, como a história do Brasileirão é muito mais atribulada, é preciso explicar alguns critérios que foram usados:
1. Este ranking trata só do Campeonato Brasileiro propriamente dito, a partir de 1971. Pretendo fazer futuramente rankings da Taça Brasil e do Robertão (e um somando os três torneios), mas, por enquanto, só tenho este.
2. Nas fases de grupos, para ordenar os times eliminados, foi usada a colocação deles (e depois o número de pontos, saldo de gols, etc.) na própria fase, desconsiderando as etapas anteriores. Em mata-matas, foi considerada a campanha completa, quando todas as equipes disputaram o mesmo número de jogos; se esse não foi o caso, também foi considerada apenas a fase em questão. Em anos em que havia “grupos dos perdedores”, os times eliminados nesses grupos sempre foram colocados atrás dos que foram eliminados nos “grupos dos vencedores” (sim, esses critérios são bem complicados, mas não tem outro jeito – além disso, o impacto deles na classificação final é pequeno).
3. Ganharam pontos todos os times que participaram da primeira divisão. Em vários anos, clubes da Taça de Prata / Módulo Amarelo / etc. ganharam vagas em fases avançadas na briga pelo título. Nesses casos, só pontuaram os times que foram efetivamente alçados à elite – ou seja, os que foram eliminados na disputa da Taça de Prata / Módulo Amarelo / etc. não ganharam pontos.
4. Isso nos leva à maior polêmica de todas: o campeonato de 1987. Por analogia, ao critério nº 3, considerei o resultado final da Copa União (1º ao 16º) para distribuir os pontos. Além disso, o Sport também foi considerado campeão, e o Guarani, vice. Os outros times que disputaram o Módulo Amarelo não receberam pontos.
Considerando tudo isso, o ranking ficou assim (apresento só os 30 primeiros dentre os 129 [!!!] times que disputaram o Brasileirão; também aparecem todas as equipes que participaram/ão do Brasileiro em 2010 e 2011):
Pos.
Time
Pontos
1
São Paulo
1.267,42
2
Flamengo
1.008,29
3
Internacional
978,23
4
Corinthians
937,37
5
Palmeiras
929,27
6
Vasco
868,46
7
Grêmio
798,07
8
Santos
790,83
9
Atlético-MG
782,89
10
Cruzeiro
762,64
11
Fluminense
648,62
12
Botafogo
554,77
13
Guarani
464,70
14
Atlético-PR
385,22
15
Coritiba
365,84
16
Bahia
329,06
17
Sport
326,55
18
Goiás
314,23
19
Vitória
268,10
20
Portuguesa
266,69
21
Ponte Preta
184,06
22
São Caetano
158,37
23
Santa Cruz
147,68
24
Náutico
144,51
25
Bragantino
142,82
26
Paraná
136,12
27
América-RJ
117,00
28
Juventude
114,38
29
Operário-MS
101,33
30
Bangu
84,75
33
Ceará
73,60
34
Figueirense
73,27
36
América-MG
54,40
47
Avaí
32,12
70
Atlético-GO
15,16
72
Grêmio Prudente
14,09


Por ser um torneio “jovem”, nota-se que o número de pontos das equipes é bem inferior ao do Campeonato Inglês. Mesmo assim, o São Paulo conseguiu abrir uma liderança razoável, que lhe garante o primeiro lugar por pelo menos mais dois anos (o Tricolor lidera desde 1999). O baixo número de edições também permite que times pequenos que tiveram um breve período de sucesso (como São Caetano, Bragantino e Operário-MS) apareçam em posições de certo destaque.
O ranking confirma a lista dos 12 clubes em geral considerados “grandes” no País, que são os que ocupam as 12 primeiras posições no ranking. O melhor time de fora desse grupo é o Guarani, que também é o melhor que não estará na primeira divisão em 2011. Os 17 campeões brasileiros ocupam os primeiros 17 lugares – o melhor clube que nunca foi campeão é o Goiás, que também nunca foi vice (ficou em 3º só em 2005).