segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Equilíbrio na Escócia: baixo, mas já foi menor


Após um hiato de mais de um ano e meio, volto a falar sobre as tendências históricas de (des)equilíbrio em alguns dos campeonatos europeus. Depois de apresentar Inglaterra, Itália, Espanha, França, Alemanha e Portugal, agora mostro como se comporta o Campeonato Escocês.

O futebol escocês tem marcado predomínio da dupla Rangers e Celtic durante toda sua história. Dessa forma, nunca foi um campeonato equilibrado. E hoje a história não é diferente. Vejamos a evolução do Índice de Equilíbrio (cliqueaqui para entender como ele é calculado):

 Em azul, os resultados de cada temporada; em preto, a linha de tendência calculada pelo Excel


O Campeonato Escocês teve em seus primórdios índices baixíssimos – não por acaso, todos os 5 menores valores do índice na história foram registrados no século XIX. Gradualmente, o torneio se equilibrou, chegando ao auge entre os anos 1930 e 1950. Daí em diante, houve uma leve queda no índice, mas sem chegar perto dos recordes originais.

Nos últimos anos, há até uma tendência de aumento no nivelamento, mas este pode ser atribuído à crise financeira do Rangers (e, em menor grau, também do Celtic), que trouxe o gigante para mais perto do resto da liga e levou ao rebaixamento da equipe para a 4ª divisão em 2012.

Podemos entender muito sobre o atual estágio do futebol europeu quando comparamos a evolução do equilíbrio na Escócia com o mesmo índice na Inglaterra, país que costumava ter um campeonato muito equilibrado:


Azul: Campeonato Escocês; Vermelho: Campeonato Inglês

Veja que interessante: tanto a Escócia quanto a Inglaterra tiveram o auge do equilíbrio entre os anos 1930 e 1950. Depois disso, no entanto, o Inglês se polarizou tanto que hoje vê seu índice abaixo do Escocês – algo que seria impensável até os anos 1990.

A evolução do equilíbrio na Escócia é parecida com a de outras ligas com as mesmas características, como Holanda e Portugal. Veja abaixo:

Azul: Escócia; Laranja: Holanda; Vermelho: Portugal

O que isso quer dizer? Significa que países que sempre tiveram o campeonato dominado por dois ou três “gigantes” não veem grandes mudanças nos últimos anos em relação ao passado – eles não são equilibrados, mas também nunca foram. O que acontece é que ligas importantes onde já houve bastante equilíbrio – e o melhor exemplo é a Inglaterra – viram nas últimas duas décadas o mesmo fenômeno de polarização e hoje são dominadas por apenas dois ou três times, assim como os países de menor expressão.

A boa notícia é que essa falta de equilíbrio não matou o futebol da Escócia, em mais de 100 anos de história, e também não vai matar o Inglês, o Espanhol ou o Italiano. A má notícia é que a Escócia mostra que, uma vez que o campeonato se torna desequilibrado, não há mais volta (a não ser que os gigantes se "autodestruam", mas essa já é outra história). Infelizmente, todos os grandes campeonatos europeus embarcaram nesse caminho. Equilíbrio? Só na Liga dos Campeões – e olhe lá.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Os 40 gols de Neymar pela Seleção Brasileira


Na última semana, Neymar chegou à notável marca de 40 gols marcados pela Seleção Brasileira, tornando-se o 5º maior artilheiro na história do país, com apenas 22 anos de idade. Bastou isso para o craque já ser comparado com Pelé, que atingiu a marca com a mesma idade (embora dois meses mais jovem).

É esse tipo de exagero que faz com que muita gente pegue bronca de Neymar. Ele é um craque, indiscutivelmente, e certamente será o maior nome do Brasil por vários anos. Mas essa insistência em querer coloca-lo, já, entre os grandes da história é irritante e constrangedoramente prematura.

O desempenho de Neymar nos últimos dois jogos da Seleção é sintomático de como esses 40 gols pelo Brasil foram alcançados. O atacante não marcou nenhuma vez contra a Argentina (embora não tenha jogado mal) e fez 4 gols contra o Japão. Não por acaso, de todos os gols marcados por Neymar com a camisa amarela, apenas 5 vieram contra adversários fortes (1 contra a Alemanha, 1 contra a Espanha, 1 contra a Itália e 2 contra uma seleção argentina formada só por jogadores que atuavam no campeonato local).

Antes de poder ser comparado a Pelé, Neymar teria que superar os grandes jogadores da atualidade, o que já é tarefa bem difícil. No total de gols marcados, a comparação com Messi (44 gols) e Cristiano Ronaldo (51) até que a favorável, dado que os dois astros são mais velhos. Mas, novamente, quando vemos em que situação foram marcados os gols, a história muda de figura. Confira:

Neymar
Torneio
Gols
%
Amistosos
30
75%
Copa do Mundo
4
10%
Copa das Confederações
4
10%
Copa América
2
5%

Messi
Torneio
Gols
%
Amistosos
23
52%
Eliminatórias Copa do Mundo
14
32%
Copa do Mundo
5
11%
Copa América
2
5%

Cristiano Ronaldo
Torneio
Gols
%
Eliminatórias Eurocopa
16
31%
Eliminatórias Copa do Mundo
15
29%
Amistosos
11
22%
Eurocopa
6
12%
Copa do Mundo
3
6%

Para referência, veja em que competições Pelé marcou seus gols pelo Brasil:

Pelé
Torneio
Gols
%
Amistosos
52
67%
Copa do Mundo
12
15%
Copa América
8
10%
Eliminatórias Copa do Mundo
6
8%

Enquanto Neymar fez 75% de seus gols em amistosos, Messi marcou apenas 52%, e Cristiano Ronaldo baixíssimos 22% (Pelé fez 67%). Ou seja, o Neymar não perdeu a chance de inflar suas estatísticas em jogos que não valem nada, muitas vezes contra adversários fracos (como nos 7 gols contra o Japão, 3 contra África do Sul e 3 contra a China).

Analisando a força dos adversários contra os quais os gols foram marcados, Neymar, como já dito, fez apenas 5 de seus 40 (12,5%) contra times de primeiro nível, enquanto Messi marcou 11 de 44 (25%). Pelo menos nesse aspecto, o brasileiro fica à frente de Cristiano Ronaldo, que só conseguiu marcar 4 vezes (8% do total) contra seleções de elite. Pelé, novamente, fica à frente de todos, com 35% dos gols feitos em jogos difíceis (para estas contas, considerei como “times fortes” os 8 campeões mundiais mais a Holanda).

Não se trata, aqui, de criticar Neymar nem desmerecer seu feito com a camisa da Seleção. Mesmo enfrentando adversários fracos, pouquíssimos jogadores contemporâneos – nenhum deles brasileiro – chegam perto de sua marca. O que não se pode é comparar, a sério, um jogador que tem pela Seleção só um título de Copa das Confederações e 10 gols em partidas oficiais com grandes ídolos da história, como Zico, Garrincha, ou mesmo Romário e Ronaldo (isso para não falar do ridículo de compará-lo a Pelé). Um dia, no futuro, quem sabe Neymar possa chegar a esse nível. Hoje, certamente, não.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Rogério Ceni FC seria um dos 10 times com mais títulos no Brasil


No fim de 2014, Rogério Ceni deverá se aposentar do futebol. Embora não seja o jogador mais talentoso a ter vestido a camisa do São Paulo (muitos diriam que não foi sequer o melhor goleiro), ele é, sem dúvida, o maior atleta da história do clube paulista. Além do longo período na equipe e da identificação com a torcida, ele é considerado o maior de todos graças ao incrível número de títulos que conquistou.

Pelo São Paulo, como titular ou reserva, Rogério ganhou: 3 Mundiais de Clubes, 3 Libertadores, 1 Copa Sul-Americana, 1 Supercopa, 1 Copa Conmebol, 2 Recopas, 3 Campeonatos Brasileiros, 1 Taça Rio-São Paulo e 4 Campeonatos Paulistas. Usando os critérios do Ranking de Títulos do Futebol Brasileiro, esses troféus dariam ao goleiro um total de 354 pontos na lista.

Em toda a história, só um jogador conseguiria pontuação maior no futebol brasileiro: ele mesmo, Pelé (4 Rio-São Paulo, 5 Taças Brasil, 1 Robertão, 2 Libertadores e 2 Mundiais), que somaria 378 pontos. Mais impressionante ainda é pensar que apenas 8 clubes brasileiros têm mais glórias em sua sala de troféus do que o goleiro são-paulino.

Vejamos, então, como se sairiam, em termos de títulos, alguns dos maiores ídolos do futebol brasileiro, em comparação com os principais clubes do país:

Jogador/Clube
Títulos
Pontos
Santos
41
572
São Paulo
39
548
Corinthians
44
491
Flamengo
45
474
Palmeiras
39
469
Cruzeiro
51
393
Pelé
24
378
Internacional
52
377
Grêmio
47
360
Rogério Ceni
19
354
Vasco
32
318
Fluminense
38
315
Atlético-MG
46
258
Botafogo
27
213
Zico
13
207
Marcelinho Carioca
13
176
Ademir da Guia
11
167
Bahia
48
142
Renato Gaúcho
9
138
Jairzinho
7
126
Sport
43
122
Juninho Pernambucano
8
117
Falcão
9
102
Coritiba
38
99
Dadá Maravilha
10
74
Atlético-PR
22
67
Romário
7
64
América-MG
16
64
Vitória
30
60
Félix
6
55
Santa Cruz
27
54
ABC
52
52
Tostão
6
45
*Dados atualizados até o fim de 2013
*Para os jogadores, só contam títulos conquistados com clubes brasileiros

Lembrando que a pontuação usada para fazer a tabela foi a seguinte:

Torneio
Pontos
Campeonato Brasileiro
25
Robertão / Taça Brasil
25
Copa do Brasil
15
Copa Libertadores
35
Mundial de Clubes /
Copa Intercontinental
30
Supercopa / Copa Conmebol /
Copa Mercosul / Copa Sul-Americana
15
Recopa
2
Campeonatos Estaduais
1 a 7*
Campeonatos Regionais
1 a 7**
*7 pts: SP; 6 pts: RJ; 4 pts: RS/MG; 2 pts: PR/BA/PE/SC; 1 pt: demais Estados
**7 pts: Rio-SP; 4 pts: Sul-Minas; 2 pts: Nordestão; 1 pt: demais Regionais


Antes que alguém reclame, é sempre bom lembrar que a grandeza de um jogador (ou de um clube) não se resume aos títulos que conquistou. Afinal, qualquer atleta mediano que tenha vencido a Libertadores e o Mundial tem mais pontos ganhos (65) do que craques como Tostão, Félix e Romário (e só perderia, em pontos, para 16 clubes).

Mesmo assim, a lista é interessante para diferenciar ídolos que marcaram época pela técnica refinada daqueles que fizeram nome graças à trajetória vencedora. Com isso, se percebe que os verdadeiros gigantes da história do futebol são aqueles poucos que conseguiram aliar as duas coisas – habilidade incomum e muitos títulos. Por isso é que nomes como Pelé e Zico são reverenciados até por torcedores de clubes rivais.

E você, tem alguma outra sugestão de jogador que poderia entrar neste ranking? (lembrando que só contam títulos ganhos por clubes brasileiros) É só sugerir! Se o atleta somar mais de 100 pontos, eu incluo na lista!