sexta-feira, 27 de junho de 2014

Quantas vagas cada continente merece na Copa do Mundo


Uma das surpresas da primeira fase da Copa do Mundo de 2014 foi a eliminação de três campeões mundiais: Espanha, Itália e Inglaterra. Os três que caíram têm em comum o fato de serem europeus, o que levou alguns analistas a dizerem que a Europa é a decepção deste Mundial. Foram só 6 classificados do Velho Continente, e isso porque a Grécia surpreendeu a Costa do Marfim no último minuto.

Olhando para o passado, nota-se que a conclusão do “fracasso” europeu é mais que prematura. Basta notar que, em 2010, o número de classificados do continente para as oitavas-de-final foi exatamente o mesmo (seis), e o torneio terminou com uma final envolvendo dois times da Europa, pela segunda vez seguida, coisa que só havia acontecido em 1934-38.

Aliás, o número de classificados de cada continente variou pouco em relação ao Mundial da África do Sul: Europa e América do Sul mantiveram o mesmo número de equipes (6 e 5, respectivamente); a Concacaf subiu de 2 para 3 classificados, e a África cresceu de 1 para 2. O único continente que saiu perdendo foi a Ásia, que viu Japão e Coreia do Sul nas oitavas-de-final em 2010 e neste ano não tem representantes no mata-mata.

Em termos proporcionais, o continente com melhores resultados em 2014 foi a América do Sul, que classificou para as oitavas-de-final 83% de suas equipes (5 de 6). O outro que superou 50% foi a Concacaf, que classificou 3 de 4 (75%). A Europa viu decepcionantes 46% passarem de fase (6 de 13), e a África, só 40% (2 de 5). Logicamente, o pior é a Ásia, que teve todos seus 4 times eliminados.

Considerando tudo isso, chegamos ao assunto do título deste texto: se as vagas na Copa do Mundo fossem decididas de acordo com os resultados dentro de campo, quantos representantes cada continente deveria ter no próximo torneio?

Tomando como base de cálculo os Mundiais desde 1998, quando o torneio passou a contar com 32 seleções, e já incluindo os resultados de 2014, vejamos quantas equipes cada continente (ou melhor, cada confederação) conseguiu classificar para as oitavas-de-final:

EUROPA – 41
AMÉRICA DO SUL – 19
CONCACAF – 9
ÁFRICA – 6
ÁSIA – 5 (inclui Oceania)

Fazendo a proporção do número de classificados para um total de 32 equipes, concluímos que o número de representantes dos continentes na próxima Copa do Mundo deveria ser:

EUROPA – 16 + 1 repescagem
AMÉRICA DO SUL – 7 + 1 repescagem
CONCACAF – 3 + 1 repescagem
ÁFRICA – 2 + 1 repescagem
ÁSIA – 2 (inclui Oceania)

É interessante notar que, embora sejam os continentes com mais vagas, Europa e América do Sul ainda estão sub-representados no Mundial. Os europeus mereceriam ter mais 3 ½ equipes (½ significando uma vaga na repescagem intercontinental), enquanto os sul-americanos poderiam ter mais 3 representantes (considerando as 4 ½ vagas usuais).

Do outro lado, a Ásia (+ Oceania) é o continente que deveria perder mais equipes – das 5 atuais (4 mais 2 vagas na repescagem) poderia ficar com apenas 2. A África, cujos representantes sempre geram bastante expectativa, poderia ter só 2 ½ vagas, exatamente a metade das 5 atuais. No final das contas, a única região que está bem representada, com base nos resultados, é a Concacaf, com 3 ½ equipes.

Nunca é demais lembrar que a distribuição de vagas entre os continentes é decidida de maneira política, e não com base no desempenho das equipes. Desde 2006, não há alterações nas cotas. Assim sendo, não espere novidades para 2018...

domingo, 22 de junho de 2014

Disputas de pênaltis em Copas do Mundo


Em torneios de mata-mata, como a Copa do Mundo, é comum que eliminações sejam definidas nas disputas de pênaltis. Certamente, é um método que considera mais autoconfiança e sorte do que qualidade técnica. Mas ainda assim é melhor que outros critérios: a realização de “replays” (como nas primeiras Copas do Mundo) é inviável nos dias de hoje, assim como a disputa de prorrogações infinitas (como no hóquei no gelo). Decidir a vaga no cara-ou-coroa (o que já aconteceu em Eurocopas) é ainda mais injusto.

E qual é o retrospecto das seleções em disputas de pênaltis realizadas em Mundiais? Quem tem mais motivos para temer a marca da cal? Vejamos os resultados das 22 disputas já realizadas:

Pos
País
V
D
%
Dif.
1
Alemanha
4
0
100%
+4
2
Bélgica
1
0
100%
+1
2
Bulgária
1
0
100%
+1
2
Suécia
1
0
100%
+1
2
Coreia do Sul
1
0
100%
+1
2
Ucrânia
1
0
100%
+1
2
Portugal
1
0
100%
+1
2
Paraguai
1
0
100%
+1
2
Uruguai
1
0
100%
+1
10
Argentina
3
1
75%
+2
11
Brasil
2
1
67%
+1
12
França
2
2
50%
0
12
Irlanda
1
1
50%
0
14
Espanha
1
2
33%
-1
15
Itália
1
3
25%
-2
16
Holanda
0
1
0%
-1
16
Sérvia
0
1
0%
-1
16
Suíça
0
1
0%
-1
16
Japão
0
1
0%
-1
16
Gana
0
1
0%
-1
21
México
0
2
0%
-2
21
Romênia
0
2
0%
-2
23
Inglaterra
0
3
0%
-3

Os maiores destaques estão nas duas pontas da tabela: em cima, a Alemanha chama a atenção com 4 vitórias em 4 disputas. Embaixo, a Inglaterra perdeu as três decisões por pênaltis que disputou. Para essas duas seleções, pode-se dizer, com bastante segurança, que os resultados não foram fruto (só) de sorte.

Entre os outros times, vale mencionar a situação de três candidatas ao título. A Argentina tem 3 vitórias em 4 disputas (só perdeu para a “invencível” Alemanha, em 2006), e o Brasil ganhou 2 de 3 (foi derrotada na primeira disputa, em 1986, contra a França). Já a Itália perdeu 3 de 4 tentativas, mas pode dizer que ganhou a última, na final da Copa de 2006. No entanto, nesses casos (como em todos os outros da tabela), não dá para afirmar que as equipes são “boas” ou “ruins” em decisões por pênaltis, já que o número de disputas é muito baixo.

Para avaliar isso melhor, vale a pena conhecer o desempenho das equipes nos pênaltis em todas as competições relevantes (Copa do Mundo, Copa das Confederações, Eurocopa, Copa América, Copa Africana de Nações, Copa da Ásia, Copa da Oceania, Copa Ouro e Olimpíadas, além de suas respectivas eliminatórias). Vejamos os resultados das seleções que participaram de pelo menos 4 disputas:

Pos
País
V
D
%
Dif.
1
Arábia Saudita
4
0
100%
+4
2
Estados Unidos
5
1
83%
+4
3
Nigéria
7
2
78%
+5
4
Colômbia
3
1
75%
+2
5
Alemanha
5
2
71%
+3
5
Egito
5
2
71%
+3
7
Brasil
8
4
67%
+4
8
Coreia do Sul
6
3
67%
+3
9
Panamá
4
2
67%
+2
10
Argentina
6
4
60%
+2
11
Paraguai
3
2
60%
+1
12
Espanha
5
4
56%
+1
13
Camarões
4
4
50%
0
13
França
3
3
50%
0
13
Honduras
2
2
50%
0
13
Japão
3
3
50%
0
13
Tunísia
4
4
50%
0
13
Uruguai
5
5
50%
0
13
Zâmbia
2
2
50%
0
20
Costa do Marfim
3
4
43%
-1
21
Argélia
2
3
40%
-1
21
Costa Rica
2
3
40%
-1
21
Marrocos
2
3
40%
-1
24
Itália
4
6
40%
-2
25
México
3
5
38%
-2
26
Irã
2
4
33%
-2
27
Gana
2
5
29%
-3
28
Canadá
1
3
25%
-2
28
Gabão
1
3
25%
-2
30
Holanda
1
4
20%
-3
31
Inglaterra
1
6
14%
-5
32
Senegal
0
4
0%
-4
Outras seleções da Copa 2014: Austrália 1x1; Bélgica 1x0; Chile 0x1; Croácia 0x1; Equador 0x1; Portugal 2x1; Suíça 0x1

A Arábia Saudita é a única equipe que aparece com 100% de aproveitamento, mas o país que tem melhor saldo (vitórias menos derrotas) é a Nigéria. O Brasil, no geral, mantém o mesmo aproveitamento das Copas do Mundo (2 vitórias em cada 3 disputas) e também se destaca como a seleção com maior experiência nesse tipo de decisão: foram ao todo 12 disputas.

Na parte de baixo, novamente a Inglaterra se destaca, com apenas 1 vitória em 7 tentativas. Mas a lanterna pertence ao Senegal, que nunca ganhou em 4 disputas de pênaltis que participou.

Entre as outras grandes seleções, Alemanha e Argentina mantêm aproveitamento positivo (mas não tanto quanto o que têm apenas em Copas), enquanto Itália e Holanda têm fortes motivos para temer as decisões na marca de cal.