domingo, 24 de fevereiro de 2013

Holanda: equilíbrio na briga pelo título, mas não no campeonato


Há duas semanas, publiquei um post sobre a evolução do equilíbrio noCampeonato Português. Nos comentários, o leitor Alexandre levantou a possibilidade de que o Campeonato Holandês tenha visto seu equilíbrio crescer nos últimos anos, dada a maior emoção que se vê na briga pelo título.


De fato, nos últimos 3 anos (e em 5 dos últimos 6), a diferença entre o campeão e o vice nunca foi maior que 6 pontos – e, não por acaso, em nenhuma dessas edições a dupla Ajax/PSV ocupou os 2 primeiros lugares. Mesmo assim, não dá para dizer que o equilíbrio está em alta, como mostra o gráfico abaixo:


Em laranja, o Índice de Equilíbrio de cada ano; em preto, a linha de tendência calculada pelo Excel.

Para entender por que o equilíbrio está baixo mesmo com brigas parelhas pelo título, é importante lembrar que o índice leva em conta todos os times, do primeiro ao último colocado. O campeonato de 2009/10 é exemplar. Nesse ano, apenas 1 ponto separou o campeão Twente do vice Ajax. Ao mesmo tempo, essa foi a edição menos equilibrada da história do Holandês. Por quê? Porque os dois líderes beiraram 84% de aproveitamento, enquanto o lanterna teve menos de 15%. Assim, os times ficaram todos “espalhados” na tabela – a ponto de não haver nenhum empate, em pontos, entre duas equipes, fato raríssimo.

Feita a explicação metodológica, vale dizer que, embora o equilíbrio recente esteja perto dos níveis mais baixos da história, a tendência de queda parece haver arrefecido (a linha aponta para baixo devido ao péssimo índice de 2009/10). As duas grandes fases de queda concentraram-se nas décadas de 1960 e 1990, separadas por um período de considerável crescimento, principalmente nos anos 1980. Nos últimos 10 anos, a situação parece ter se estabilizado num patamar próximo da mínima histórica.

Comparando o Holandês com outros campeonatos da Europa, temos o seguinte gráfico:


Em laranja, Campeonato Holandês; em verde, Campeonato Italiano; em vermelho, Campeonato Inglês; em amarelo, Campeonato Espanhol; em marrom, Campeonato Português.

Considerando-se a partir da temporada 1956/7 (quando o Holandês começou a ser disputado em pontos corridos), percebe-se que, no início, a Eredivisie tinha equilíbrio similar ao dos grandes campeonatos europeus. Mas logo as principais forças do país se consolidaram, e então a tendência de (des)nivelamento passou a ser parecida com a de Portugal, fato que se mantem até hoje.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O “X” da questão



No próximo dia 20, o Corinthians estreia na Libertadores, mas é no dia 6 de março que o clube brasileiro enfrentará seu adversário mais difícil da fase de grupos, o Tijuana. Aliás, difícil não é só vencer a equipe, mas também pronunciar seu nome: Xoloitzcuintles de Tijuana (mais precisamente, Club Tijuana Xoloitzcuintles de Caliente). Não por acaso, a imprensa mexicana chama do time de “Xolos” ou, simplesmente, de “Tijuana”, como tem sido feito também no Brasil.

Trata-se de um raríssimo caso de clube cujo nome começa com a letra “X”. Pesquisando na enorme base de dados do Football Manager, foi possível encontrar apenas outros 8 casos (times que começam com “XV”, como por exemplo o XV de Piracicaba, não estão incluídos):

Xerez (Espanha)
Xanthi (Grécia)
Xochitepec (México)
Xelajú (Guatemala)
Xinabajul (Guatemala)
Xorazm (Uzbequistão)
Xazar (Azerbaijão)
Xam-Xam (Senegal)

Só para matar a curiosidade: “Xoloitzcuintle” é o nome de uma raça de cachorro, conhecida no Brasil como “Pelado Mexicano”. Esse cão, inclusive, está presente no escudo do clube.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Equilíbrio em Portugal está baixo, mas sempre foi assim


Aproveitando o marasmo que é a primeira fase dos campeonatos estaduais, volto a analisar a evolução do equilíbrio nos principais campeonatos do mundo, ao longo da história. Já apresentei os casos de Inglaterra, Itália, Espanha, França e Alemanha. Hoje, é a vez de falar do Campeonato Português.

A evolução do equilíbrio em Portugal é um pouco diferente dos outros países analisados. Assim como os outros, o Português também tem visto seu equilíbrio cair nos últimos anos. A diferença é que Portugal teve seu maior nivelamento histórico nos anos 1990 (e não no passado distante) e hoje, mesmo com a queda, ainda está longe de seu menor nível histórico.

Veja abaixo a evolução do nivelamento em Portugal, medido pelo Índice de Equilíbrio (veja aqui como ele é calculado):



Os primeiros 10 anos da história do Campeonato Português tiveram baixíssimo equilíbrio. Tanto que os 5 índices mais baixos da história do país são todos dessa época. O torneio de 1939/40 alcançou a pontuação mais baixa que já calculei em qualquer campeonato: 14,85%.
A maior peculiaridade de Portugal é o crescimento do equilíbrio até os anos 1990, época em que a maioria dos outros campeonatos já apresentava sinais claros de declínio. Prova disso é que 4 das 5 edições mais equilibradas do torneio ocorreram entre 1989 e 1993 (curiosamente, o recorde é de 2004/05, temporada que foi uma exceção numa fase que já era de queda).

Uma coisa que se deve ressaltar é que, mesmo em suas melhores fases, o equilíbrio em Portugal esteve muito abaixo do dos outros principais campeonatos europeus. Veja a comparação:

Vermelho: Campeonato Inglês; Azul: Campeonato Francês; Verde: Campeonato Italiano; Amarelo: Campeonato Espanhol; Marrom: Campeonato Português.

Nota-se que, com exceção de um breve período na década de 1990, o Campeonato Português foi sempre o menos equilibrado entre os 5 torneios considerados. Aliás, até os anos 1980, a diferença entre Portugal e o resto era significativa.

Esse resultado combina com o senso comum. Desde o início de sua história, o Português sempre foi dominado por apenas 3 times (Porto, Benfica e Sporting). Isso não mudou até hoje. O que mudou foi que outros países, que antes tinham razoável equilíbrio entre grandes e pequenos, hoje também vêem domínio absoluto de 2 ou 3 times, aproximando Portugal do resto.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O (des)equilíbrio na distribuição do dinheiro da TV


Desde a implosão do Clube dos 13, habilmente arquitetada por Ricardo Teixeira e pela Rede Globo, a questão dos contratos de direitos de transmissão televisivos tem sido motivo de muitas discussões – e preocupações.

Os temores se explicam: sem o Clube dos 13, cada equipe negocia individualmente seu contrato de transmissão. Com isso, os times de maior torcida (e maior audiência) ganham poder de barganha. Aos pequenos, restaria aceitar qualquer oferta que apareça.

Esse modelo de negociação individual tem causado uma disparidade absurda na Espanha, onde Barcelona e Real Madrid ganham o triplo do 3º colocado e quase 11 vezes mais que as equipes pequenas. Enquanto isso, na Inglaterra, que negocia em bloco, o maior contemplado não chega a ganhar nem o dobro do último colocado.

Será que corremos esse risco no Brasil? É possível fazer uma comparação da distribuição da renda das televisões nos principais países, usando o Índice deGini:

País
Índice de Gini
Maior / Menor
Inglaterra 2011/2
8,2%
1,6
Argentina 2010
10,8%
1,8
Alemanha 2010/1
12,9%
2,1
Brasil 2011
21,2%
2,8
Itália 2012/3
24,6%
4,2
Brasil 2012
27,3%
4,7
Espanha 2011/2
47,6%
10,8
*Cálculo baseado nos números mais recentes disponíveis. Com exceção de Inglaterra e Itália, que publicam dados oficiais, a conta baseia-se em informações divulgadas na imprensa e em estimativas. Tabela inclui apenas a transmissão do campeonato nacional.
**0% significa total igualdade, ou seja, todos os times recebem o mesmo valor; 100% significa desigualdade absoluta, ou seja, um time fica com todo o dinheiro.

A boa notícia da tabela é que, mesmo com o aumento da concentração de renda no último ano, ainda estamos muito longe do abismo financeiro da Espanha. Aliás, isso é lógico, já que a diferença de popularidade dos dois maiores times em relação aos outros aqui no Brasil não é tão grande quanto no país ibérico.

É interessante notar, por outro lado, que a distribuição de renda que existia na época do Clube dos 13 (até 2011) não era muito igualitária, ficando bem longe do que se vê na Inglaterra, Alemanha e Argentina (e olha que nossos vizinhos têm dois “gigantes” bem mais populares localmente).

Também fica claro que não há correlação entre equilíbrio na distribuição dos direitos de TV e equilíbrio no campeonato, como pode-se verificar comparando esta tabela com o ranking de equilíbrio. É evidente que os times mais ricos se saem melhor, mas isso não significa que uma distribuição igualitária do dinheiro da TV, por si só, resulte em um campeonato mais embolado.

Além disso, uma ressalva deve ser feita: a tabela acima considera apenas o campeonato nacional. Na Europa, o dinheiro recebido pelas transmissões da Liga dos Campeões é significativo e cria um “fosso” entre as equipes que participam do torneio e as outras. Aqui, no Brasil, isso não acontece, já que a Conmebol repassa pouco dinheiro aos clubes pela transmissão da Libertadores.