Nos últimos 2 meses, publiquei no blog uma série de textos com curiosidades e estatísticas sobre a Copa do Mundo. Terminada a edição de 2014, vale a pena revisitá-los, para ver as novidades que aconteceram durante o Mundial.
Comecemos pelo assunto mais discutido: a média de gols do torneio. A Copa de 2014 encerrou-se com uma média de 2,67 por jogo. É o melhor resultado desde 1998, Mundial que teve exatamente o mesmo número de gols (o anterior, 1994, já foi melhor, com 2,71). O resultado pode ser considerado bom, pois interrompe, pelo menos momentaneamente, a tendência de queda nos gols que foi analisada neste texto.
Porém, há um fato negativo que deve ser destacado: houve uma diminuição sensível no número de gols depois da primeira fase. No mata-mata do Mundial (sem contar disputa do 3º lugar), a média foi de apenas 2,13. Esse número só é maior do que o das fases decisivas de 1990, 2002 e 2006. Aliás, se excluirmos da conta o 7 a 1 sofrido pelo Brasil, a média cai para pífios 1,71 – valor que só supera 2002 (1,62) e 2006 (1,57), também excluídos os jogos com mais gols.
Analisando a frequência dos placares no torneio (da mesma forma que foi feito neste texto), a diferença entre os dois momentos da Copa do Mundo fica bem clara:
Primeira fase
|
||||
0
|
1
|
2
|
3+
|
|
0
|
10%
|
xxx
|
xxx
|
xxx
|
1
|
17%
|
4%
|
xxx
|
xxx
|
2
|
4%
|
23%
|
4%
|
xxx
|
3
|
8%
|
10%
|
4%
|
|
4
|
4%
|
4%
|
2%
|
|
5+
|
2%
|
2%
|
Mata-mata*
|
||||
0
|
1
|
2
|
3+
|
|
0
|
13%
|
xxx
|
xxx
|
xxx
|
1
|
27%
|
13%
|
xxx
|
xxx
|
2
|
13%
|
27%
|
xxx
|
|
3
|
||||
4
|
||||
5+
|
7%
|
Em ambos os casos, o placar mais comum foi bom: 2 a 1 (nas Copas recentes, era 1 a 0). A grande diferença é que, na primeira fase, outros 40% do total de jogos também tiveram 3 ou mais gols. No mata-mata, isso só aconteceu em 1 outra partida (que equivale a apenas 7% do total).
Esses números refletem o fato de que, infelizmente, a Copa de 2014 decaiu muito em qualidade e emoção na hora que realmente importa. Pode-se dizer que, em termos de gols, surpresas e emoções, a fase de grupos esteve no nível dos melhores Mundiais da história. O mata-mata, porém, teve “cara de 1990”. No geral, parece possível dizer que esta Copa do Mundo foi a melhor do século XXI. Mais do que isso já seria forçar a barra.
Aliás, tão parecido foi o mata-mata desta Copa com o de 1990, que o número de prorrogações e pênaltis igualou o recorde daquele Mundial (mais sobre o assunto neste texto). Foram 8 prorrogações e 4 disputas de pênaltis. A vantagem do torneio de 2014 é que pelo menos as prorrogações trouxeram mais gols – foram 8 em 8 tempos extras. A média, de 3,00 gols a cada 90 minutos jogados é a melhor em prorrogações desde a Copa de 1986.
A Argentina igualou o feito da Bélgica de 1986 e da Inglaterra de 1990, ao disputar 3 prorrogações em uma única Copa do Mundo: ganhou da Suíça nas oitavas, empatou com a Holanda na semifinal (venceu nos pênaltis) e perdeu para a Alemanha na decisão. Esta derrota, aliás, foi a primeira da Argentina em 9 prorrogações que disputou em Copas do Mundo.
A disputa de pênaltis contra a Holanda marcou outro recorde argentino: foi a 5ª disputa desse tipo do país em Copas do Mundo, número maior do que de qualquer outra seleção. Considerando todas as competições, o recorde segue sendo do Brasil, que se envolveu em 13 disputas (9 vitórias e 4 derrotas).
Em termos de desempenho em pênaltis de Copas do Mundo, a Argentina segue como uma das melhores, conforme pode se ver na tabela abaixo (a tabela original, publicada antes da Copa, está aqui):
Pos
|
País
|
V
|
D
|
%
|
Dif.
|
1
|
Alemanha
|
4
|
0
|
100%
|
+4
|
2
|
Bélgica
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
2
|
Bulgária
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
2
|
Suécia
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
2
|
Coreia do Sul
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
2
|
Ucrânia
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
2
|
Portugal
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
2
|
Paraguai
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
2
|
Uruguai
|
1
|
0
|
100%
|
+1
|
10
|
Argentina
|
4
|
1
|
80%
|
+3
|
11
|
Brasil
|
3
|
1
|
75%
|
+2
|
12
|
França
|
2
|
2
|
50%
|
0
|
12
|
Irlanda
|
1
|
1
|
50%
|
0
|
12
|
Costa Rica
|
1
|
1
|
50%
|
0
|
15
|
Espanha
|
1
|
2
|
33%
|
-1
|
15
|
Holanda
|
1
|
2
|
33%
|
-1
|
17
|
Itália
|
1
|
3
|
25%
|
-2
|
18
|
Sérvia
|
0
|
1
|
0%
|
-1
|
18
|
Suíça
|
0
|
1
|
0%
|
-1
|
18
|
Japão
|
0
|
1
|
0%
|
-1
|
18
|
Gana
|
0
|
1
|
0%
|
-1
|
18
|
Chile
|
0
|
1
|
0%
|
-1
|
18
|
Grécia
|
0
|
1
|
0%
|
-1
|
24
|
México
|
0
|
2
|
0%
|
-2
|
24
|
Romênia
|
0
|
2
|
0%
|
-2
|
26
|
Inglaterra
|
0
|
3
|
0%
|
-3
|
Outro recorde igualado em 2014, também envolvendo a Argentina, foi o de número de finais com as mesmas equipes: a decisão deste ano foi a 3ª entre argentinos e alemães. O confronto entre os dois países é também o mais comum em Copas do Mundo, junto com Brasil x Suécia e Alemanha x Sérvia, cada um repetido 7 vezes (a lista detalhada encontra-se aqui). A má notícia para nossos “hermanos” é que a Argentina só venceu 1 desses 7 jogos e já soma 3 eliminações seguidas nas mãos dos alemães.
Para compensar, os argentinos tiveram o “prazer” de reencontrar a Nigéria, “freguês” que foi derrotado pela 4ª vez em 4 encontros. Já o Brasil não se deu tão bem contra seus “fregueses”: só empatou com México e Chile, países que haviam sido derrotados nas 3 partidas de Copa anteriores contra cada um. A Seleção, a exemplo da Argentina, voltou a perder para um antigo carrasco: a Holanda, que agora soma 3 vitórias, 1 empate e apenas 1 derrota contra os brasileiros.
Não podemos encerrar este texto sem falar da grande campeã, a Alemanha. Os germânicos tornaram-se apenas o 5º país a passar invicto pelas eliminatórias e pela Copa do Mundo, com um impressionante retrospecto de 15 vitórias e 2 empates em 17 jogos (mais informações aqui). Os países que impediram os alemães de alcançar os 100% de aproveitamento foram Suécia (empate por 4 a 4 nas eliminatórias, num jogo que os alemães chegaram a liderar por 4 a 0) e Gana (empate por 2 a 2 na Copa).
Também vale lembrar que a Alemanha tornou-se o 5º campeão mundial diferente em sequência (os outros foram França-1998, Brasil-2002, Itália-2006 e Espanha-2010), igualando as maiores séries da história, entre 1966 e 1982 (Inglaterra, Brasil, Alemanha, Argentina e Itália) e entre 1982 e 1998 (Itália, Argentina, Alemanha, Brasil e França). A novidade, em 2014, é que foi a primeira vez que países de um mesmo continente ganharam 3 Mundiais seguidos, além de ser o primeiro título de um europeu no continente americano.
Outro feito da Alemanha foi tornar-se o país com mais gols marcados em Copas do Mundo, superando o Brasil, que detinha essa marca desde 1950 (segundo levantamento do blog Futebópolis). Agora, a Alemanha tem 224 gols em Mundiais, contra 221 do Brasil. Para a nossa Seleção, dois recordes negativos: maior número de gols sofridos (14) em um Mundial desde 1986 (quando a Bélgica levou 15) e o pior saldo de gols na história da Seleção Brasileira em uma Copa (-3, superando os -2 de 1966 e 1934).
Falando de feitos negativos, vale dizer que a Alemanha não foi o único país a passar invicto pelas eliminatórias e por este Mundial. A Holanda teve 14 vitórias e 3 empates nos 17 jogos de sua campanha, mas mesmo assim ficou só com o 3º lugar. Trata-se apenas da 8ª equipe a ficar invicta em todo o percurso e voltar para casa de mãos vazias (conforme pode ser conferido aqui). Pior: foi a campanha invicta mais longa (junto com a França de 2006) entre eliminados e também a que teve maior aproveitamento de pontos.
Menção honrosa para a Costa Rica, terceira equipe a sair sem derrota do Brasil. Mesmo jogando contra pesos-pesados como Inglaterra, Uruguai, Itália e Holanda, os Ticos terminaram o torneio com 2 vitórias e 3 empates, em 5 jogos disputados. Diferentemente de Alemanha e Holanda, a Costa Rica perdeu 4 vezes durante as eliminatórias.
Sensacional
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