Assim que o Brasil foi humilhado pela Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, publiquei uma análise sobre a necessidade de reformulação total (maisuma!) na Seleção. Agora, aprofundo a análise, com base em dados estatísticos das Copas do Mundo mais recentes.
Nos últimos seis Mundiais, a média de jogadores mantidos na Seleção Brasileira, em relação à Copa do Mundo anterior, foi de apenas 7,7. Confira:
Copa de 1994 (ficaram de 1990): Taffarel, Jorginho, Dunga, Branco, Romário, Aldair, Muller, Bebeto, Mazinho, Ricardo Rocha
Copa de 1998 (ficaram de 1994): Taffarel, Dunga, Bebeto, Cafu, Aldair, Leonardo, Ronaldo
Copa de 2002 (ficaram de 1998): Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Rivaldo, Denilson, Dida
Copa de 2006 (ficaram de 2002): Cafu, Lúcio, Roberto Carlos, Ronaldo, Gilberto Silva, Ronaldinho Gaúcho, Ricardinho, Dida, Kaká, Rogério Ceni
Copa de 2010 (ficaram de 2006): Lúcio, Juan, Kaká, Luisão, Gilberto, Gilberto Silva, Júlio César, Robinho
Copa de 2014 (ficaram de 2010): Júlio César, Maicon, Daniel Alves, Thiago Silva, Ramires
Por essa lista, então, poderíamos esperar que 7 ou 8 dos 23 que deram vexame na Copa de 2014 ganhassem uma nova chance em 2018. No entanto, deve-se considerar que o time que o Brasil levou a campo no último Mundial estava envelhecido, fator que está diretamente ligado à renovação:
Equipe |
Até 26 anos
|
A partir de 30 anos
|
Dif
|
Mantidos na Copa seguinte
|
Brasil-2014 |
7
|
8
|
-1
|
?
|
Brasil-2010 |
6
|
9
|
-3
|
5
|
Brasil-2006 |
8
|
10
|
-2
|
8
|
Brasil-2002 |
12
|
3
|
+9
|
10
|
Brasil-1998 |
8
|
6
|
+2
|
6
|
Brasil-1994 |
7
|
5
|
+2
|
7
|
Brasil-1990 |
13
|
2
|
+11
|
11
|
Assim, é de se esperar que haja uma mudança maior do que a média nos nomes da Seleção para a próxima Copa do Mundo. No entanto, a tabela acima também mostra que trocar nomes não necessariamente significa rejuvenescer a equipe. Basta verificar que o time de 2014 foi o que mais mudou jogadores, mas ao mesmo tempo é um dos que mandou a campo menos jovens.
Também é importante notar que o número de “jovens”, abaixo de 27 anos, foi menor que o de “veteranos”, acima de 30, pela terceira Copa do Mundo seguida. É um fato expressivo, considerando que o número de “trintões” nunca havia superado o de jovens na Seleção antes de 2006.
Com isso, fica clara a dificuldade recente de renovação do Brasil nesse período: os técnicos se veem pressionados a trocar jogadores, mas não encontram jovens talentos para as vagas. E, mesmo quando apostam em garotos, escolhem mal. Em 2010, por exemplo, Dunga convocou 6 atletas com menos de 27 anos para a Copa do Mundo. Desses, apenas 2 (Thiago Silva e Ramires) retornaram em 2014. Os outros 4 (Felipe Melo, Michel Bastos, Robinho e Nilmar) realmente não teriam a menor condição de serem chamados nos dias de hoje.
O pior é que o Brasil vai na contramão da tendência mundial. Na última Copa, a maioria das seleções trouxe times jovens. Confira:
País |
Até 26 anos
|
A partir de 30 anos
|
Dif
|
Gana |
16
|
1
|
+15
|
Bélgica |
15
|
1
|
+14
|
Coreia do Sul |
15
|
1
|
+14
|
Alemanha |
15
|
3
|
+12
|
Austrália |
15
|
4
|
+11
|
Nigéria |
15
|
5
|
+10
|
Suíça |
12
|
3
|
+9
|
México |
14
|
6
|
+8
|
Colômbia |
10
|
2
|
+8
|
Argélia |
12
|
4
|
+8
|
Holanda |
14
|
7
|
+7
|
Inglaterra |
12
|
5
|
+7
|
Bósnia |
11
|
4
|
+7
|
Camarões |
12
|
6
|
+6
|
França |
10
|
4
|
+6
|
Japão |
11
|
6
|
+5
|
Equador |
11
|
6
|
+5
|
Croácia |
10
|
6
|
+4
|
Costa Rica |
11
|
7
|
+4
|
Grécia |
9
|
6
|
+3
|
Chile |
9
|
7
|
+2
|
Espanha |
9
|
7
|
+2
|
Costa do Marfim |
9
|
7
|
+2
|
Itália |
8
|
6
|
+2
|
Estados Unidos |
10
|
8
|
+2
|
Rússia |
9
|
7
|
+2
|
Brasil |
7
|
8
|
-1
|
Honduras |
6
|
7
|
-1
|
Argentina |
7
|
8
|
-1
|
Uruguai |
5
|
7
|
-2
|
Portugal |
7
|
9
|
-2
|
Irã |
8
|
11
|
-3
|
Das 32 equipes participantes, só duas (Honduras e Uruguai) trouxeram menos jogadores “jovens” (abaixo de 27 anos) que o Brasil, e somente duas (Portugal e Irã) trouxeram mais veteranos (a partir de 30 anos). Ou seja, pouquíssimos países vão ter que se renovar mais do que o Brasil.
Impressiona, também, perceber que a campeã Alemanha aparece com um dos elencos mais recheados de jovens do Mundial. Se quiser, Joachim Löw não precisará mudar mais que 3 nomes de seu elenco para 2018. Outros times com bom desempenho – Bélgica, Nigéria, México e Colômbia – também aparecem entre os que tiveram menor número de veteranos. Já as maiores decepções da Copa – Espanha, Itália, Brasil e Portugal – aparecem todas na parte mais baixa da lista. Na verdade, a única equipe que conseguiu um bom resultado em 2014 com um time relativamente velho foi a Argentina.
Será que em 2018 (ou mesmo 2022) o Brasil terá condições de montar uma equipe mais jovem? E, em caso afirmativo, será que haverá coragem para abrir mão de resultados imediatos para montar uma base mais sólida para o futuro? Tudo o que a CBF fez desde a surra frente à Alemanha, infelizmente, indica que não.
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