segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Pelé foi um jogador decisivo?

Pelé é considerado pela maioria dos comentaristas como o maior jogador de futebol de todos os tempos – no Brasil, essa avaliação é praticamente unânime. E não é para menos: com técnica perfeita, porte atlético muito acima dos jogadores de sua época, posicionamento e visão de jogo impecáveis, o brasileiro não só foi uma máquina de fazer gols, como também criava oportunidades para seus companheiros. Não por acaso, Pelé foi o maior jogador de um dos maiores times de todos os tempos e tem uma galeria de troféus que poucos conseguem igualar. Mas será que, nos jogos mais decisivos, o Rei mantinha a majestade?

Neste texto, concluo a série de análises sobre o desempenho de grandes jogadores da história em partidas decisivas. Nos posts anteriores, falei sobre Romário, Ronaldo, Ferenc Puskas, Gerd Müller, Eusébio, Johan Cruyff e Diego Maradona.

Para fazer estas avaliações, pesquisei a carreira de cada atleta e montei duas listas. Uma apresenta o desempenho em finais, incluindo placares e gols marcados. Outra mostra os resultados nos jogos de mata-mata, a partir das oitavas-de-final, considerando apenas vitórias e derrotas. Em ambos os cálculos, foram contados os números das seleções principais e olímpica e de todas as competições de clubes, excluindo as Supercopas nacionais e torneios amistosos. Nos dados referentes a mata-mata, como nem sempre as escalações das partidas estão disponíveis, partiu-se da suposição de que o atleta em questão sempre participou dos jogos, a não ser quando estivesse sabidamente suspenso ou machucado.

Os resultados


Vejamos como Pelé se saiu nas finais que disputou:

Final (Ano)
Resultado
Gols
Copa do Mundo (1958)
5x2 Suécia
2
Taça Brasil (1959)
5x6 Bahia**
2
Taça Brasil (1961)
6x2 Bahia*
3
Copa Libertadores (1962)
7x4 Peñarol**
2
Taça Brasil (1962)
10x6 Botafogo**
2
Mundial de Clubes (1962)
8x4 Benfica*
5
Copa Libertadores (1963)
5x3 Boca Juniors*
1
Taça Brasil (1963)
8x0 Bahia*
4
Rio-São Paulo (1964)
2x3 Botafogo***
0
Taça Brasil (1964)
4x1 Flamengo*
3
Taça Brasil (1965)
6x1 Vasco*
1
Taça Brasil (1966)
4x9 Cruzeiro*
1
Campeonato Paulista (1967)
2x1 São Paulo
0
Copa do Mundo (1970)
4x1 Itália
1
Campeonato Paulista (1973)
0x0 Portuguesa****
0
Campeonato Norte-Americano (1977)
2x1 Seattle Sounders
0
*Final disputada em 2 jogos
**Final disputada em 3 jogos
***Deveria ter havido um 2º jogo, que nunca aconteceu; título foi dividido
****Após confusão na disputa por pênaltis, o título foi dividido
*****A final do Mundial de Clubes de 1963 não foi incluída porque Pelé só disputou a 1ª das 3 partidas (o Santos perdeu esse jogo e ganhou os outros dois)

Nos jogos de mata-mata, os resultados de Pelé foram os seguintes:

Equipe
Vitórias
Derrotas
%
Brasil
6
0
100,0%
Santos
18
4
81,8%
New York Cosmos
5
1
83,3%
TOTAL
29
5
85,3%

Análise


É praticamente impossível achar defeitos nos números de Pelé em jogos decisivos. Falando de mata-mata em geral, o atacante teve quase 6 vitórias para cada derrota, uma média quase inacreditável. Quando falamos de finais, o aproveitamento impressionante se mantém: foram 12 triunfos contra apenas 2 derrotas (além de 2 decisões que, por incrível que pareça, terminaram com o título dividido).

PELÉ: praticamente perfeito
em jogos decisivos
O único fato que prejudica a análise é o número relativamente baixo de confrontos de mata-mata que Pelé disputou durante a carreira: apenas 34, menos da metade de nomes como Gerd Müller ou Romário. Isso não foi “culpa” de Pelé, mas sim dos regulamentos da época. Nos anos 1960, o Campeonato Paulista era disputado por pontos corridos, e o Rio-São Paulo tinha a fase decisiva em formato de quadrangular. Mesmo nos torneios eliminatórios, como a Taça Brasil, o Santos costumava entrar já na semifinal, diminuindo muito o número de confrontos.

Esse baixo número de partidas decisivas se repete na Seleção Brasileira. Com a camisa canarinho, foram apenas 6 confrontos, nas Copas de 1958 e 1970. Isso acontece porque, em 1962, Pelé contundiu-se na primeira fase e, em 1966, o Brasil foi eliminado na etapa inicial. Copa América, o Rei só disputou uma (1959), realizada no sistema de pontos corridos.

Poucos confrontos ou não, a verdade é indiscutível: Pelé foi decisivo, e muito. Não só manteve uma porcentagem altíssima de vitórias, como também marcou grande número de gols nas finais que disputou (27 em 29 jogos – média quase idêntica à de sua carreira como um todo). É uma pena que os regulamentos da época (e algumas contusões) não tenham propiciado ao Rei a chance de disputar ainda mais decisões. Se tivesse a oportunidade, não há dúvida de que Pelé alcançaria cifras ainda mais espetaculares.

Um comentário:

  1. Como sempre as suas análises são excelentes. Estava previsto, é claro, que o Pelé seria o jogador mais decisivo de todos os pesquisados. Parabéns.

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