Nas últimas rodadas da fase de grupos da Libertadores, a imprensa brasileira dá bastante destaque para a tabela geral de classificação das equipes, já que, no torneio sul-americano, quem tem melhor campanha na primeira fase ganha o direito de jogar a segunda partida dos confrontos de mata-mata em casa.
Talvez para manter o interesse do público em jogos de times já classificados, muitos jornalistas parecem exagerar a importância desse fato. Será que jogar a segunda partida em casa faz tanta diferença assim?
Note-se que esse é o único benefício dado aos times de melhor campanha – não há vantagem de jogar por dois resultados iguais, como em outros torneios.
Tomando como base os resultados das últimas 10 Libertadores, vejamos se é verdade que os times que decidem a classificação em casa são mesmo beneficiados:
Copa Libertadores
|
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Ano
|
Decide fora
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Decide em casa
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2003
|
7
|
8
|
2004
|
6
|
9
|
2005
|
7
|
8
|
2006
|
5
|
10
|
2007
|
9
|
6
|
2008
|
8
|
7
|
2009
|
7
|
6
|
2010
|
7
|
8
|
2011
|
9
|
6
|
2012
|
4
|
11
|
Total
|
69 (46,6%)
|
79 (53,4%)
|
Os resultados mostram uma ligeira vantagem para as equipes que jogaram a segunda partida em casa. No entanto, esse resultado não tem significância estatística (α > 20%) – ou seja, a vantagem dos que decidiram em casa poderia ser atribuída ao acaso.
E em outros torneios? Será que esse padrão se repete? Vejamos os casos da Liga dos Campeões, Copa Sul-Americana e Copa do Brasil, nos últimos 10 anos:
Liga dos Campeões
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Ano
|
1º em casa
|
2º em casa
|
2003
|
4
|
2
|
2004
|
6
|
8
|
2005
|
7
|
7
|
2006
|
3
|
11
|
2007
|
4
|
10
|
2008
|
5
|
9
|
2009
|
7
|
7
|
2010
|
9
|
5
|
2011
|
3
|
11
|
2012
|
4
|
10
|
Total
|
52 (39,4%)
|
80 (60,6%)
|
Copa Sul-Americana
|
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Ano
|
1º em casa
|
2º em casa
|
2003
|
11
|
15
|
2004
|
15
|
17
|
2005
|
15
|
18
|
2006
|
15
|
18
|
2007
|
18
|
18
|
2008
|
15
|
18
|
2009
|
16
|
14
|
2010
|
15
|
23
|
2011
|
14
|
24
|
2012
|
17
|
29
|
Total
|
151 (43,8%)
|
194 (56,2%)
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Copa do Brasil
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Ano
|
1º em casa
|
2º em casa
|
2003
|
7
|
8
|
2004
|
6
|
9
|
2005
|
7
|
8
|
2006
|
8
|
7
|
2007
|
8
|
7
|
2008
|
6
|
9
|
2009
|
7
|
8
|
2010
|
7
|
8
|
2011
|
6
|
9
|
2012
|
6
|
9
|
Total
|
68 (45,3%)
|
82 (54,7%)
|
Nos três torneios, repete-se o padrão da Libertadores: leve vantagem a favor dos times que jogaram a segunda partida em casa. Se tomarmos todos os resultados juntos, encontramos 435 vitórias em um total de 775 confrontos – um aproveitamento de 56,1%. Esse resultado passa a ter forte significância estatística (α < 0,01%).
Em outras palavras, dados dos últimos 10 anos permitem concluir que o time que disputa a segunda partida de uma série mata-mata em casa tem sim uma vantagem sobre o adversário (mas é um benefício pequeno, vale ressaltar). A ironia é que o torneio em que essa vantagem é mais fraca é justamente a Libertadores – exatamente aquele em que isso é oferecido como prêmio aos melhores da primeira fase.
Boa análise também. Vale lembrar que decidir em casa não é necessariamente uma vantagem. É tudo um jogo de estratégia, cada um tem que saber jogar com a sua situação. O foco do mandante do primeiro jogo é normalmente não sofrer gols, tanto que até um 0 a 0 é um bom resultado. É até engraçado o psicológico sobre o "gol marcado fora": normalmente na imprensa considera-se o "1 a 0" em casa no jogo de ida um bom resultado, já que não sofreu gols. Mas o "3 a 1", ou o "4 a 2", já são vistos como placares perigoso, por causa daquele(s) golzinho(s) ali.
ResponderExcluirAh, um adicional: Vale lembrar que, na Liga dos Campeões há um fator extra: a prorrogação. E nela, tudo bem, o time mandante tem meia hora a mais de jogo em casa, só que o problema é que o gol fora continua tendo peso na prorrogação. Assim, empate com gols na prorrogação favorece o visitante. É um fator que poderia aumentar o equilíbrio, mas o que se vê é que, realmente, a situação em que decidir em casa é mais decisivo é nessa competição. Essa meia hora pode ajudar nisso então...
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