sábado, 4 de maio de 2013

Quem decide em casa leva vantagem?


Nas últimas rodadas da fase de grupos da Libertadores, a imprensa brasileira dá bastante destaque para a tabela geral de classificação das equipes, já que, no torneio sul-americano, quem tem melhor campanha na primeira fase ganha o direito de jogar a segunda partida dos confrontos de mata-mata em casa.

Talvez para manter o interesse do público em jogos de times já classificados, muitos jornalistas parecem exagerar a importância desse fato. Será que jogar a segunda partida em casa faz tanta diferença assim? 
Note-se que esse é o único benefício dado aos times de melhor campanha – não há vantagem de jogar por dois resultados iguais, como em outros torneios.

Tomando como base os resultados das últimas 10 Libertadores, vejamos se é verdade que os times que decidem a classificação em casa são mesmo beneficiados:

Copa Libertadores
Ano
Decide fora
Decide em casa
2003
7
8
2004
6
9
2005
7
8
2006
5
10
2007
9
6
2008
8
7
2009
7
6
2010
7
8
2011
9
6
2012
4
11
Total
69 (46,6%)
79 (53,4%)
*Não inclui a fase preliminar

Os resultados mostram uma ligeira vantagem para as equipes que jogaram a segunda partida em casa. No entanto, esse resultado não tem significância estatística (α > 20%) – ou seja, a vantagem dos que decidiram em casa poderia ser atribuída ao acaso.

E em outros torneios? Será que esse padrão se repete? Vejamos os casos da Liga dos Campeões, Copa Sul-Americana e Copa do Brasil, nos últimos 10 anos:

Liga dos Campeões
Ano
1º em casa
2º em casa
2003
4
2
2004
6
8
2005
7
7
2006
3
11
2007
4
10
2008
5
9
2009
7
7
2010
9
5
2011
3
11
2012
4
10
Total
52 (39,4%)
80 (60,6%)
*Não inclui a fase preliminar

Copa Sul-Americana
Ano
1º em casa
2º em casa
2003
11
15
2004
15
17
2005
15
18
2006
15
18
2007
18
18
2008
15
18
2009
16
14
2010
15
23
2011
14
24
2012
17
29
Total
151 (43,8%)
194 (56,2%)

Copa do Brasil
Ano
1º em casa
2º em casa
2003
7
8
2004
6
9
2005
7
8
2006
8
7
2007
8
7
2008
6
9
2009
7
8
2010
7
8
2011
6
9
2012
6
9
Total
68 (45,3%)
82 (54,7%)
*Só inclui resultados a partir das oitavas-de-final

Nos três torneios, repete-se o padrão da Libertadores: leve vantagem a favor dos times que jogaram a segunda partida em casa. Se tomarmos todos os resultados juntos, encontramos 435 vitórias em um total de 775 confrontos – um aproveitamento de 56,1%. Esse resultado passa a ter forte significância estatística (α < 0,01%).

Em outras palavras, dados dos últimos 10 anos permitem concluir que o time que disputa a segunda partida de uma série mata-mata em casa tem sim uma vantagem sobre o adversário (mas é um benefício pequeno, vale ressaltar). A ironia é que o torneio em que essa vantagem é mais fraca é justamente a Libertadores – exatamente aquele em que isso é oferecido como prêmio aos melhores da primeira fase.

2 comentários:

  1. Boa análise também. Vale lembrar que decidir em casa não é necessariamente uma vantagem. É tudo um jogo de estratégia, cada um tem que saber jogar com a sua situação. O foco do mandante do primeiro jogo é normalmente não sofrer gols, tanto que até um 0 a 0 é um bom resultado. É até engraçado o psicológico sobre o "gol marcado fora": normalmente na imprensa considera-se o "1 a 0" em casa no jogo de ida um bom resultado, já que não sofreu gols. Mas o "3 a 1", ou o "4 a 2", já são vistos como placares perigoso, por causa daquele(s) golzinho(s) ali.

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  2. Ah, um adicional: Vale lembrar que, na Liga dos Campeões há um fator extra: a prorrogação. E nela, tudo bem, o time mandante tem meia hora a mais de jogo em casa, só que o problema é que o gol fora continua tendo peso na prorrogação. Assim, empate com gols na prorrogação favorece o visitante. É um fator que poderia aumentar o equilíbrio, mas o que se vê é que, realmente, a situação em que decidir em casa é mais decisivo é nessa competição. Essa meia hora pode ajudar nisso então...

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