quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quem paga pelos estádios da Copa?

O UOL Esporte publicou na última semana um excelente infográfico que mostra a evolução dos custos projetados de cada um dos estádios que deverão ser usados na Copa de 2014. Mais interessante ainda, a matéria mostra de forma clara de onde virão os recursos para a construção desses estádios.

Vale a pena dar uma olhada melhor nesse assunto porque muitos jornalistas têm feito confusão com isso. A causa principal é a ambigüidade da palavra “financiamento”. Explico: parte significativa das obras será financiada com dinheiro do BNDES. Isso quer dizer, então, que o governo federal vai pagar pelos estádios, certo? Errado. O BNDES cobra juros mais que camaradas, mas o dinheiro terá que ser devolvido um dia. Ou seja, alguém está assumindo uma dívida, que, de um jeito ou de outro, terá de ser paga.

Levando em conta que os gastos são responsabilidade do tomador do empréstimo (e não da instituição que libera o dinheiro), a distribuição dos gastos com estádios, de acordo com as informações que se tem hoje, é a seguinte:

Governos Estaduais (inclui DF) = R$ 4,96 bilhões
Origem mal explicada = R$ 800 milhões
Origem ainda não definida = R$ 515 milhões
Governos Municipais = R$ 360 milhões
Dinheiro privado = R$ 295 milhões
TOTAL PREVISTO ATÉ AGORA = R$ 6,93 bilhões

A primeira coisa que os números deixam claro é que o grosso dos custos (71,6%) será suportado pelos governos estaduais, mais precisamente os de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Ceará, Amazonas, Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Distrito Federal. Só três Estados que receberão a Copa (SP, PR e RS) não colocaram a mão no bolso, por enquanto.

Aliás, o “por enquanto” acima não é só ironia, já que ainda há R$ 515 milhões que não se sabe de onde virão para construir/reformar os estádios de São Paulo (R$ 430 milhões) e Curitiba (R$ 85 milhões). Nos dois casos, as prefeituras já assumiram parte dos custos (R$ 240 milhões e R$ 120 milhões, respectivamente), e há pressão enorme para os Estados fecharem a conta.

O estádio paulistano é de longe o mais confuso. Além do buraco nas contas, há um empréstimo de R$ 400 milhões que foi tomado (supostamente) pela construtora responsável pelo projeto junto ao BNDES, dinheiro que seria recuperado por meio de “patrocinadores”. Só que é obvio que, com “naming rights” e afins, não vai ser possível levantar nem metade desse dinheiro. Como a construtora não vai morrer com esse prejuízo, cabem três opções para fechar a conta: 1. O Corinthians vai assumir a dívida; 2. A construtora vai ter direito de uso do estádio por décadas, como acontece no estádio do Palmeiras; 3. Vai entrar mais dinheiro público na jogada.

Há outros R$ 400 milhões mal-explicados, que seriam pagos por meio de uma Parceria Público-Privada entre o governo de Minas Gerais e a empresa que reforma o Mineirão. Admito que não tenho informações mais detalhadas sobre essa PPP, então não sei se é viável recuperar esse dinheiro ou se a conta vai acabar com os contribuintes mineiros.

Fechando a lista, R$ 295 milhões (ou seja, 4,3% do total) devem vir mesmo de fontes privadas, ou seja, do Atlético-PR (R$ 45 milhões) e do Internacional (R$ 295 milhões).

Somando tudo, temos que, no melhor dos casos, 76,8% do dinheiro usado para a construção dos estádios (ou seja, R$ 5,32 bilhões) virá dos cofres públicos. Isso sem contar novos aumentos nos preços, financiamentos que hoje são desconhecidos e nebulosos, inadimplência junto ao BNDES, etc.

Um comentário:

  1. O povo é quem vai para as urnas votarem, e assim dão poder aos políticos, dessa maneira os governantes comem o dinheiro todo para fazerem as mansões deles e comprarem suas BMW's... Enquanto o povão fica contente assistindo copa do mundo, big brother, tomando cerveja e tomando no **.

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