Durante a elaboração do Ranking de Seleções deste ano, chamou a atenção a forte evolução de alguns nanicos da Ásia. Times que eram sacos de pancadas, como Guam, Timor Leste e Hong Kong, conseguiram alguns bons resultados nas Eliminatórias para a Copa de 2018 e subiram bastante na lista. Pesquisando mais a fundo esses resultados, descobri que aconteceram graças à ajuda de jogadores “estrangeiros” – ou seja, atletas nascidos em outros países que, sem chances de defender a própria seleção, foram recrutados para jogar por nações menores.
Com base nessa constatação, decidi fazer um levantamento do número de estrangeiros que jogam por seleções asiáticas atualmente. Para tanto, tomei como base os elencos disponíveis no site Transfermarkt e contei como “estrangeiro” todo jogador nascido fora do território do país que defende. Também contei a quantidade de atletas que, além de não terem nascido no país, sequer jogam na liga local. Com esses critérios, o número de estrangeiros no futebol de seleções da Ásia é o seguinte:
País |
Elenco
|
Nascidos fora
|
Nascidos e atuam fora
|
Origens* |
Filipinas |
23
|
17
|
7
|
Alemanha, Inglaterra, Espanha |
Guam |
21
|
15
|
13
|
Estados Unidos |
Líbano |
26
|
11
|
9
|
Alemanha, Serra Leoa, Dinamarca |
Hong Kong |
23
|
11
|
4
|
China, Nigéria, Inglaterra, Brasil |
Catar |
23
|
10
|
0
|
França |
Timor Leste |
24
|
6
|
6
|
Brasil |
Afeganistão |
25
|
6
|
6
|
Alemanha |
Palestina |
28
|
5
|
4
|
Chile |
Paquistão |
25
|
4
|
4
|
Dinamarca |
Taiwan |
20
|
2
|
2
|
- |
Bahrein |
27
|
2
|
2
|
- |
Quirguistão |
24
|
2
|
1
|
- |
Indonésia |
28
|
2
|
1
|
- |
Tailândia |
23
|
2
|
0
|
- |
Emirados Árabes |
27
|
2
|
0
|
- |
Austrália |
23
|
1
|
1
|
- |
Iraque |
26
|
1
|
1
|
- |
Jordânia |
27
|
1
|
1
|
- |
Sri Lanka |
29
|
1
|
1
|
- |
Bangladesh |
31
|
1
|
1
|
- |
Índia |
18
|
1
|
0
|
- |
Macau |
22
|
1
|
0
|
- |
Arábia Saudita |
25
|
1
|
0
|
- |
Vietnã |
31
|
1
|
0
|
- |
Malásia |
37
|
1
|
0
|
- |
Camboja |
39
|
1
|
0
|
- |
Laos |
9
|
0
|
0
|
- |
Síria |
16
|
0
|
0
|
- |
Maldivas |
18
|
0
|
0
|
- |
Cingapura |
19
|
0
|
0
|
- |
China |
20
|
0
|
0
|
- |
Turcomenistão |
20
|
0
|
0
|
- |
Japão |
21
|
0
|
0
|
- |
Omã |
22
|
0
|
0
|
- |
Mongólia |
22
|
0
|
0
|
- |
Kuwait |
23
|
0
|
0
|
- |
Mianmar |
23
|
0
|
0
|
- |
Tadjiquistão |
23
|
0
|
0
|
- |
Coreia do Sul |
24
|
0
|
0
|
- |
Coreia do Norte |
24
|
0
|
0
|
- |
Irã |
25
|
0
|
0
|
- |
Uzbequistão |
25
|
0
|
0
|
- |
Iêmen |
27
|
0
|
0
|
- |
Nepal |
27
|
0
|
0
|
- |
Brunei |
29
|
0
|
0
|
- |
Butão |
43
|
0
|
0
|
- |
Os números acima devem ser analisados com cuidado. Entre os jogadores estrangeiros há casos que vão desde a evidente picaretagem (um jogador nascido no Brasil e que joga pelo Velo Clube defendendo Timor Leste) até situações bem aceitáveis – e até comuns – de atletas com ascendência asiática mas que nasceram na Europa e decidiram defender o país de sua família. Além disso, o número total de estrangeiros, em alguns casos (principalmente de seleções nanicas), pode estar subestimado, já que não há informações disponíveis sobre o local de nascimento de alguns jogadores.
O Bahrein é um dos países que usa estrangeiros em sua seleção |
Guam claramente aproveitou o fato de ser uma colônia americana e desandou a recrutar jogadores das “minor leagues” dos EUA. Hong Kong e Catar, por sua vez, transformaram suas seleções numa espécie de “All-Star Team” de suas ligas nacionais, naturalizando os melhores estrangeiros que atuam em seus campeonatos. Isso sem falar no já mencionado caso do Timor Leste, que aproveitou a proximidade linguística para enxertar (pelo menos) 6 brasileiros em sua seleção.
Alguns outros países aproveitam grandes colônias no exterior para reforçar suas seleções. É o caso de Afeganistão (Alemanha), Palestina (Chile) e Paquistão (Dinamarca). Não é exatamente esse o “ideal” para uma seleção nacional, mas pelo menos esses países têm uma justificativa para trazer pessoas de fora para suas seleções.
Além dos casos citados, 17 seleções asiáticas aparecem com 1 ou 2 estrangeiros em seus elencos atuais. Não é possível fazer uma análise global para todos os casos, mas, em geral, dá para arriscar dizer que não existe uma “política” de recrutar gente de fora para fortalecer os times.
Outras 20 seleções asiáticas aparecem sem nenhum estrangeiro no elenco. Não por acaso, essa lista inclui 3 dos 4 países que estiveram na última Copa (a exceção é a Austrália, que tem 1 estrangeiro). A conclusão é lógica: uma vez que o país deixa de ser “nanico” no futebol, começa a ficar difícil encontrar quem tope a naturalização e seja bom o suficiente para fazer diferença na equipe.
Entre os países menores, porém, o problema das naturalizações picaretas é sensível, e já seria o caso de a FIFA pensar em regras mais rígidas para coibir distorções. Afinal, uma das razões de o futebol de seleções existir é justamente a proibição de “contratar” jogadores, diferentemente do que acontece com os clubes.
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