terça-feira, 6 de outubro de 2015

Romário foi um jogador decisivo?

Romário é reconhecido como um dos maiores atacantes da história do futebol mundial. Não são poucos os que o consideram o melhor de todos os tempos, no que diz respeito à capacidade pura de marcar gols. O “Baixinho” também é muito lembrado por sua frieza em momentos decisivos e por sua capacidade de “resolver” jogos, mesmo participando de poucos lances. Mas aí é que entra a questão: será que os números comprovam essa fama?

Neste texto, dou início a uma nova série de análises sobre o desempenho em jogos decisivos de alguns dos maiores atacantes da história (anteriormente, fiz o mesmo para os principais jogadoresda atualidade). Para fazer estas avaliações, pesquisei a carreira de cada atleta e montei duas listas. Uma apresenta o desempenho em finais, incluindo placares e gols marcados. Outra mostra os resultados nos jogos de mata-mata, a partir das oitavas-de-final, considerando apenas vitórias e derrotas. Em ambos os cálculos, foram contados os números das seleções principais e olímpica e de todas as competições de clubes, excluindo as Supercopas nacionais e torneios amistosos. Nos dados referentes a mata-mata, como nem sempre as escalações das partidas estão disponíveis, partiu-se da suposição de que o atleta em questão sempre participou dos jogos, a não ser quando estivesse sabidamente suspenso ou machucado.

 

Os resultados


Vejamos como Romário se saiu nas finais que disputou:

Final (Ano)
Resultado
Gols
Campeonato Carioca (1986)
0x2 Flamengo***
0
Campeonato Carioca (1987)****
1x0 Flamengo
0
Campeonato Carioca (1988)
3x1 Flamengo***
0
Olimpíada (1988)
1x2 União Soviética
1
Supercopa Europeia (1988)
1x3 Mechelen***
0
Copa Intercontinental (1988)
2x2* Nacional
2
Copa da Holanda (1989)
4x1 Groningen
1
Copa América (1989)****
1x0 Uruguai
1
Copa da Holanda (1990)
1x0 Vitesse
0
Liga dos Campeões (1994)
0x4 Milan
0
Copa do Mundo (1994)
*0x0 Itália
0
Supercopa Sul-Americana (1995)
1x2 Independiente***
1
Torneio Rio-São Paulo (1997)
3x4 Santos***
2
Copa das Confederações (1997)
6x0 Austrália
3
Copa do Brasil (1997)
2x2** Grêmio
1
Campeonato Carioca (1999)
2x1 Vasco***
0
Mundial de Clubes (2000)
0x0* Corinthians
0
Torneio Rio-São Paulo (2000)
1x6 Palmeiras***
1
Campeonato Carioca (2000)
1x5 Flamengo***
0
Copa Mercosul (2000)
6x4 Palmeiras***
4
Campeonato Brasileiro (2000)
4x2 São Caetano***
2
Campeonato Carioca (2001)
3x4 Flamengo***
0
*Decisão por pênaltis
**Derrota pela regra dos gols fora de casa
***Final disputada em mais de um jogo
****Não era oficialmente uma final, mas vale como uma, por ter sido o jogo decisivo na última rodada da fase final do torneio

Em jogos de mata-mata, o desempenho de Romário é o seguinte:

Equipe
Vitórias
Derrotas
%
Brasil
10
1
90,9%
PSV
13
8
61,9%
Barcelona
1
2
33,3%
Flamengo
13
6
68,4%
Vasco
11
11
50,0%
Fluminense
1
2
33,3%
TOTAL
49
30
62,0%

Análise


Para um jogador que figura entre os maiores atacantes da história e tem fama de ser decisivo, os números de Romário são bastante decepcionantes. Em jogos de mata-mata, sua média é pior até que a de Zlatan Ibrahimovic, jogador famoso por não se sair bem nesse tipo de partida. Em finais, o “Baixinho” também era irregular. Embora tenha feito algumas partidas memoráveis, em muitos casos esteve sumido – não por acaso, perdeu 12 das 22 decisões que disputou.

ROMÁRIO: um dos jogadores mais
decisivos da história da Seleção Brasileira
Olhando em detalhes os números, dá para perceber por que Romário ganhou a fama de jogador decisivo, principalmente aqui no Brasil. Apesar de sua média geral ser fraca, com a Seleção Brasileira o atacante foi praticamente perfeito. Com ele no time, o Brasil foi campeão mundial em 1994, campeão da Copa América em 1989 (encerrando um jejum de 40 anos), campeão da Copa das Confederações em 1997 e medalha de prata na Olimpíada de 1988. Em todos esses torneios, Romário jogou muito bem e, inegavelmente, foi decisivo. Se não tivesse enfrentado problemas com contusões em 1990 e 1998, seu status na história do futebol provavelmente teria sido ainda maior.

A explicação para a discrepância entre a reputação de Romário e seus números reais passa por seu estilo em campo. Diferentemente dos grandes atacantes atuais, que costumam buscar mais o jogo e se envolver também na construção de jogadas, o “Baixinho” tinha foco exclusivo em fazer gols (principalmente na segunda metade da carreira). Com isso, seu desempenho sempre dependeu muito da qualidade do resto do time. Quando jogou em equipes fortes, como a Seleção Brasileira ou o Vasco de 2000, Romário se destacou e geralmente foi decisivo. No entanto, quando a equipe era mais limitada e dependia apenas do atacante, Romário mal pegava na bola e pouco fazia.

Para responder à pergunta do título do texto, é preciso separar dois Romários. O que jogou pela Seleção Brasileira, sem dúvida, foi um dos jogadores mais decisivos da história. Pelos clubes, teve momentos de grande brilho, mas seu histórico está longe de ser consistente como o de astros como Messi. Quando jogou em grandes times e teve a chance de “matar” os adversários, Romário foi decisivo. No entanto, é um jogador que depende muito do resto do time para brilhar, o que talvez o deixe um passo atrás dos maiores de todos os tempos.

7 comentários:

  1. Perfeita a tua análise!
    No ano passado, fiz uma análise semelhante!
    Tem gente que torceu o nariz, mas engoliu em seco!
    😅😂🤣

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  2. Na Copa Intercontinental, em 1988, Romário fez um gol! O outro gol do PSV foi de Ronald Koeman.

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  3. E continua desatualizada a página! Romário fez UM gol contra o Nacional no Intercontinental de 1988!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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