segunda-feira, 16 de março de 2015

No Campeonato Argentino, inchaço derrubou o equilíbrio


Em 2015, a Argentina experimenta uma “brilhante” novidade em seu torneio: o número de clubes participantes do campeonato nacional aumentou de 20 para 30 clubes. Não contente em dar espaço na elite para potências como Crucero del Norte, Temperley e Aldovisi, a AFA ainda deu seu toque criativo: além das 29 rodadas normais, incluiu uma 30ª, em que todas as equipes enfrentam seus maiores rivais.

Mudanças abruptas de forma de disputa, mesmo quando bem intencionadas, costumam trazer efeitos negativos para a competição. Isso fica claro quando analisamos a evolução histórica do equilíbrio no Campeonato Argentino:


*Era amadora do futebol argentino não foi considerada. Estão incluídas apenas as edições disputadas em grupo único.
**Em azul, o Índice de Equilíbrio ano a ano; em preto, a linha de tendência calculada pelo Excel.

No gráfico, chama a atenção a forma como o equilíbrio despencou em 1967. Não por coincidência, nesse ano houve uma total reestruturação do futebol na Argentina, adotando-se a fórmula de dois torneios por temporada. Primeiro, jogava-se o Campeonato Metropolitano, com os times da região de Buenos Aires – até então, os únicos que disputavam o torneio nacional. Depois, era disputado o Campeonato Nacional, composto pelos 12 melhores times do Metropolitano, mais 4 do resto do país. O resultado? Esses 4 convidados viraram sacos de pancadas, e o equilíbrio despencou. A história se manteve a mesma nos anos seguintes.

E por que o equilíbrio voltou a crescer em 1970? Aí entra uma distorção metodológica, fruto da “criatividade” dos dirigentes argentinos: de 1967 a 1969, o Metropolitano foi disputado em grupos e o Nacional em pontos corridos. Em 1970, inverteu-se a regra. Assim, desse ano em diante, passou-se a calcular a série histórica com base só no torneio da região de Buenos Aires (o que, na prática, já acontecia antes de 1967), que é muito mais equilibrado.

Agora, em 2015, a AFA novamente tem a brilhante ideia de içar 10 equipes de nível mais baixo para a primeira divisão. Desta vez, o impacto não deverá ser tão dramático, mas tudo indica que o equilíbrio vai cair – para não falar do nível técnico, o qual certamente despencará.

Já que estamos falando de equilíbrio, vale mencionar que esta é a primeira vez que faço a análise histórica para um país fora da Europa. Comparando o Índice de Equilíbrio da Argentina desde 1930 com alguns países europeus, como será que ela se sai?


*Rosa: Campeonato Inglês; Azul Escuro: Campeonato Francês; Amarelo: Campeonato Espanhol; Verde: Campeonato Italiano; Vermelho: Campeonato Português; Azul Claro: Campeonato Argentino. Todas são linhas de tendência calculadas pelo Excel a partir dos Índices de Equilíbrio anuais de cada campeonato.

Na média, o equilíbrio do futebol argentino não destoa muito do que se vê nas principais ligas europeias. A principal diferença é que, nos nossos vizinhos, há motivos para acreditar que o equilíbrio esteja se recuperando nos últimos anos (até pelos eternos problemas financeiros dos “grandes”), ao contrário do que acontece na Europa em geral. Com o inchaço do Campeonato Argentino, no entanto, a tendência pode novamente se inverter.

Em tempo: adoraria fazer a análise da evolução do equilíbrio no Brasil, mas a “criatividade” dos regulamentos do passado impede isso. Só temos torneios em pontos corridos há 12 anos, o que impede a construção de uma série histórica significativa (seria possível calcular o índice também para o período em que havia uma primeira fase em grupo único antes dos playoffs, mas o resultado seria distorcido, já que a necessidade de apenas ficar entre os 8 primeiros faz os melhores times diminuírem o ritmo em boa parte do torneio). E o pior é que já tem gênios querendo mudar tudo outra vez...

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