segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A seca histórica em São Paulo


Desde a eliminação do São Paulo na Copa Sul-Americana, a imprensa esportiva paulista tem noticiado com certo destaque que, pela primeira vez na história, o ano terminará sem que nenhum dos quatro grandes do Estado tenha ganhado nenhum título – nem mesmo o do Campeonato Paulista. Será esse um sinal de declínio do futebol local?

A resposta é “não”. Trata-se mais de uma coincidência estatística do que de um fato realmente significativo. Basta lembrar que no Campeonato Brasileiro há dois paulistas entre os quatro primeiros colocados, à frente de todos os times cariocas (e melhores, também, que os gaúchos). O que tornou 2014 realmente diferente foi o fato de o título estadual ter ficado nas mãos de um clube pequeno – nas outras três vezes em que isso aconteceu (desde a fundação do São Paulo, o “grande” mais jovem), sempre calhou de um dos grandes ganhar outro título.

Quer uma “prova” estatística? Basta dizer que, em 2012, há apenas 2 anos, também aconteceu um fato inédito: todos os quatro grandes de São Paulo foram campeões no mesmo ano – e isso sem nem considerar o Campeonato Paulista. Sem contar os Estaduais, tal feito nunca foi alcançado nem pelos grandes do Rio de Janeiro nem pelos do Rio Grande do Sul – em Minas, Atlético e Cruzeiro foram campeões no mesmo ano em 4 ocasiões, incluindo as últimas duas temporadas (as outras foram 1992 e 1997).

O fato de feitos históricos positivos e negativos em São Paulo se sucederem com um intervalo de apenas 1 temporada só mostra como são grandes as oscilações no futebol brasileiro – além de indicar que tais fatos devem ser encarados como curiosidades, não como base para análises sérias.
Mas já que estamos falando de curiosidades, será que a falta de títulos entre clubes grandes também aconteceu em outros dos principais Estados? Vejamos:

- São Paulo: a última vez que nenhum dos 4 gigantes foi campeão deu-se em 1931 – antes da fundação do São Paulo, portanto.

- Rio de Janeiro: coincidentemente, a última vez que os 4 grandes não ganharam nada também foi em 1931 – a diferença é que nessa época todos os gigantes do Rio de Janeiro já existiam. A “seca” também foi geral em 1928 e 1926.

- Minas Gerais: com apenas 2 grandes, é mais fácil nenhum time ganhar nada em um determinado ano. A última vez que isso aconteceu foi em 2005, e há mais 13 ocorrências, 9 das quais nas décadas de 1920 e 1930.

- Rio Grande do Sul: a última vez que os dois gigantes ficaram de mãos abanando foi em 2000. Antes disso, houve mais 14 casos: um em 1998, um em 1954 e todos os outros nos anos 1920 e 1930.

Sem considerar títulos nos campeonatos estaduais, a análise da série histórica fica um pouco mais significativa. Vejamos os resultados (dados a partir de 1960, primeiro ano da Taça Brasil):

- São Paulo: a maior “seca” dos paulistas em torneios nacionais durou 8 temporadas, de 1978 a 1985. Nos últimos anos, a tendência vinha sendo oposta: em 2013, os times de SP completaram 10 anos seguidos com títulos de expressão, sequência quebrada em 2014.

- Rio de Janeiro: a maior sequência sem títulos importantes dos cariocas também é de 8 anos, entre 1960 e 1967. A partir do 1º título nacional, que veio em 1968, o Estado nunca ficou mais que 5 temporadas sem ganhar alguma coisa. Os cariocas vinham de uma série de 5 anos com títulos, que também foi para o vinagre em 2014.

- Minas Gerais: Cruzeiro e Atlético já passaram 14 anos sem ganhar nada relevante, entre 1977 e 1990. Entre 2004 e 2012, chegaram perto de igualar a série (9 anos), mas voltaram ao topo em grande estilo, dominando o futebol brasileiro nas últimas duas temporadas.

- Rio Grande do Sul: os gigantes gaúchos não ganharam nada fora do Estado por 15 anos, entre 1960 e 1974. A exemplo dos cariocas, porém, nunca ficaram mais de 5 temporadas sem títulos depois da 1ª conquista. No entanto, já faz 4 anos que nenhum gaúcho ganha nada importante...

Um comentário:

  1. Legal essa análise.

    E é bom a imprensa nacional ir se acostumando, isso tende a ser cada vez mais frequente (a descentralização das forças), apesar dos direitos de TV serem bem desbalanceados. A análise realmente só dá pra fazer nesses 4 estados, no outros ficaria muito estranho (nem cito mais SC neste tópico, já que só temos um título nacional de verdade - a Copa do Brasil de 1991 do Criciúma).

    Citei que é cada vez mais frequente porque esses estados citados ocupam uma porcentagem cada vez menor de vagas nas divisões principais. Só ver que os times paulistas, que antes ocupavam bom espaço, não só na Série A, mas também na B, estão se esvaindo. Os pequenos cariocas já nem podem ser chamados assim, de tão mínimos que estão, idem aos gaúchos. Mineiros (tirando os 2 grandes) ainda fazem força na B, mas não têm firmeza na A.

    Se bem que, por mais que estejam ocupando vagas, ainda faltam títulos mesmo pra times fora dos 4 estados. Bate-se na trave até, mas no final ainda falta algo... Não sei se isso vai mudar, já que ainda soa estranho quando vê-se um Atlético-PR (o mais bem sucedido dentre "os outros") brigando pela Libertadores...

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