segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O (des)equilíbrio na distribuição do dinheiro da TV


Desde a implosão do Clube dos 13, habilmente arquitetada por Ricardo Teixeira e pela Rede Globo, a questão dos contratos de direitos de transmissão televisivos tem sido motivo de muitas discussões – e preocupações.

Os temores se explicam: sem o Clube dos 13, cada equipe negocia individualmente seu contrato de transmissão. Com isso, os times de maior torcida (e maior audiência) ganham poder de barganha. Aos pequenos, restaria aceitar qualquer oferta que apareça.

Esse modelo de negociação individual tem causado uma disparidade absurda na Espanha, onde Barcelona e Real Madrid ganham o triplo do 3º colocado e quase 11 vezes mais que as equipes pequenas. Enquanto isso, na Inglaterra, que negocia em bloco, o maior contemplado não chega a ganhar nem o dobro do último colocado.

Será que corremos esse risco no Brasil? É possível fazer uma comparação da distribuição da renda das televisões nos principais países, usando o Índice deGini:

País
Índice de Gini
Maior / Menor
Inglaterra 2011/2
8,2%
1,6
Argentina 2010
10,8%
1,8
Alemanha 2010/1
12,9%
2,1
Brasil 2011
21,2%
2,8
Itália 2012/3
24,6%
4,2
Brasil 2012
27,3%
4,7
Espanha 2011/2
47,6%
10,8
*Cálculo baseado nos números mais recentes disponíveis. Com exceção de Inglaterra e Itália, que publicam dados oficiais, a conta baseia-se em informações divulgadas na imprensa e em estimativas. Tabela inclui apenas a transmissão do campeonato nacional.
**0% significa total igualdade, ou seja, todos os times recebem o mesmo valor; 100% significa desigualdade absoluta, ou seja, um time fica com todo o dinheiro.

A boa notícia da tabela é que, mesmo com o aumento da concentração de renda no último ano, ainda estamos muito longe do abismo financeiro da Espanha. Aliás, isso é lógico, já que a diferença de popularidade dos dois maiores times em relação aos outros aqui no Brasil não é tão grande quanto no país ibérico.

É interessante notar, por outro lado, que a distribuição de renda que existia na época do Clube dos 13 (até 2011) não era muito igualitária, ficando bem longe do que se vê na Inglaterra, Alemanha e Argentina (e olha que nossos vizinhos têm dois “gigantes” bem mais populares localmente).

Também fica claro que não há correlação entre equilíbrio na distribuição dos direitos de TV e equilíbrio no campeonato, como pode-se verificar comparando esta tabela com o ranking de equilíbrio. É evidente que os times mais ricos se saem melhor, mas isso não significa que uma distribuição igualitária do dinheiro da TV, por si só, resulte em um campeonato mais embolado.

Além disso, uma ressalva deve ser feita: a tabela acima considera apenas o campeonato nacional. Na Europa, o dinheiro recebido pelas transmissões da Liga dos Campeões é significativo e cria um “fosso” entre as equipes que participam do torneio e as outras. Aqui, no Brasil, isso não acontece, já que a Conmebol repassa pouco dinheiro aos clubes pela transmissão da Libertadores.

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