É clichê entre os comentaristas esportivos dizer que o
Campeonato Brasileiro é equilibradíssimo. No entanto, ninguém sabe apontar os
motivos desse equilíbrio, para além do manjado “o nível técnico é muito
parelho”.
Aqui, neste blog, tenho tentado expor algumas causas desse
equilíbrio. Em um texto anterior, mostrei como a Seleção Brasileira contribui
para embolar a briga, ao tirar os melhores jogadores de seus times em 7 rodadas
do torneio. Agora, trago outro dado que ajuda a explicar o equilíbrio: os times
não resistem à pressão de serem líderes.
Como isso pode ser mostrado numericamente? Analisando o
desempenho das equipes que estiveram na ponta do Brasileirão. Excluindo-se as
duas primeiras rodadas (quando não se pode falar em líder de fato), o campeonato
teve os seguintes times no topo da tabela:
- São Paulo: da 3ª à 6ª rodada;
- Corinthians: da 7ª à 23ª, da 28ª à 30ª e desde a 32ª
rodada (até a 35ª, quando escrevo este texto);
- Vasco: da 24ª à 27ª e na 31ª rodada.
Vejamos, agora, qual foi o desempenho dessas equipes nas
rodadas em que eles tiveram que defender a liderança (ou seja, da 4ª à 7ª para
o São Paulo, a partir da 8ª para o Corinthians, e assim por diante):
- São Paulo: 2V / 0E / 2D = 6 pontos em 4 jogos
- Corinthians: 11V / 3E / 9D = 36 pontos em 23 jogos
- Vasco: 1V / 3E / 1D = 6 pontos em 5 jogos
Somando o desempenho das três equipes, temos 48 pontos em 32
partidas, ou seja, uma média de 1,5 ponto ganho por jogo. Com essa
produtividade, uma equipe ocuparia, hoje, apenas a 9ª colocação no Campeonato
Brasileiro – e olha que as vitórias do Corinthians nas últimas duas rodadas
melhoraram a média.
Esse dado é impressionante. Seria até normal que o
desempenho combinado dos líderes ficasse um pouco abaixo da pontuação do
primeiro colocado. Mas a diferença no Brasileirão é assustadora. Os números
deixam claro que o rendimento das equipes cai assim que elas assumem o primeiro
lugar. Só não aconteceram mais trocas na liderança graças à incompetência dos segundos
colocados, que muitas vezes tropeçaram junto com os líderes.
A queda de desempenho na 1ª colocação fica ainda mais clara
quando comparamos os resultados de São Paulo, Corinthians e Vasco na liderança
e fora dela. Vejamos:
- São Paulo: 6 pontos em 4 jogos como líder (1,5 por jogo); 47
pontos em 31 outros jogos (1,52)
- Corinthians: 36 pontos em 23 jogos como líder (1,57 por
jogo); 28 pontos em 12 outros jogos (2,33)
- Vasco: 6 pontos em 5 jogos como líder (1,2 por jogo); 56
pontos em 30 outros jogos (1,87)
Dos três times, só o São Paulo não viu seu aproveitamento
despencar enquanto esteve na liderança (isso porque a campanha do Tricolor foi
medíocre durante todo o campeonato). Já Vasco e Corinthians viram seu
aproveitamento cair mais de 30% nas rodadas em que tiveram que lidar com o peso
da liderança.
E esse padrão é bom ou ruim para o campeonato? Em termos de
emoção, claro, é ótimo, pois aumenta muito o interesse na disputa pela
liderança. Em termos técnicos, no entanto, é ruim. Essa enorme oscilação leva a
crer que os times que chegaram ao topo da tabela não são genuinamente fortes, apenas
aproveitaram bons momentos de alguns jogadores. O fim da “hot streak”, acompanhada da pressão pela
ponta, faz o líder tropeçar em série, até finalmente perder o primeiro lugar.
Assim, fica-se com a impressão de que o Campeonato Brasileiro não é
equilibrado, é aleatório.
Update: neste domingo, o Corinthians ganhou a terceira partida seguida, melhorando um pouquinho o aproveitamento dos líderes - mas não invalida nada do que está escrito aqui. Pelo contrário: se o alvinegro realmente for campeão, o terá feito por ser o único a conseguir segurar a liderança em meio à pressão.