domingo, 7 de agosto de 2011

Índice de renovação dos campeonatos nacionais

Tomando como base as comparações que fiz no post sobre as maneiras de (não) prever o Brasileirão, foi possível criar um novo ranking para os campeonatos internacionais: o índice de renovação.

Este ranking mede o quanto a posição dos clubes na classificação final mudou de um ano para o seguinte. Assim, um campeonato em que os 5 primeiros colocados mantiveram as mesmas posições nos dois anos comparados (caso da Ucrânia) deverá ter um índice de renovação muito mais baixo do que um no qual o campeão caiu para a 14ª posição – como aconteceu no Brasil.

Resumidamente, o ranking é calculado da seguinte forma: comparam-se dois a dois todos os times que disputaram as duas edições (ou seja, promovidos e rebaixados são descartados). Se A esteve na frente de B em ambos os casos, não houve “renovação”; se B ultrapassou A, houve. Feitas todas as comparações, é só contar o número de renovações e dividir pelo total de comparações (para uma explicação mais detalhada, clique aqui).

Vejamos, então, como ficou a lista, para os 15 campeonatos mais importantes do mundo (tomando como base as duas últimas edições já encerradas de cada torneio):

Pos.
País
Renovação
1
Brasil
55,8%
2
Alemanha
50,0%
3
Argentina
41,6%
4
França
38,2%
5
Bélgica
37,4%
6
Itália
33,1%
7
Espanha
31,6%
8
Escócia
29,1%
9
Turquia
24,8%
10
Rússia
20,5%
11
Grécia
19,2%
12
Portugal
18,7%
13
Holanda
18,3%
14
Inglaterra
14,7%
15
Ucrânia
7,7%

De maneira nada surpreendente, o Brasileirão foi o campeonato com maior renovação. O Alemão também teve grandes mudanças. Depois, aparecem outros torneios com fama de equilibrados, caso de Argentina e França.

Na ponta de baixo, a Ucrânia foi, por larga margem, o país de maior imobilismo (os cinco primeiros colocados mantiveram suas posições!). A Inglaterra manteve a tendência recente de previsibilidade, mudando menos que países tradicionalmente desequilibrados, como Grécia, Portugal e Holanda.

O resultado mostra com 99% de confiança (fiz a análise estatística!) que há uma relação entre o Índice de Equilíbrio e o Índice de Renovação. Tal constatação é lógica: afinal, se os melhores (e piores) times estão sempre mudando, é de se esperar que a classificação do campeonato seja equilibrada; por outro lado, se os líderes são sempre os mesmos, na maioria das vezes o campeonato será desequilibrado.

Deve-se pensar em um fato: se, por um lado, é ruim um campeonato com índice de renovação baixo (torna-se previsível, indicando um “fosso” entre grandes e pequenos), será que é bom um índice de renovação muito alto?

No caso do Brasileirão, por exemplo, a renovação foi maior que 50%, o que significa que a classificação final de 2010 é mais parecida com a classificação de 2009 invertida do que com a tabela normal! Uma variação desse nível é equivalente à de um torneio em que todos os jogadores fossem embaralhados e sorteados aleatoriamente ao fim de cada ano. Em uma ou outra temporada, tal variação pode ser divertida, mas, se o padrão se repetir ao longo do tempo, é indício de um torneio pobre, sem times organizados.

3 comentários:

  1. Tomaz,

    Na sua opinião, porque no Brasil não temos gigantes nacionais em termos de títulos como um Barcelona, um Real Madrid ou um Manchester United, por exemplo?
    É claro que em termos de torcida, Flamengo e Corinthians se equiparam a estes clubes, mas isso não se reflete em polarização quando se trata de títulos.
    Será que este fato pode ser explicado apenas por razões financeiras? Por que no Brasil o poder econômico dos clubes mais ricos não é suficiente para que estabeleçam um domínio como o que se observa nos países supracitados?
    Você acredita que com o amadurecimento dos pontos corridos e uma melhor organização do calendário do futebol brasileiro, possa surgir algum gigante brasileiro que domine os campeonatos nacionais?

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  2. Oi, Carlos!

    Acho que o principal fator para a ausência de forças hegemônicas no Brasil foi o fato de o nosso futebol ter sido criado com base nos campeonatos estaduais. A inexistência de um torneio nacional no passado criou “reservas de mercado” para o surgimento de times com torcida grande em vários Estados.

    Também ajudaram as fórmulas de disputa malucas do Brasileirão, que dificultaram a concentração de títulos. A instabilidade dos clubes (que demitem técnicos por causa de 3 derrotas) e a perda de jogadores para a Europa (os melhores times vendem mais atletas, o que equilibra o campeonato) também impedem a sedimentação de poucos times na ponta.

    É curioso comparar a situação daqui com a Europa: nossos Estados equivaleriam aos países de lá, e o Brasileiro equivaleria à Liga dos Campeões (que ainda estaria nos moldes do nosso Nacional antigo). O processo de sedimentação dos “grandes” é bem parecido. Note-se que, dentro dos Estados, há poucos times grandes e que, a nível nacional, há muitos candidatos ao título – como na LC européia.

    Com a adoção dos pontos corridos, acho que há, sim, a tendência a uma diminuição no número de “grandes”. Alguns times, como Atlético-MG e Botafogo, já sofrem para manter esse status, principalmente no que diz respeito a resultados. Mas acho que esse é um processo lento, e ainda demorará algumas décadas até que tenhamos só 3 ou 4 forças dominantes no Brasil.

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  3. Alexandre "Garrincha"17 de agosto de 2011 às 15:58

    Isso se ocorrer essa "sedimentação". Pelas dimensões do Brasil e pelo regionalismo, acredito que sempre haverá diversas equipes com chance de título, com boa alternância ainda das "boas fases" de alguns clubes. De vez em quando ocorrerá de alguma equipe "temporária" surgir, fazer bonito no cenário nacional, depois cair no ostracismo. De um "grande" cair depois subir. São coisas que nem o tempo vai mudar.

    obs.: Ah, eu sou o Alexandre que sempre comentou desde o início desse blog, só que estou com problemas de identificação por isso mudei no "comentar como".

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