Vejamos: a média de idade nesta convocação é de 26,4 anos. Se Dunga mantivesse exatamente os mesmos nomes em 2018, a Seleção chegaria à Copa do Mundo com uma absurda média de 29,4 anos! A falta de renovação do Brasil fica evidente quando analisamos o gráfico com as idades das equipes brasileiras nas últimas 10 Copas Américas:
*Em azul, a média de idade dos convocados; em laranja, a média projetada
para o Mundial seguinte.
A média de idade da convocação de Dunga é a maior dos últimos 10 torneios. Pior: pela terceira vez seguida, supera o recorde como a mais velha do período, considerando-se a projeção para o Mundial seguinte. Os números demonstram duas coisas. Primeiro, que o Brasil realmente tem encontrado dificuldades para produzir novos jogadores de ponta. Segundo, que Dunga completamente ignorou o “consenso” que se formara entre público e imprensa sobre a necessidade de um trabalho de longo prazo. O técnico sabe que seu prestígio não é grande e que precisa de bons resultados para manter-se no cargo. A presença de nomes como Robinho (34 anos em 2018), Diego Tardelli (33) e Jefferson (35), entre outros, indica que o técnico está preocupado apenas em ganhar a Copa América. Só depois é que ele vai pensar em montar a base do Mundial.
A preocupação de Dunga é péssima para o futebol brasileiro, mas está longe de ser descabida. Entre os técnicos que dirigiram o Brasil nas últimas 7 Copas Américas (excluindo-se aquelas realizadas no ano anterior a Copas do Mundo), apenas 3 sobreviveram até o Mundial seguinte:
Torneios
|
Jogadores
nos dois torneios
|
Técnico
Copa América
|
Técnico
Mundial
|
Copa América 1987 x Mundial
1990
|
10
|
Carlos
Alberto Silva
|
Sebastião
Lazaroni
|
Copa América 1991 x Mundial
1994
|
8
|
Paulo
Roberto Falcão
|
Carlos
Alberto Parreira
|
Copa América 1995 x Mundial
1998
|
10
|
Zagallo
|
Zagallo
|
Copa América 1999 x Mundial
2002
|
8
|
Vanderlei
Luxemburgo
|
Luiz
Felipe Scolari
|
Copa América 2004 x Mundial
2006
|
5
|
Carlos
Alberto Parreira
|
Carlos
Alberto Parreira
|
Copa América 2007 x Mundial
2010
|
10
|
Dunga
|
Dunga
|
Copa América 2011 x Mundial
2014
|
10
|
Mano
Menezes
|
Luiz
Felipe Scolari
|
Com esse histórico, o imediatismo do treinador é compreensível – e a total falta de planejamento da CBF fica escancarada. Também é importante notar que, nos 7 torneios considerados, o número de jogadores convocados para a Copa América que permaneceram na Seleção até o Mundial nunca passou de 10 – bem menos que a metade, portanto. Curiosamente, no caso da última Copa do Mundo, os 10 jogadores mantidos incluem os 3 goleiros e 4 defensores.
Vale dizer que outros países fizeram convocações com jogadores ainda mais velhos que o Brasil: a pré-convocação do Chile tem média de 28,2 anos, e a da Argentina, de 27,8. Mas trata-se de dois times que foram bem no último Mundial e, por isso, é natural que se renovem menos. Já o Brasil precisava de uma grande mudança, repensando seus jogadores e seu modo de jogar, depois do vexame da última Copa do Mundo (o qual não se limitou ao 7 a 1, mas também ao futebol feio e vacilante que apresentou durante todo o torneio). Dunga já provou que não está no cargo para fazer isso.
O pior é que, tanto para o Brasil quanto para outros países, um bom desempenho na Copa América nem sequer significa que o time esteja no caminho certo. Basta uma olhada na tabela abaixo para comprovar tal fato:
Torneio
|
Campeão
|
Resultado
no Mundial
|
Melhor Sul-Americano
na Copa
|
Copa América 1987
|
Uruguai
|
Oitavas-de-final
|
Argentina
|
Copa América 1991
|
Argentina
|
Oitavas-de-final
|
Brasil
|
Copa América 1995
|
Uruguai
|
Não
disputou
|
Brasil
|
Copa América 1999
|
Brasil
|
Campeão
|
Brasil
|
Copa América 2004
|
Brasil
|
Quartas-de-final
|
Brasil
e Argentina
|
Copa América 2007
|
Brasil
|
Quartas-de-final
|
Uruguai
|
Copa América 2011
|
Uruguai
|
Oitavas-de-final
|
Argentina
|
Com exceção do Brasil de 1999, campeão em 2002 (isso depois de dar vexame na Copa América de 2001), em nenhuma das edições consideradas o campeão da Copa América não chegou nem às semifinais do Mundial seguinte. Pior: em 5 dos 7 casos, o campeão do torneio local sequer foi o melhor sul-americano da Copa do Mundo subsequente. Dado que a Copa América, em si, é um título de média grandeza (no máximo), não faria mais sentido usá-lo para montar uma base para o futuro, em vez de tentar o título a todo custo? Não se sua prioridade for sobreviver no cargo...
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