quinta-feira, 15 de maio de 2014

A decadência dos brasileiros – e da Libertadores


Com a eliminação do Cruzeiro para o San Lorenzo, pela primeira vez desde 1991 o Brasil não terá nenhum representante nas semifinais da Copa Libertadores. Esse dado, repetido por dezenas de comentaristas esportivos, mostra o quanto foi péssima a campanha dos brasileiros este ano – mas está longe de ser o único dado alarmante.

Em 2014, todos os times brasileiros foram eliminados por estrangeiros. Ou seja, não houve confrontos diretos nem “azar” no sorteio. Além de não ter ninguém na semi, só contamos com 1 representante nas quartas-de-final, coisa que só aconteceu uma vez desde que o formato da Libertadores com 32 clubes foi adotado, há 14 anos – isso foi em 2011, quando o único representante, o Santos, acabou campeão. Como comparação, basta dizer que, entre 2006 e 2010, a média era de 3 brasileiros nas quartas-de-final a cada ano.

O mau desempenho brasileiro fica ainda mais sério quando olhamos para os vizinhos e percebemos que não foram grandes times que nos derrotaram. Muito pelo contrário. Dos seis clubes ainda vivos na Libertadores, apenas um já foi campeão (Atlético Nacional, em 1989). Por mais que o San Lorenzo seja simpático, por ser o clube do Papa, está longe de ser um timaço. Nacional, do Paraguai, Lanús, Atlético Nacional e os outros seguem aquela fórmula de um remendão de jovens recém-saídos das categorias de base misturados com veteranos que não são bons o bastante para jogar na Europa.

A atual pobreza franciscana dos clubes argentinos e demais latinos (exceção feita, talvez, aos mexicanos) os impede de montar times decentes. E, mesmo assim, os “ricos” (mas endividados) brasileiros foram mal. Agora, sem a cacofonia do oba-oba sobre o campeão (quando ele vem do Brasil), fica mais fácil perceber que o nível técnico da Libertadores, na verdade, tem sido patético.

Não é coincidência o fato de que, nos últimos 7 anos (já incluindo 2014), o torneio teve 14 finalistas diferentes. Nesse mesmo período, foram 25 clubes diferentes nas semifinais. Será que temos tantos times bons na América do Sul, ou seria esse um sintoma de que um elenco mediano, somado a um pouco de sorte, tem sido suficiente para levar equipes longe na Libertadores?

Para comprovar isso, basta seguir uma lógica simples. Quando um time realmente bom é montado, espera-se que ele mantenha o alto desempenho por um período razoável de tempo. Não vai ser sempre campeão, até porque o sistema de mata-mata é propenso a zebras. Mas deve ter uma certa constância ao longo de alguns anos – digamos, chegar pelo menos até as semifinais na maioria das vezes. Na Europa, isso acontece. Vejamos quantos dos semifinalistas da Liga dos Campeões conseguiram repetir o desempenho (ou seja, chegar de novo até a semifinal) no ano seguinte, durante a última década:



 
Ok. E na Libertadores, o que tivemos? Veja só:



Na última década, só 6 times conseguiram fazer boas campanhas duas temporadas seguidas. Pior: nos últimos 6 anos, só 1 atingiu essa marca (o Santos, campeão em 2011 e semifinalista em 2012). Por mais que alguém possa acusar o futebol europeu de ser “previsível”, a repetição de parte dos semifinalista mostra que o continente tem pelo menos um grupo de grandes times. Na América do Sul, a rotatividade indica que só temos um bando de times medianos (para não dizer fracos) que aparecem de acordo com a boa fase de um jogador, ou a sorte pura e simples.

Renovação de equipes é uma coisa salutar; rodízio puro e simples é indício de baixo nível técnico. É provável que em 2015 os brasileiros se recuperem e voltemos a ter um campeão nacional na Libertadores. Mas provavelmente será outro elenco mediano, que terá disparado na hora certa. Afinal, nada indica que o nível técnico do torneio vá melhorar tão cedo.

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