segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Brasileirão aleatório


Chegamos ao fim do 1º turno do Campeonato Brasileiro e, como de costume, surpresas não faltam no torneio. Na verdade, até parece que a classificação atual traz mais surpresas que resultados previsíveis. Será que isso é verdade?

Em situações normais, espera-se que os resultados da maioria das equipes em um semestre sejam parecidos com os do semestre anterior. Ou seja, a classificação do 1º turno do Brasileirão-2013 deveria ser semelhante à do 2º turno do Brasileirão-2012 (excluindo-se os 4 promovidos e rebaixados). Colocando-se em um gráfico, a relação deveria ser mais ou menos esta:


Resultados do Inglês 2011/2 comparados com os de 2012/3

No entanto, o que temos no caso do Campeonato Brasileiro é isto:

 
Resultados do 1ª turno do Brasileiro-2013 comparados com os do 2º turno do Brasileiro-2012

O coeficiente de determinação (r²) do gráfico brasileiro é de 0,004 (comparado com 0,707 do Inglês), o que significa que não existe nenhuma relação entre os resultados do ano passado com os deste ano. Em outras palavras, isso quer dizer que o melhor time do 2º turno de 2012 tem iguais chances de ser novamente líder ou de ser lanterna em 2013, ou que o 16º do semestre passado não teria nenhum problema para ser líder hoje.

Os resultados comprovam esse sobe-e-desce. Fluminense e São Paulo, 2 dos 3 melhores times do 2º turno de 2012, neste campeonato ocupam apenas a 10ª e 14ª posições (excluídos os recém-promovidos), respectivamente. Já o atual líder, o Cruzeiro, foi apenas 12º colocado no returno passado. Por outro lado, Grêmio e Corinthians, na ponta, e Portuguesa e Vasco, na rabeira, aproximadamente repetem o desempenho passado.

Os otimistas podem usar esses dados para exaltar o equilíbrio do Campeonato Brasileiro. E não há discussão de que o torneio é equilibrado mesmo. Mas os resultados desta comparação vão além: o Brasileirão não é apenas equilibrado; ele chega a ser aleatório. A oscilação de desempenho de tantos times é tão grande e tão frequente que fatores externos (por exemplo, convocações para a Seleção, cansaço, erros de arbitragem ou mesmo a sorte pura e simples) acabam sendo os principais determinantes para a classificação final.

Isso é reflexo da desorganização geral do futebol nacional, em que times campeões da Libertadores tiram “férias” no Brasileirão, a Seleção rouba nomes importantes dos clubes, diretorias trocam técnicos a torto e a direito, não há planejamento na montagem dos elencos, etc.

Vale lembrar que ter um campeonato equilibrado e imprevisível é divertido, mas, quando chega ao ponto de ser aleatório, perde a graça. Se não fosse assim, cara-ou-coroa seria o “esporte” mais popular do mundo.

2 comentários:

  1. Faz isso pro Campeonato francês (adoro citá-lo pela imprevisibilidade)... É mais organizado que aqui (ok, não é uma Premier League ou uma Bundesliga), porém tem muitos resultados incompreensíveis...

    Ah, só um adendo pra informar, caso queiras: descobri hoje esta página: http://www.football-rankings.info/

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  2. Oi, Alexandre!

    Fiz a conta comparando o Francês de 2011/2 com o de 2012/3. O resultado é um meio termo entre o Brasileiro e o Inglês. O coeficiente de determinação (r²) da regressão linear deu 0,253, ou seja, está longe de ser uma correlação forte, mas também não é algo aleatório como o Brasileirão.

    Na minha opinião, a França, hoje, tem o nível de equilíbrio ideal para um campeonato nacional. Tomara que os milhões do PSG e do Monaco não estraguem isso!

    Ah, obrigado pela indicação desse site!

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