Bayern de Munique campeão europeu; Holanda vice-campeã mundial; um time de toque de bola refinado e marcação sob pressão muda a forma como se joga o futebol. Poderia estar falando do futebol atual, mas essas referências também são verdadeiras para o ano de 1976, quando o Bayern ganhou seu terceiro título europeu seguido, contando com craques como Franz Beckenbauer e Gerd Muller no elenco.
E por que estou falando sobre 1976? Porque essa foi a última vez que o futebol europeu viu uma média de gols tão alta quanto a registrada nesta temporada. Em outras palavras: a média de gols marcados nos principais campeonatos da Europa em 2012/3 foi a mais alta nos últimos 37 anos.
Nessa conta, foram considerados 8 campeonatos: Inglês, Francês, Espanhol, Italiano, Português, Alemão, Holandês e a Liga dos Campeões. A média de gols desses torneios na última temporada foi de 2,834 por partida – o quarto ano seguido de crescimento. A última vez que se registrou uma marca mais alta foi em 1975/6, e por uma margem mínima: 2,839.
O curioso é que a tendência de aumento no número de gols parece ser apenas um fenômeno europeu. Na América do Sul, os últimos anos têm nítida queda nas médias, chegando a 2,464 em 2012 (considerando-se o Brasileiro, o Argentino e a Libertadores). O gráfico abaixo mostra a discrepância entre os dois continentes:
Seria fácil associar o aumento da média de gols na Europa à diminuição do equilíbrio nos principais campeonatos nacionais. De fato, times como Barcelona (115 gols), Real Madrid (103 gols) e Bayern de Munique (98 gols) ajudaram as médias a subir. Mas vale lembrar que, apesar do desnível, nem sempre houve essa chuva de gols por parte dos grandes times (o Napoli, melhor ataque do Italiano, marcou apenas 73). Além disso, num torneio com 380 partidas, é necessário 38 gols “extras” para subir a média em apenas 0,1 – e não é de hoje que Barça, Real e Bayern goleiam seus adversários.
Também vale lembrar que o mata-mata da Liga dos Campeões – onde não há “galinhas mortas” para serem goleadas – teve média de gols de praticamente 2,9 nesta temporada. Além disso, não é difícil encontrar jogos em que choveram gols sem o envolvimento de “supertimes”. É o caso de Bilbao 3x5 Betis, Zaragoza 5x3 La Coruña, Arsenal 7x3 Newcastle, Torino 3x5 Napoli, Freiburg 5x3 Hoffenheim, Schalke 5x4 Hannover e Lorient 4x4 Ajaccio – isso para ficar só nos jogos com pelo menos 8 gols, nos 5 maiores campeonatos.
O que eu quero dizer com tudo isso? Embora o desequilíbrio seja um fator a ser considerado, a média de gols na Europa só chegou a incríveis 2,83 porque os times realmente têm adotado uma mentalidade mais ofensiva, resultando num crescimento de gols que começou em 2006/7. Aliás, o gráfico acima mostra que houve outros ciclos do tipo na história recente, entre 1992 e 2001 e entre 1980 e 1984. Resta torcer para que a tendência atual ainda dure bastante. Se a média de gols de 2012/3 for superada, possivelmente chegaremos aos níveis de ofensividade da época de Pelé e companhia. Quem disse que nunca mais veríamos aquele futebol romântico?
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