Apesar de ter saído do Palmeiras em baixa, com a equipe à beira do
rebaixamento, Luiz Felipe Scolari foi escolhido para comandar a Seleção
Brasileira. Dada a carência de bons técnicos no País, provavelmente foi a
escolha correta – e certamente é uma opção melhor que Mano Menezes.
A campanha do técnico em 2012 ajuda a explicar sua escolha. Se Felipão não
foi bem no Brasileiro, por outro lado tirou um coelho da cartola ao levar o
limitadíssimo Palmeiras ao título da Copa do Brasil. Ou seja, Scolari é
inegavelmente um técnico “copeiro” – e o Mundial é disputado em mata-mata.
Abaixo, você pode conferir o desempenho de Luiz Felipe Scolari em torneios
de mata-mata, ao longo de sua carreira. Os resultados são realmente impressionantes:
Clube
|
Classificado
|
Eliminado
|
Aproveitamento
|
Goiás
|
5
|
1
|
83%
|
Al Qadissiyah (KUW)
|
4
|
0
|
100%
|
Coritiba
|
2
|
2
|
50%
|
Criciúma
|
5
|
0
|
100%
|
Grêmio
|
32
|
10
|
76%
|
Palmeiras (97 a 2000)
|
26
|
11
|
70%
|
Cruzeiro
|
5
|
3
|
63%
|
Brasil
|
4
|
1
|
80%
|
Portugal
|
4
|
4
|
50%
|
Chelsea
|
3
|
1
|
75%
|
Bunyodkor (UZB)
|
2
|
3
|
40%
|
Palmeiras (2010 a 2012)
|
14
|
5
|
74%
|
TOTAL
|
106
|
41
|
72,1%
|
*Não foi possível coletar dados confiáveis sobre seus trabalhos por CSA,
Juventude, Brasil de Pelotas, Al Shabab, Pelotas e seleção do Kuwait. Todas
foram passagens curtas e não devem alterar significativamente o resultado final.
O aproveitamento total de Felipão, de 72,1%, é realmente impressionante.
Esse número significa que ele venceu (quase) 3 de cada 4 confrontos de
mata-mata que enfrentou na carreira. A especialidade de Scolari é a Copa do
Brasil: foram 44 confrontos, com 38 vitórias. É um aproveitamento de 86%, que
lhe rendeu 4 títulos em 10 participações.
Em Copas do Mundo, Felipão também é excelente: foram 6 vitórias (4 com o
Brasil e 2 com Portugal), contra apenas 2 derrotas (ambas com Portugal, sendo
uma na disputa do 3º lugar).
Com base nisso, é possível calcular as chances (de brincadeira, é claro) de
título do Brasil na próxima Copa do Mundo. Dado que são necessárias 4 vitórias
seguidas para ser campeão e o aproveitamento de Scolari é de 72,1%, concluímos
que a chance de a Seleção ficar com o troféu seria de 27%. Se tomarmos como
base o aproveitamento do técnico em Copas (75%), então as chances sobem para
32%. Talvez essas probabilidades não pareçam nada impressionantes – dado que a
Seleção tem sempre a “obrigação” de ser campeã –, mas certamente não seriam
maiores com nenhum outro técnico brasileiro.
No último texto,
apresentei o índice de equilíbrio histórico (clique aqui para conhecer ametodologia)
dos principais campeonatos estaduais do Brasil. Com índices que variaram de 2,8
a 9,4, vimos que, com exceção de Santa Catarina (e, talvez, São Paulo) são
torneios que sempre tiveram um grupo pequeno de clubes ganhando títulos.
A situação fica ainda pior se considerarmos apenas os últimos 20 anos.
Afinal, nos primórdios dos torneios, muitos times pequenos, que hoje nem
existem mais, conseguiram ser campeões. Contando apenas as últimas duas
décadas, chega-se a um número que reflete melhor quantos times realmente brigam
pelo título, atualmente.
Considerando os nove Estados que hoje têm representantes na Série A do
Brasileirão, o ranking dos últimos 20 anos é o seguinte:
Pos
|
Estado
|
Índice
|
1
|
São Paulo
|
4,5
|
2
|
Santa Catarina
|
4,3
|
3
|
Paraná
|
3,6
|
4
|
Rio de Janeiro
|
3,3
|
5
|
Minas Gerais
|
2,8
|
6
|
Goiás
|
2,7
|
7
|
Bahia
|
2,4
|
7
|
Rio Grande do Sul
|
2,4
|
9
|
Pernambuco
|
2,2
|
Nota-se que, com uma diferença de no máximo 0,8 ponto (a mais ou a menos), o
índice equivale ao número de times considerados “grandes” dentro de seus
respectivos Estados. Além disso, os números caem muito em relação ao ranking
histórico geral e, em alguns casos, chegam a níveis comparáveis aos dos
torneios mais sem graça do mundo.
Enquanto o Brasileirão tem um índice de equilíbrio de 8,7 nos últimos 20
anos, o mais equilibrado dos Estaduais – o Paulista – tem só 4,5. Os três
últimos colocados da lista só não têm índices piores que o Grego (2,2), o
Português (2,1) e o Escocês (1,8) – considerando, em todos os casos, os últimos
20 anos.
Neste fim de semana, começa a disputa dos campeonatos estaduais. São
torneios de pouquíssima relevância esportiva e baixo nível técnico, cujas
conquista, atualmente, só são realmente celebradas por torcidas que sabem que
seus times não têm condições de ganhar nenhum outro título.
Um dos problemas dos Estaduais é a falta de equipes competitivas. Se, no
Brasileiro, a quantidade de postulantes ao título costuma ser alta, nos Estaduais
vemos sempre os mesmos brigando pela taça (e, quando isso não acontece, fica
claro que é por causa da má fase das equipes tradicionais).
Essa falta de equilíbrio dos campeonatos estaduais ao longo da história pode
ser constatada por meio do ranking de equilíbrio histórico (clique aqui paraconhecer a metodologia de cálculo).
Essa lista leva em consideração quantos títulos cada time ganhou e calcula um
índice análogo ao usado para medir o grau de concentração de setores da
economia. Um índice de 4, por exemplo, equivale a um torneio em que todos os
títulos da história foram divididos igualmente entre 4 equipes.
Considerando os nove Estados que hoje têm representantes na Série A do
Brasileirão, o ranking é o seguinte:
Pos
|
Estado
|
Índice
|
1
|
Santa Catarina
|
9,4
|
2
|
São Paulo
|
6,7
|
3
|
Paraná
|
5,0
|
4
|
Rio de Janeiro
|
4,6
|
5
|
Bahia
|
4,4
|
6
|
Goiás
|
4,3
|
7
|
Pernambuco
|
3,6
|
8
|
Minas Gerais
|
3,2
|
9
|
Rio Grande do Sul
|
2,8
|
Para efeito de comparação, vale dizer que o índice do Campeonato Brasileiro
é superior a 11 – lembrando que, quanto mais alto, mais equilibrado (cliqueaqui para ver os índices dos principais campeonatos internacionais).
Ou seja, o único torneio que pode ser considerado equilibrado é o Catarinense,
onde, na verdade, ainda não há times “grandes” totalmente consolidados.
São Paulo ainda tem um mínimo de competitividade, com um índice próximo ao
do Campeonato Italiano, por exemplo. O resto tem níveis baixos, ou baixíssimos.
O Rio de Janeiro, por exemplo, tem um bom número de times grandes – quatro –,
mas a pequena quantidade de títulos que ficaram com outras equipes faz com que
o índice seja de apenas 4,6. É bom lembrar que o Campeonato Espanhol, que é
praticamente um “duopólio” de Barcelona e Real Madrid, tem índice de 4,0.
Minas Gerais e Rio Grande do Sul, então, têm números que se equiparam aos
dos torneios menos equilibrados do mundo, como o Uruguaio e os Escocês (países
que só têm dois times de verdade).
Ou seja, mesmo na época em que os clubes pequenos montavam equipes de
verdade (e não “catadões” juntados às pressas 1 mês antes do início do
campeonato), em poucos casos isso se traduziu em campeonatos realmente
competitivos. Quando os grandes só disputavam os Estaduais, ok, era o único
título a se comemorar. Mas hoje, numa época de obsessão pela Libertadores e de
Brasileiro disputado por pontos corridos, importar-se com torneios que só têm 4
times de verdade (no máximo) é um anacronismo injustificável.