sábado, 6 de outubro de 2012

Análise: o Ranking Mundial da FIFA



Na última quarta-feira, a Fifa divulgou a edição de outubro de seu ranking de seleções. O principal destaque foi a baixa posição do Brasil, 14ª, a pior da história. Mas será que os resultados dessa lista, que recebem grande atenção no mundo todo, refletem bem a realidade?

Logo de cara, dá para dizer que ela é muito melhor que o Ranking de Clubes da IFFHS, o qual analiseiem um texto de 2011. Enquanto a lista de times, que inexplicavelmente ganha muita atenção na mídia brasileira, traz absurdos incríveis, o ranking da Fifa, na maioria dos casos, tem resultados úteis e coerentes – apesar de algumas falhas.

Isso já é um grande avanço. Quando o ranking foi criado, em 1993, ele foi mal recebido pela imprensa. De fato, seu método de cálculo era muito confuso, e apresentava vários resultados esquisitos. Com o tempo, o público foi “se acostumando” com a lista, que passou a ser tratada com seriedade. A Fifa também ajudou, ao adotar um sistema mais simples e realista, tornando seus resultados mais fáceis de aceitar.

Como funciona o ranking

Ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, o método de cálculo do ranking da Fifa é relativamente simples. Em cada partida disputada, as seleções recebem pontos de acordo com o produto de 4 fatores, que são:

- Resultado da partida (3 por vitória, 1 por empate, 0 por derrota, 2 por vitória nos pênaltis)
- Importância da partida (de 1, para amistosos, até 4, para a Copa do Mundo)
- Força do adversário (de 50, para times abaixo da 150º posição no ranking, até 200, para o 1º colocado)
- Confederação das seleções (de 0,85, para a Oceania, até 1, para Europa e América do Sul)

Pois bem, soma-se a pontuação obtida em todas as partidas e divide-se pelo número total de jogos que a seleção fez nos últimos 12 meses.  Repete-se o procedimento para os 3 anos anteriores. Por último, soma-se os resultados dos 4 anos, com um peso maior para os mais recentes. Só isso. Não há mais nenhuma complicação.

Para melhor entendimento, tomemos o Brasil como exemplo. Os atuais 1001 pontos da Seleção foram obtidos da seguinte maneira:

- Em 2009: 1045,51 * 20% = 209,10
- Em 2010: 663,42 * 30% = 199,03
- Em 2011: 390,04 * 50% = 195,02
- Em 2012: 397,80 * 100% = 397,80
Total: 209 + 199 + 195 + 398 = 1001

Qualidades e defeitos do ranking

Em linhas gerais, a mecânica do ranking é muito boa. Os 3 principais fatores considerados (resultado, importância e adversário) são realmente os mais importantes, e a ideia de calcular o produto (e não a soma) dos 3 é uma maneira elegante de ponderá-los (note-se que, pela regra, uma derrota sempre vale 0 pontos, independente de qualquer outro fator). Incluir a força do adversário na conta é importantíssimo e também serve para diferenciar, de maneira objetiva, torneios de continentes diferentes (a Euro vale tanto quando a Copa da Oceania, mas nesta última a pontuação acaba sendo menor, pelo baixo ranking dos adversários).

Ao fazer a média dos pontos obtidos em todos os jogos, o ranking também procura equilibrar as seleções que jogam muito com aquelas que atuam menos vezes. Aliás, isso faz com que até uma vitória possa diminuir a pontuação, se o país, por exemplo, jogar muitos amistosos contra “nanicos”. Por outro lado, é possível um time ganhar pontos mesmo sem jogar (basta que em um mês seja descartada uma derrota). Por fim, a ideia de dar mais peso aos jogos do último ano faz com que o ranking reflita melhor o “momento” vivido pelas seleções.

No entanto, há distorções importantes no método. Primeiro, no que diz respeito à importância das partidas. Um jogo de Copa do Mundo vale só 4 vezes mais que um amistoso, diferença muito pequena. Pior é o peso 3 atribuído à Copa das Confederações: isso faz com que o torneio, que a maioria dos países não leva muito a sério, seja tão importante quanto a Eurocopa e a Copa América!

Os pontos distribuídos pela força dos adversários também têm sérios problemas. A Fifa faz a distribuição de acordo com o ranking, o que é certo, considerando 200 pontos para o 1º colocado e subtraindo 1 ponto a cada posição, mantendo um mínimo de 50 pontos. Ou seja, vencer a Espanha só vale 4 vezes mais do que ganhar do Butão. Pior: derrotar San Marino (3*50 pts) vale mais que empatar com a Polônia (1*147 pts). Isso não faz sentido.

O terceiro problema é o último fator do ranking, relativo à confederação das equipes. Esse é um item totalmente arbitrário. Afinal, se já é considerada a força das seleções, por que contar também seu continente? Assim, uma vitória sobre a Eslovênia (35º colocada) vale 3*165*1=495 pontos, enquanto ganhar da Costa do Marfim (16ª) vale menos, só 3*184*0,86=475 pontos, embora os africanos estejam muito à frente dos europeus no ranking. Pior: um europeu que derrote o Brasil, hoje, ganha (186*3*1) 558 pontos; já um asiático que consiga a mesma proeza leva só (186*3*0,93) 519 pontos. Por quê?

Para piorar, a determinação desses fatores parece arbitrária. Embora a Fifa explique que os números são baseados no desempenho nas últimas 3 Copas, não está claro a conta que foi feita para chegar a 0,85 para Oceania, 0,86 para África e Ásia e 0,88 para a Concacaf. Enfim, é um recurso que, além de “deselegante”, torna o ranking mais injusto.

Outro defeito do ranking da Fifa é que ele não leva em conta alguns fatores importantes. O principal deles é que não distribui nenhum “bônus” por desempenho nos torneios. Ou seja, se um país é campeão da Copa do Mundo, só ganha pontos pelas partidas que venceu e empatou. O título, em si, não vale nada. Com isso, é perfeitamente possível que o 3º colocado acabe com uma pontuação melhor que a do campeão, desde que tenha feito uma boa fase de grupos e tenha enfrentado adversários fortes.

Outra omissão importante é que não interessa para o ranking quem jogou em casa nas partidas. Assim, derrotar a Bolívia em La Paz ou em Fortaleza rende exatamente a mesma pontuação.

O sistema também permite que diferenças nos calendários dos continentes causem distorções. A África, por exemplo, se beneficia ao ter seu torneio continental disputado a cada 2 anos. A América do Sul perde, porque a Copa América não tem eliminatórias. Zonas com qualificatórios longos para o Mundial são beneficiadas sobre aquelas com torneios mais enxutos.

Além disso, há o prejuízo aos países-sede de torneios importantes, que deixam de ganhar pontos por não disputar eliminatórias – essa é uma das explicações para a má posição atual do Brasil. A Seleção, hoje, disputa só amistosos, os quais valem menos pontos (também não ajuda nada o fato de só conseguir ganhar de adversários fracos). Por isso, é de se esperar que o Brasil continue a cair no ranking, atingindo o “fundo do poço” às vésperas da Copa das Confederações, em 2013.

A decisão de fazer com que as partidas mais recentes tenham mais valor – que à primeira vista parece uma boa ideia – também causa sérias distorções. O motivo é que os torneios continentais, que têm peso importante no ranking, não acontecem todos no mesmo ano. Assim, os times europeus contam hoje com 100% dos pontos obtidos na Euro-2012, enquanto os sul-americanos têm que se contentar com 50% dos pontos da Copa América de 2011. Não é por acaso que atualmente o ranking da Fifa apresenta 10 europeus entre os 13 melhores colocados.

Resultados atuais

Todas essas falhas são suficientes para tirar a validade do ranking? A resposta é não. Com as devidas ressalvas, o ranking da Fifa dá uma idéia razoável do equilíbrio de forças no futebol mundial.

Tomando como base a lista mais recente (de outubro de 2012), dá para dizer que os principais resultados estão corretos: a líder é a Espanha, como não poderia deixar de ser, a maioria dos primeiros colocados são times “grandes”, e é preciso sair do “top 30” para achar seleções de menor expressão.

No entanto, apesar dos méritos, há alguns resultados difíceis de engolir. Por exemplo, Portugal em 3º lugar é estranho, mas pode ser justificado pela boa campanha na Eurocopa. Mas e a Inglaterra em 5º? O time caiu nas quartas da Euro e nas oitavas do Mundial, se dá bem graças só ao desempenho nas eliminatórias. Aliás, só pode ser esse o motivo para a Colômbia aparecer em 9º, mesmo sem passar das quartas na Copa América (perdeu para o Peru!) nem disputar o Mundial. Grécia em 10º – à frente do Brasil – e Argélia (nem disputou a CAN) como 2º melhor africano também são resultados esquisitos.

Resumindo, o ranking da Fifa tem um conceito interessante e apresenta resultados bons, considerados como um todo (muito melhores, por exemplo, que o fraquíssimo ranking de clubes daIFFHS). No entanto, algumas falhas pontuais nos critérios permitem distorções, que se evidenciam em alguns resultados estranhos que destoam do conjunto. Embora a lista da Fifa não seja ruim, seria possível montar um ranking de seleções melhor.

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