Na época dos Jogos Pan-Americanos, publiquei aqui no blog uma reflexão sobre
a maneira como os quadros de medalhas distorcem o desempenho dos países em
eventos como as Olimpíadas. Já que os Jogos de Londres começam no próximo fim
de semana, retorno ao assunto, com as devidas atualizações.
O fato é que os quadros de medalhas
das Olimpíadas são apresentados pela imprensa como se fossem a classificação de
um campeonato de futebol. Mas essa analogia não é correta. Embora apresente o quadro
em seu site, o Comitê Olímpico Internacional não o trata como uma “competição”,
não dá nenhum prêmio ao “campeão”, nem enfatiza o resultado final. Ou seja,
ninguém pode dizer que a China “foi campeã” da última Olimpíada.
Mesmo assim, pelo seu destaque, o
quadro de medalhas acaba sendo um termômetro da evolução do esporte olímpico
brasileiro. Só que é um termômetro muito viesado. O motivo é simples: esportes
individuais, em geral, “rendem” muito mais medalhas que esportes coletivos.
Assim, um país com grandes nadadores pode ganhar 34 medalhas de ouro; já uma
nação com grandes jogadores de futebol ganha só 2. É por isso que a Jamaica,
que só se destaca no atletismo (em corridas de curta distância), fica à frente
de países com participação muito mais importante nos Jogos, como Espanha e
Canadá.
Para amenizar essa distorção, criei
um novo ranking. Em vez de distribuir três medalhas (ouro, prata e bronze) para
cada modalidade, atribuo três para cada esporte. O cálculo é o seguinte: em
cada esporte (futebol, tênis, atletismo, natação, etc.), monta-se um quadro de
medalhas. Para o primeiro colocado nessa “sub-lista”, atribui-se 1 ouro no
quadro geral; para o segundo, 1 prata; e para o terceiro, 1 bronze. Assim, um
país que domina a ginástica olímpica (no caso, a China) ganha 1 medalha de
ouro, do mesmo jeito que o melhor país no basquete (Estados Unidos).
De acordo com esse método, o quadro
de medalhas da Olimpíada de 2008 seria o seguinte (critérios de ordenamento: 1-
ouros; 2- pratas; 3- bronzes; 4- posição no quadro de medalhas convencional):
Pos |
País
|
Ouro
|
Prata
|
Bronze
|
Total
|
Variação
|
1
|
China
|
7
|
3
|
4
|
14
|
=
|
2
|
Estados Unidos
|
6
|
4
|
4
|
14
|
=
|
3
|
Rússia
|
4
|
2
|
4
|
10
|
=
|
4
|
Alemanha
|
4
|
2
|
1
|
7
|
+1
|
5
|
Coreia do Sul
|
3
|
2
|
1
|
6
|
+2
|
6
|
Reino Unido
|
3
|
0
|
1
|
4
|
-2
|
7
|
Japão
|
2
|
1
|
1
|
4
|
+1
|
8
|
França
|
2
|
1
|
0
|
3
|
+2
|
9
|
Holanda
|
2
|
0
|
0
|
2
|
+3
|
10
|
Austrália
|
1
|
5
|
1
|
7
|
-4
|
11
|
Brasil
|
1
|
1
|
1
|
3
|
+12
|
12
|
Hungria
|
1
|
0
|
1
|
2
|
+9
|
13
|
Noruega
|
1
|
0
|
0
|
1
|
+9
|
14
|
Argentina
|
1
|
0
|
0
|
1
|
+21
|
15
|
Espanha
|
0
|
3
|
3
|
6
|
=
|
16
|
Itália
|
0
|
1
|
1
|
2
|
-7
|
17
|
Eslováquia
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+9
|
18
|
Cuba
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+10
|
19
|
México
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+17
|
20
|
Indonésia
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+22
|
21
|
Cingapura
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+49
|
22
|
Canadá
|
0
|
0
|
3
|
3
|
-3
|
23
|
Ucrânia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
-12
|
24
|
Quênia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
-11
|
25
|
Rep. Tcheca
|
0
|
0
|
1
|
1
|
-1
|
26
|
Geórgia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+1
|
27
|
Cazaquistão
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+2
|
28
|
Portugal
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+18
|
29
|
Lituânia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+27
|
30
|
Islândia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+40
|
31
|
Jamaica
|
0
|
0
|
0
|
0
|
-17
|
*Brasil: ouro no vôlei (junto com
EUA), prata no vôlei de praia (junto com a China) e bronze no futebol
Comparando este quadro de
classificação com o quadro tradicional, nota-se que a China manteve o primeiro
lugar, mas sua vantagem para os Estados Unidos foi muito menor. Isso mostra
como os chineses, deliberadamente, fomentaram o desenvolvimento de esportes que
distribuem muitas medalhas, para “turbinar” seu resultado em casa.
Quem se dá muito bem nesta
classificação nova é o Brasil, que sobe de 23º para 11º lugar. Tal variação tem
lógica, já que o País é mais forte em esportes coletivos. Argentina, México e
Indonésia também deram grandes saltos, entrando no “top 20” olímpico. Entre os
perdedores, o maior é a Jamaica, que cai do 14º para o 31º lugar – variação
mais que justificada, a meu ver. Ucrânia, Quênia e Itália também estão entre os
mais “prejudicados” com o novo critério.
É inegável que este novo método tem
defeitos. A maneira de separar os esportes não é consenso: por exemplo, muitos
consideram beisebol e softbol como uma coisa só; outros juntam vôlei com vôlei
de praia; em alguns lugares, ginástica “artística” e ginástica “rítmica” são
esportes diferentes. Para montar o quadro acima, usei a divisão de esportes
feita pela Wikipédia.
Outro problema é que esta
classificação prejudica países que têm bons atletas em vários esportes, mas não
chegam a ter domínio em nenhum. É o caso, por exemplo, de Ucrânia, Itália e
Bielorrússia. A ocorrência de empates em muitos esportes (foram 6, na primeira
colocação) também distorce um pouco os resultados.
Mesmo assim, a divisão por esporte é
mais representativa que a tradicional, por modalidades, e torna mais claro
quais países são realmente “potências olímpicas”. Considerando-se não só a
posição na tabela, mas também o total de “medalhas”, só há três forças
incontestáveis: Estados Unidos, Rússia e China. Em um segundo patamar, pode-se
incluir Alemanha, Coreia do Sul, Reino Unido, Japão e, talvez, Austrália.
Outros países, como o Brasil, destacam-se apenas em esportes isolados.
Ainda sobre os quadros de medalhas
“alternativos”, publiquei mais dois textos no blog, em 2011. Neste texto, mostro o ranking para os Jogos
Pan-Americanos de 2011 e, neste outro,
apresento o quadro do Pan-2007. Ao final da Olimpíada, também publicarei o
quadro de medalhas dos Jogos de Londres.
Puxa Thomaz bem interessante esse seu post mas uma pergunta ; Porque não separar os esportes em pelo mnois masculino e feminino ou preparar dois rankings, uma para cada genero?
ResponderExcluirpra vc a resposta:
Excluirisso seria machismo seu tonto!
Olá! Eu também havia pensado na possibilidade de atribuir medalhas para masculino e feminino, separadamente, mas encontrei alguns problemas:
ResponderExcluir- Em muitos esportes, o número de modalidades é diferente para os dois gêneros; pior, há esportes em que só competem homens ou mulheres. Isso criaria uma distorção na lista.
- Há também o caso de modalidades mistas, como hipismo ou duplas mistas do badminton. Não saberia como inclui-las no ranking.
- Separando por gênero, haveria mais empates nas listas usadas como base para distribuir medalhas, o que aumentaria uma das deficiências que já existem no critério atual.
De qualquer forma, não deixa de ser uma sugestão válida!