quarta-feira, 25 de julho de 2012

Quadro de medalhas alternativo da Olimpíada de Pequim-2008

Na época dos Jogos Pan-Americanos, publiquei aqui no blog uma reflexão sobre a maneira como os quadros de medalhas distorcem o desempenho dos países em eventos como as Olimpíadas. Já que os Jogos de Londres começam no próximo fim de semana, retorno ao assunto, com as devidas atualizações.

O fato é que os quadros de medalhas das Olimpíadas são apresentados pela imprensa como se fossem a classificação de um campeonato de futebol. Mas essa analogia não é correta. Embora apresente o quadro em seu site, o Comitê Olímpico Internacional não o trata como uma “competição”, não dá nenhum prêmio ao “campeão”, nem enfatiza o resultado final. Ou seja, ninguém pode dizer que a China “foi campeã” da última Olimpíada.

Mesmo assim, pelo seu destaque, o quadro de medalhas acaba sendo um termômetro da evolução do esporte olímpico brasileiro. Só que é um termômetro muito viesado. O motivo é simples: esportes individuais, em geral, “rendem” muito mais medalhas que esportes coletivos. Assim, um país com grandes nadadores pode ganhar 34 medalhas de ouro; já uma nação com grandes jogadores de futebol ganha só 2. É por isso que a Jamaica, que só se destaca no atletismo (em corridas de curta distância), fica à frente de países com participação muito mais importante nos Jogos, como Espanha e Canadá.

Para amenizar essa distorção, criei um novo ranking. Em vez de distribuir três medalhas (ouro, prata e bronze) para cada modalidade, atribuo três para cada esporte. O cálculo é o seguinte: em cada esporte (futebol, tênis, atletismo, natação, etc.), monta-se um quadro de medalhas. Para o primeiro colocado nessa “sub-lista”, atribui-se 1 ouro no quadro geral; para o segundo, 1 prata; e para o terceiro, 1 bronze. Assim, um país que domina a ginástica olímpica (no caso, a China) ganha 1 medalha de ouro, do mesmo jeito que o melhor país no basquete (Estados Unidos).

De acordo com esse método, o quadro de medalhas da Olimpíada de 2008 seria o seguinte (critérios de ordenamento: 1- ouros; 2- pratas; 3- bronzes; 4- posição no quadro de medalhas convencional):

Pos
País
Ouro
Prata
Bronze
Total
Variação
1
China
7
3
4
14
=
2
Estados Unidos
6
4
4
14
=
3
Rússia
4
2
4
10
=
4
Alemanha
4
2
1
7
+1
5
Coreia do Sul
3
2
1
6
+2
6
Reino Unido
3
0
1
4
-2
7
Japão
2
1
1
4
+1
8
França
2
1
0
3
+2
9
Holanda
2
0
0
2
+3
10
Austrália
1
5
1
7
-4
11
Brasil
1
1
1
3
+12
12
Hungria
1
0
1
2
+9
13
Noruega
1
0
0
1
+9
14
Argentina
1
0
0
1
+21
15
Espanha
0
3
3
6
=
16
Itália
0
1
1
2
-7
17
Eslováquia
0
1
0
1
+9
18
Cuba
0
1
0
1
+10
19
México
0
1
0
1
+17
20
Indonésia
0
1
0
1
+22
21
Cingapura
0
1
0
1
+49
22
Canadá
0
0
3
3
-3
23
Ucrânia
0
0
1
1
-12
24
Quênia
0
0
1
1
-11
25
Rep. Tcheca
0
0
1
1
-1
26
Geórgia
0
0
1
1
+1
27
Cazaquistão
0
0
1
1
+2
28
Portugal
0
0
1
1
+18
29
Lituânia
0
0
1
1
+27
30
Islândia
0
0
1
1
+40
31
Jamaica
0
0
0
0
-17
*Brasil: ouro no vôlei (junto com EUA), prata no vôlei de praia (junto com a China) e bronze no futebol
Comparando este quadro de classificação com o quadro tradicional, nota-se que a China manteve o primeiro lugar, mas sua vantagem para os Estados Unidos foi muito menor. Isso mostra como os chineses, deliberadamente, fomentaram o desenvolvimento de esportes que distribuem muitas medalhas, para “turbinar” seu resultado em casa.

Quem se dá muito bem nesta classificação nova é o Brasil, que sobe de 23º para 11º lugar. Tal variação tem lógica, já que o País é mais forte em esportes coletivos. Argentina, México e Indonésia também deram grandes saltos, entrando no “top 20” olímpico. Entre os perdedores, o maior é a Jamaica, que cai do 14º para o 31º lugar – variação mais que justificada, a meu ver. Ucrânia, Quênia e Itália também estão entre os mais “prejudicados” com o novo critério.

É inegável que este novo método tem defeitos. A maneira de separar os esportes não é consenso: por exemplo, muitos consideram beisebol e softbol como uma coisa só; outros juntam vôlei com vôlei de praia; em alguns lugares, ginástica “artística” e ginástica “rítmica” são esportes diferentes. Para montar o quadro acima, usei a divisão de esportes feita pela Wikipédia.

Outro problema é que esta classificação prejudica países que têm bons atletas em vários esportes, mas não chegam a ter domínio em nenhum. É o caso, por exemplo, de Ucrânia, Itália e Bielorrússia. A ocorrência de empates em muitos esportes (foram 6, na primeira colocação) também distorce um pouco os resultados.

Mesmo assim, a divisão por esporte é mais representativa que a tradicional, por modalidades, e torna mais claro quais países são realmente “potências olímpicas”. Considerando-se não só a posição na tabela, mas também o total de “medalhas”, só há três forças incontestáveis: Estados Unidos, Rússia e China. Em um segundo patamar, pode-se incluir Alemanha, Coreia do Sul, Reino Unido, Japão e, talvez, Austrália. Outros países, como o Brasil, destacam-se apenas em esportes isolados.

Ainda sobre os quadros de medalhas “alternativos”, publiquei mais dois textos no blog, em 2011. Neste texto, mostro o ranking para os Jogos Pan-Americanos de 2011 e, neste outro, apresento o quadro do Pan-2007. Ao final da Olimpíada, também publicarei o quadro de medalhas dos Jogos de Londres.

3 comentários:

  1. Puxa Thomaz bem interessante esse seu post mas uma pergunta ; Porque não separar os esportes em pelo mnois masculino e feminino ou preparar dois rankings, uma para cada genero?

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    1. pra vc a resposta:
      isso seria machismo seu tonto!

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  2. Olá! Eu também havia pensado na possibilidade de atribuir medalhas para masculino e feminino, separadamente, mas encontrei alguns problemas:

    - Em muitos esportes, o número de modalidades é diferente para os dois gêneros; pior, há esportes em que só competem homens ou mulheres. Isso criaria uma distorção na lista.

    - Há também o caso de modalidades mistas, como hipismo ou duplas mistas do badminton. Não saberia como inclui-las no ranking.

    - Separando por gênero, haveria mais empates nas listas usadas como base para distribuir medalhas, o que aumentaria uma das deficiências que já existem no critério atual.

    De qualquer forma, não deixa de ser uma sugestão válida!

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