Ao montar um time, os treinadores inevitavelmente se
defrontam com uma dúvida: vale mais a pena privilegiar o ataque (ou melhor,
jogadores com funções mais ofensivas) ou a defesa (jogadores com funções mais
defensivas). O ideal, obviamente, é ter as duas coisas, mas existem numerosas
situações em que é preciso escolher, por exemplo, entre um volante “destruidor”
ou um meia criativo que não marca. E então, o que é melhor?
Metodologia
É possível usar dados estatísticos para responder essa
polêmica questão. Resumidamente, a metodologia é a seguinte: em um campeonato,
classificam-se os melhores ataques (de acordo com o número de gols marcados),
do primeiro ao último lugar, e faz-se o mesmo com as defesas (pelos gols
sofridos).
Compara-se, então, cada uma dessas listas com a classificação do
campeonato, gerando-se dois gráficos (um para o ataque e outro para a defesa) como
o do exemplo abaixo:
Nesse gráfico, é possível calcular a regressão linear e,
mais importante, o coeficiente de determinação (r²) entre as variáveis (ataque
x classificação final e defesa x classificação final). Quanto mais alto o coeficiente,
mais importante foi essa variável para o resultado final do campeonato.
Comparando-se as duas, pode-se dizer se, em um torneio, o ataque ou a defesa
foi mais importante.
Para fazer este texto, calculei os coeficientes de
correlação nas últimas 10 temporadas dos Campeonatos Inglês, Italiano, Espanhol
e Brasileiro (9 temporadas, neste caso, já que a edição de 2002 não foi
disputada por pontos corridos).
Resultados
Os resultados do levantamento foram surpreendentes.
Excluindo-se altos e baixos esporádicos, esperava-se equilíbrio entre ataque e
defesa. No entanto, não foi o que se verificou.
Na média dos 39 torneios pesquisados, o ataque levou
vantagem: 22 vezes ele foi mais importante, contra 16 da defesa (houve 1 empate).
Mas os dados ficam ainda mais interessantes quando analisamos os quatro países
separadamente. Veja só:
Campeonato Brasileiro
|
|||
Temporada
|
Ataque
|
Defesa
|
Mais Importante
|
2011
|
53,8%
|
59,5%
|
Defesa
|
2010
|
56,3%
|
69,4%
|
Defesa
|
2009
|
58,3%
|
67,9%
|
Defesa
|
2008
|
52,3%
|
80,5%
|
Defesa
|
2007
|
29,3%
|
59,9%
|
Defesa
|
2006
|
51,0%
|
79,5%
|
Defesa
|
2005
|
58,1%
|
19,4%
|
Ataque
|
2004
|
22,5%
|
25,0%
|
Defesa
|
2003
|
31,2%
|
55,2%
|
Defesa
|
Campeonato Inglês
|
|||
Temporada
|
Ataque
|
Defesa
|
Mais Importante
|
2010/1
|
60,2%
|
75,2%
|
Defesa
|
2009/10
|
68,4%
|
84,4%
|
Defesa
|
2008/9
|
70,1%
|
89,1%
|
Defesa
|
2007/8
|
70,6%
|
86,6%
|
Defesa
|
2006/7
|
92,3%
|
71,1%
|
Ataque
|
2005/6
|
84,4%
|
78,7%
|
Ataque
|
2004/5
|
63,0%
|
77,9%
|
Defesa
|
2003/4
|
55,1%
|
86,9%
|
Defesa
|
2002/3
|
77,9%
|
63,2%
|
Ataque
|
2001/2
|
73,9%
|
57,9%
|
Ataque
|
Campeonato Italiano
|
|||
Temporada
|
Ataque
|
Defesa
|
Mais Importante
|
2010/1
|
86,0%
|
55,1%
|
Ataque
|
2009/10
|
66,4%
|
49,3%
|
Ataque
|
2008/9
|
85,8%
|
59,0%
|
Ataque
|
2007/8
|
88,3%
|
49,3%
|
Ataque
|
2006/7
|
77,9%
|
39,1%
|
Ataque
|
2005/6
|
61,3%
|
39,5%
|
Ataque
|
2004/5
|
55,4%
|
23,5%
|
Ataque
|
2003/4
|
76,7%
|
64,3%
|
Ataque
|
2002/3
|
73,1%
|
88,0%
|
Defesa
|
2001/2
|
66,6%
|
80,4%
|
Defesa
|
Campeonato Espanhol
|
|||
Temporada
|
Ataque
|
Defesa
|
Mais Importante
|
2010/1
|
70,6%
|
36,3%
|
Ataque
|
2009/10
|
60,4%
|
56,5%
|
Ataque
|
2008/9
|
65,7%
|
27,8%
|
Ataque
|
2007/8
|
61,6%
|
54,0%
|
Ataque
|
2006/7
|
71,4%
|
64,2%
|
Ataque
|
2005/6
|
76,0%
|
76,0%
|
Igual
|
2004/5
|
70,6%
|
68,4%
|
Ataque
|
2003/4
|
60,4%
|
51,4%
|
Ataque
|
2002/3
|
65,2%
|
49,1%
|
Ataque
|
2001/2
|
65,7%
|
48,4%
|
Ataque
|
*Foram destacados em negrito os resultados em que a
diferença entre ataque e defesa foi maior que 20 pontos percentuais
Nota-se que, dependendo do campeonato, a relação entre
ataque e defesa varia radicalmente: no Brasil, a qualidade defensiva tem
influência muito maior no campeonato; na Itália e Espanha, vale muito mais
atacar. Na Inglaterra, a alternância de resultados não permite conclusões.
E como se explica tamanha diferença entre os campeonatos? Seria
tentador afirmar que, em torneios com maior média de gols, a defesa é o
diferencial e, em campeonatos retrancados, é o ataque que decide. No entanto, a
comparação dos números ano a ano mostra que a relação entre essas variáveis é
fraquíssima.
Ou também pode-se dar outra interpretação na conclusão: no Brasil, os técnicos perceberam que os últimos vencedores priorizaram a defesa e mantiveram a fórmula "vencedora". Ninguém ousou mudar esse paradigma. É o velho enigma das bolachas Tostines adaptado...
ResponderExcluirTomaz você chegou a fazer essa analise separado por posição no campeonato. Tipo influencia do ataque x defesa para er campeão, classificar para libertadores ou ser rebaixado?
ResponderExcluirAcho que por exemplo defesas muito vazadas de times que ficam na parte inferior da tabela, ou ataques muito bons na parte superior podem afetar a analise.
Outra idéia seja comparar a classificação dos times x saldo de gols
Oi, Guilherme,
ExcluirNão, não fiz a análise separadamente por posição - até porque, nesse caso, a metodologia teria que ser bem diferente.
Mas os números nos extremos da tabela não deturpam a análise, porque eu só tomei como base a posição no ranking dos melhores ataques ou defesas, e não a quantidade de gols marcados ou sofridos. Assim, se o 2º pior ataque tiver marcado, por exemplo, 20 gols, dá na mesma o time de pior ataque ter feito 1 ou 19 - na lista, ele constará apenas como pior ataque.
Sobre a classificação time x saldo, acho que aí nem precisa fazer a conta: com certeza a correlação é altíssima, em qualquer campeonato, mais do que a relação só com ataque ou defesa.
Um abraço!