segunda-feira, 29 de junho de 2015

Um campeonato equilibrado nem sempre é um campeonato imprevisível

Todo ano, publico aqui no blog um ranking que compara o nível de equilíbrio dos principais campeonatos de futebol do mundo. Essa lista toma como base a pontuação das equipes ao fim da temporada e aplica o Índice de Gini para medir o quanto essa distribuição foi igualitária (mais detalhes sobre a metodologia aqui).

No entanto, há outra maneira de interpretar “equilíbrio”. Em vez de medir o quanto os times estiveram parelhos ao fim de uma temporada, pode-se comparar os resultados de dois campeonatos subsequentes, para ver se os times mantiveram-se nas mesmas posições ou se houve grande oscilação.

Fazer esse cálculo não é muito difícil: basta elencar a posição de cada equipe (excluindo os promovidos e rebaixados) ao longo de duas temporadas em uma tabela e mandar o Excel calcular o Coeficiente de Determinação (r²) entre as duas variáveis. Assim, quando comparamos duas temporadas de um campeonato pouco equilibrado, vemos praticamente as mesmas equipes nas mesmas posições da tabela. Portanto, o r² será próximo a 1 (r² = 1 significaria que a classificação final foi idêntica em dois anos seguidos).

Teoricamente, o resultado desta conta deveria ser parecido com o do Índice de Equilíbrio, já que se pode esperar que em um campeonato onde a classificação final costume ser mais “embolada” também haja maior variação nas posições dos times entre um ano e o outro. No entanto, o cálculo do Índice de Variação da temporada 2014/15 (em comparação com 2013/14) traz algumas surpresas nesse aspecto (lembrando que, quanto maior o índice, menor a variação):

Pos
Campeonato
Índice
1
Campeonato Espanhol
0,753
2
Campeonato Inglês
0,723
3
Campeonato Alemão
0,678
4
Campeonato Holandês
0,612
5
Campeonato Russo
0,519
6
Campeonato Francês
0,391
7
Campeonato Ucraniano
0,365
8
Campeonato Italiano
0,349
9
Campeonato Turco
0,331
10
Campeonato Grego
0,274
11
Campeonato Escocês
0,265
12
Campeonato Português
0,239
13
Campeonato Japonês
0,115
14
Campeonato Brasileiro
0,020
15
Campeonato Argentino
0,006

Em termos de variação, vemos que os campeonatos mais previsíveis do mundo, nesta temporada, foram o Espanhol e o Inglês. Isso está de acordo com o senso comum (realmente, os dois torneios sempre têm os mesmos times mais ou menos nas mesmas posições da tabela) e com a constatação de que ambos estão entre os campeonatos menos equilibrados do mundo.

No entanto, há exemplos que contrariam essa lógica. O caso mais claro é o do Ucraniano: todo ano a classificação final do torneio é a mais desequilibrada do mundo; no entanto, quando se trata da variação da posição das equipes, a liga do país está na média mundial. Ou seja, embora exista relação entre o Índice de Equilíbrio e o Índice de Variação (mais precisamente, com um Coeficiente de Determinação de 0,11), essa relação é fraca.

Também é muito interessante dar uma olhada nos torneios que estão no pé da tabela, ou seja, aqueles em que as equipes mais oscilam entre um ano e o outro. Sem surpresa, lá está o Brasileirão, à frente apenas da Argentina. Em geral, variação de posições é uma coisa boa: mantém a emoção e o interesse, impedindo que se crie um abismo entre “grandes” e “pequenos”. No entanto, quando o valor de r² se aproxima muito de zero (como acontece no Brasil e na Argentina), a situação torna-se preocupante: não se trata mais de um torneio equilibrado, mas sim de um torneio aleatório. Em outras palavras, a chance de um time que foi campeão em um ano ser campeão no ano seguinte seria igual à probabilidade de ele terminar o torneio em último lugar. Variações dramáticas como essas são típicas de campeonatos incipientes, com clubes não consolidados, nivelados por baixo e sem um mínimo de regularidade.

Um comentário:

  1. Parabéns pela análise, Tomaz.

    Creio que o motivo para os campeonatos brasileiro e argentino aparecem nas últimas posições da sua lista está relacionada à perda de atletas para ligas mais ricas entre uma temporada e outra. Fica bastante complicado manter um padrão com times reformulados o tempo todo. De certa forma, a lista toda segue mais ou menos esse critério das ligas mais ricas (no topo) para as mais . pobres.

    ResponderExcluir