No entanto, há outra maneira de interpretar “equilíbrio”. Em vez de medir o quanto os times estiveram parelhos ao fim de uma temporada, pode-se comparar os resultados de dois campeonatos subsequentes, para ver se os times mantiveram-se nas mesmas posições ou se houve grande oscilação.
Fazer esse cálculo não é muito difícil: basta elencar a posição de cada equipe (excluindo os promovidos e rebaixados) ao longo de duas temporadas em uma tabela e mandar o Excel calcular o Coeficiente de Determinação (r²) entre as duas variáveis. Assim, quando comparamos duas temporadas de um campeonato pouco equilibrado, vemos praticamente as mesmas equipes nas mesmas posições da tabela. Portanto, o r² será próximo a 1 (r² = 1 significaria que a classificação final foi idêntica em dois anos seguidos).
Teoricamente, o resultado desta conta deveria ser parecido com o do Índice de Equilíbrio, já que se pode esperar que em um campeonato onde a classificação final costume ser mais “embolada” também haja maior variação nas posições dos times entre um ano e o outro. No entanto, o cálculo do Índice de Variação da temporada 2014/15 (em comparação com 2013/14) traz algumas surpresas nesse aspecto (lembrando que, quanto maior o índice, menor a variação):
Pos
|
Campeonato
|
Índice
|
1
|
Campeonato Espanhol
|
0,753
|
2
|
Campeonato Inglês
|
0,723
|
3
|
Campeonato Alemão
|
0,678
|
4
|
Campeonato Holandês
|
0,612
|
5
|
Campeonato Russo
|
0,519
|
6
|
Campeonato Francês
|
0,391
|
7
|
Campeonato Ucraniano
|
0,365
|
8
|
Campeonato Italiano
|
0,349
|
9
|
Campeonato Turco
|
0,331
|
10
|
Campeonato Grego
|
0,274
|
11
|
Campeonato Escocês
|
0,265
|
12
|
Campeonato Português
|
0,239
|
13
|
Campeonato Japonês
|
0,115
|
14
|
Campeonato Brasileiro
|
0,020
|
15
|
Campeonato Argentino
|
0,006
|
Em termos de variação, vemos que os campeonatos mais previsíveis do mundo, nesta temporada, foram o Espanhol e o Inglês. Isso está de acordo com o senso comum (realmente, os dois torneios sempre têm os mesmos times mais ou menos nas mesmas posições da tabela) e com a constatação de que ambos estão entre os campeonatos menos equilibrados do mundo.
No entanto, há exemplos que contrariam essa lógica. O caso mais claro é o do Ucraniano: todo ano a classificação final do torneio é a mais desequilibrada do mundo; no entanto, quando se trata da variação da posição das equipes, a liga do país está na média mundial. Ou seja, embora exista relação entre o Índice de Equilíbrio e o Índice de Variação (mais precisamente, com um Coeficiente de Determinação de 0,11), essa relação é fraca.
Também é muito interessante dar uma olhada nos torneios que estão no pé da tabela, ou seja, aqueles em que as equipes mais oscilam entre um ano e o outro. Sem surpresa, lá está o Brasileirão, à frente apenas da Argentina. Em geral, variação de posições é uma coisa boa: mantém a emoção e o interesse, impedindo que se crie um abismo entre “grandes” e “pequenos”. No entanto, quando o valor de r² se aproxima muito de zero (como acontece no Brasil e na Argentina), a situação torna-se preocupante: não se trata mais de um torneio equilibrado, mas sim de um torneio aleatório. Em outras palavras, a chance de um time que foi campeão em um ano ser campeão no ano seguinte seria igual à probabilidade de ele terminar o torneio em último lugar. Variações dramáticas como essas são típicas de campeonatos incipientes, com clubes não consolidados, nivelados por baixo e sem um mínimo de regularidade.
Parabéns pela análise, Tomaz.
ResponderExcluirCreio que o motivo para os campeonatos brasileiro e argentino aparecem nas últimas posições da sua lista está relacionada à perda de atletas para ligas mais ricas entre uma temporada e outra. Fica bastante complicado manter um padrão com times reformulados o tempo todo. De certa forma, a lista toda segue mais ou menos esse critério das ligas mais ricas (no topo) para as mais . pobres.