No último dia 19, iniciei uma série sobre o desempenho dos atletas
brasileiros na Olimpíada de Londres. O princípio básico era comparar a posição
obtida nos Jogos com a colocação que o atleta ocupa no ranking mundial, para, a
partir disso, avaliar se o desempenho foi positivo, neutro ou negativo (aexplicação detalhada dos critérios está aqui).
Os resultados, classificados por esporte, podem ser encontrado nos links
abaixo:
Avaliados todos os resultados, agora é a hora de responder a pergunta: e
então, os brasileiros “amarelaram” em Londres? Uma resposta simples seria: não,
não amarelaram. Na média, os resultados obtidos estavam de acordo com o ranking
dos atletas antes dos Jogos. Se não ganhamos mais medalhas, é porque o nível
técnico da maioria dos nossos representantes é baixo. No entanto, é preciso ir
um pouco mais fundo nessa análise.
Primeiro, algumas ressalvas ao método usado para a avaliação. É inegável que
alguns rankings não refletem de maneira exata a qualidade dos atletas, muito
menos do “momento” que vivem em 2012 – só que não há nenhuma outra medida
objetiva melhor. Nos casos em que a comparação foi feita com o último Mundial,
há a possibilidade de o resultado nesse torneio (e não na Olimpíada) ter sido
atípico. Outro problema é o fato de o ranking incluir todos os atletas (exceto
nos esportes coletivos), em vez de considerar só aqueles que de fato foram para
a Olimpíada. Isso pode resultar num viés positivo para as comparações,
especialmente nos casos de atletas com rankings muito baixos.
Dadas essas limitações, deve-se considerar uma certa “margem de erro” ao
analisar os resultados apresentados. Apesar das falhas, no geral, o
levantamento mostrou-se coerente e robusto.
Feita a ressalva, vamos aos resultados. Somando todas as avaliações
apresentadas, tivemos 59 desempenhos positivos, 50 neutros e 52 negativos. Ou
seja, daria até para dizer que o balanço brasileiro foi ligeiramente positivo.
Outra maneira de fazer a análise é esporte por esporte. Nesse critério,
teríamos:
Positivos: Tiro, Triatlo, Vela, Boxe, Handebol e Hipismo.
Neutros: Tênis, Tênis de Mesa, Vôlei, Atletismo, Basquete, Canoagem,
Esgrima, Futebol, Ginástica Artística, Judô, Levantamento de Peso, Nado
Sincronizado, Pentatlo Moderno, Saltos Ornamentais e Taekwondo.
Negativos: Tiro com Arco, Vôlei de Praia, Ciclismo, Luta, Natação e Remo.
Ou seja, na soma, 6 esportes tiveram desempenho positivo, 15 foram neutros e
6 negativos. Na média, o resultado é evidentemente neutro.
Além do “oba-oba” da imprensa antes da Olimpíada, existe outra explicação
para a sensação de fracasso atribuída aos brasileiros. Se, na média geral, o
desempenho esteve dentro do esperado, entre os principais medalhistas o
resultado realmente ficou um pouco abaixo. De acordo com o ranking pré-Olimpíadas,
o Brasil deveria ganhar as seguintes medalhas em Londres:
Ouro: Arthur Zanetti (ginástica artística/argolas), Cesar Cielo (natação/50m
livre), Vôlei Masculino, Alison/Emanuel (vôlei de praia), Juliana/Larissa
(vôlei de praia), Fabiana Murer (atletismo/salto com vara) e Everton Lopes
(boxe/meio médio ligeiro).
Prata: Leandro Guilheiro (judô/meio-médio), Mayra Aguiar (judô/meio-pesado),
Sarah Menezes (judô/ligeiro) e Vôlei Feminino.
Bronze: Rafael Silva (judô/pesado), Érika Miranda (judô/meio-leve), Yane
Marques (pentatlo moderno), Bruno Fontes (vela/laser) e Esquiva Falcão
(boxe/médio).
Ou seja, seriam 7 medalhas de ouro, 4 de prata e 5 de bronze, resultado que
deixaria o Brasil em 12º no quadro de medalhas oficial. Na realidade, ganhamos
3 de ouro, 5 de prata e 9 de bronze (22º lugar). Note-se que o total de
medalhas foi até maior que o previsto, mas o número de ouros ficou muito aquém
do esperado.
Dentre os 7 brasileiros que ocupavam a 1ª posição em seus rankings, só
Arthur Zanetti confirmou o favoritismo. Outros 2 ficaram com a medalha de prata
e 2 ganharam o bronze (2 saíram de mãos vazias). As outras 2 medalhas de ouro
que o Brasil levou vieram de atletas dos quais se esperava a prata (Sarah
Menezes e Vôlei Feminino).
Outra análise interessante que pode ser feita é separar os resultados dos
homens e das mulheres em Londres. Embora 2 de nossas 3 medalhas de ouro tenham
vindo do feminino, na média, os resultados das mulheres foram muito piores.
Vejamos:
- Modalidades masculinas: 41 positivos, 26 neutros e 26 negativos
- Modalidades femininas: 18 positivos, 24 neutros e 26 negativos
Ah, então quer dizer que as mulheres “amarelaram”? Na média, sim. Mas não
podemos esquecer que atletas de três modalidades se superaram para trazer
medalhas para o Brasil, caso do Vôlei Feminino, de Sarah Menezes e de Adriana
Araújo. Já com os homens a história foi inversa: na média, os resultados estiveram
acima das expectativas, mas, entre os prováveis medalhistas, 6 dos 9
decepcionaram.
O resumo da ópera é que, no geral, o desempenho brasileiro refletiu
adequadamente o nível de desenvolvimento de nosso esporte olímpico. É verdade
que, com um pouco de sorte (ou menos falhas na “hora H”), poderíamos ter
ganhado mais medalhas de ouro, mas essa é uma oscilação estatisticamente
normal, dado o pequeno número de atletas “top” que temos. Em termos de total de
medalhas – dado muito mais significativo para países coadjuvantes, como o
Brasil –, até nos saímos melhor que o esperado.
Se o País quer realmente ser uma “potência olímpica” tem que dar meios para
que os jovens se desenvolvam em uma gama mais ampla de esportes, que, a
médio/longo prazo resultariam em mais atletas de ponta e, consequentemente,
mais medalhas. Apostar só em meia dúzia de atletas e depois culpá-los por terem
“amarelado” é muito simplista – e não bate com a realidade.
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