Aproveitando, ainda, o “gancho” dos Jogos Pan-Americanos, trago
aqui uma reflexão sobre os quadros de medalhas, divulgados sempre com muito
destaque em Pans e Olimpíadas.
Esses quadros são apresentados pela imprensa como se fossem
a classificação de um campeonato de futebol. Mas essa analogia não é correta.
Embora apresente o quadro em seu site, o Comitê Olímpico Internacional (no caso
das Olimpíadas) não o trata como uma “competição”, não dá nenhum prêmio ao
“campeão”, nem destaca o resultado final. Ou seja, ninguém pode dizer que a
China “foi campeã” da última Olimpíada.
Mesmo assim, pelo destaque que tem, o quadro de medalhas acaba
sendo um termômetro da evolução do esporte olímpico brasileiro. O problema é
que trata-se de um termômetro muito viesado. O motivo é simples: esportes
individuais, em geral, “rendem” muito mais medalhas que esportes coletivos.
Assim, um país com grandes nadadores pode ganhar 34 medalhas de ouro; já uma
nação com grandes jogadores de futebol ganha só 2. É por isso que a Jamaica,
que só se destaca no atletismo (em corridas de curta distância), fica na frente
de países com participação muito mais importante nos Jogos, como Espanha e
Canadá.
Para amenizar essa distorção, pensei em um novo ranking. Em
vez de distribuir três medalhas (ouro, prata e bronze) para cada modalidade, atribuo
três para cada esporte. O cálculo é simples: para cada esporte (ou seja,
futebol, tênis, atletismo, natação, etc.), monta-se um quadro de medalhas. Para
o primeiro colocado nessa soma, atribui-se 1 ouro, para o segundo, 1 prata e
para o terceiro, 1 bronze. Assim, um país que domina a ginástica olímpica (no
caso, a China) ganha 1 medalha de ouro, do mesmo jeito que o melhor país no
basquete (Estados Unidos).
Por esse critério, o quadro de medalhas da Olimpíada de 2008
seria o seguinte (ordenamento: 1º ouros; 2º pratas; 3º bronzes; 4º posição no
quadro de medalhas convencional):
País
|
Ouro
|
Prata
|
Bronze
|
Total
|
Variação
|
|
1
|
China
|
7
|
3
|
4
|
14
|
=
|
2
|
Estados Unidos
|
6
|
4
|
4
|
14
|
=
|
3
|
Rússia
|
4
|
2
|
4
|
10
|
=
|
4
|
Alemanha
|
4
|
2
|
1
|
7
|
+1
|
5
|
Coreia do Sul
|
3
|
2
|
1
|
6
|
+2
|
6
|
Reino Unido
|
3
|
0
|
1
|
4
|
-2
|
7
|
Japão
|
2
|
1
|
1
|
4
|
+1
|
8
|
França
|
2
|
1
|
0
|
3
|
+2
|
9
|
Holanda
|
2
|
0
|
0
|
2
|
+3
|
10
|
Austrália
|
1
|
5
|
1
|
7
|
-4
|
11
|
Brasil
|
1
|
1
|
1
|
3
|
+12
|
12
|
Hungria
|
1
|
0
|
1
|
2
|
+9
|
13
|
Noruega
|
1
|
0
|
0
|
1
|
+9
|
14
|
Argentina
|
1
|
0
|
0
|
1
|
+21
|
15
|
Espanha
|
0
|
3
|
3
|
6
|
=
|
16
|
Itália
|
0
|
1
|
1
|
2
|
-7
|
17
|
Eslováquia
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+9
|
18
|
Cuba
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+10
|
19
|
México
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+17
|
20
|
Indonésia
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+22
|
21
|
Cingapura
|
0
|
1
|
0
|
1
|
+49
|
22
|
Canadá
|
0
|
0
|
3
|
3
|
-3
|
23
|
Ucrânia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
-12
|
24
|
Quênia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
-11
|
25
|
Rep. Tcheca
|
0
|
0
|
1
|
1
|
-1
|
26
|
Geórgia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+1
|
27
|
Cazaquistão
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+2
|
28
|
Portugal
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+18
|
29
|
Lituânia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+27
|
30
|
Islândia
|
0
|
0
|
1
|
1
|
+40
|
31
|
Jamaica
|
0
|
0
|
0
|
0
|
-17
|
*Brasil: ouro no vôlei (junto com EUA), prata no vôlei de
praia (junto com a China) e bronze no futebol
Comparado este quadro de classificação com o quadro
tradicional, nota-se que a China manteve o primeiro lugar, mas sua vantagem
para os Estados Unidos foi muito menor. Isso mostra como os chineses,
deliberadamente, fomentaram o desenvolvimento de esportes que distribuem muitas
medalhas, para “turbinar” seu resultado em casa.
Quem se dá muito bem nesta classificação nova é o Brasil,
que sobe de 23º para 11º lugar. Tal variação tem lógica: o País é mais forte em
esportes coletivos. Argentina, México e Indonésia também deram grandes saltos,
entrando no “top 20” olímpico. Entre os perdedores, o maior é a Jamaica, que
cai do 14º para o 31º lugar – variação mais que justa, a meu ver. Ucrânia,
Quênia e Itália também estão entre os mais “prejudicados” com o novo critério.
É inegável que este novo método também tem defeitos. A
maneira de separar os esportes não é consenso: por exemplo, muitos consideram
beisebol e softbol como uma coisa só; outros juntam vôlei com vôlei de praia;
em alguns lugares, ginástica “artística” e ginástica “rítmica” são esportes
diferentes. Para montar o quadro acima, usei a divisão de esportes feita pela
Wikipédia.
Outro problema é que esta classificação prejudica países que
têm bons atletas em vários esportes, mas não chegam a ter domínio em nenhum. É
o caso, por exemplo, de Ucrânia, Itália e Bielorrússia. A ocorrência de empates
em muitos esportes (foram 6, na primeira colocação) também distorce um pouco os
resultados.
Mesmo assim, meu critério torna mais claro quais países são
realmente “potências olímpicas”, considerando-se não só a posição na tabela,
mas também o total de esportes nos quais o país esteve entre os três melhores.
Assim, só há três forças incontestáveis: Estados Unidos, Rússia e China. Em um
segundo patamar, pode-se incluir Alemanha, Coreia do Sul, Reino Unido, Japão e,
talvez, Austrália. Outros países, como o Brasil, destacam-se apenas em esportes
isolados.