quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Quais placares decidem um confronto de mata-mata?

As quartas-de-final desta Copa do Brasil se mostravam imprevisíveis, depois de realizados os jogos de ida. Em três dessas partidas, o time da casa vencera por 2 a 1; na outra, a vitória foi por 1 a 0. Seriam esses placares suficientes para garantir a classificação?

Na prática, os resultados das partidas de volta confirmaram a dificuldade dos prognósticos. Metade dos times que jogaram o primeiro jogo em casa (Atlético-MG e Grêmio) se classificaram, enquanto os outros dois (Corinthians e Santos) perderam. E sob uma perspectiva histórica, será que uma vitória por 1 gol na ida faz de uma equipe favorita? Qual placar seria necessário para que a classificação fosse considerada certa?

Para responder a essas perguntas, vejamos o retrospecto combinado de três importantes torneios em mata-mata: Copa Libertadores, Liga dos Campeões da Europa e Copa do Brasil. Em todos, foram compiladas as estatísticas a partir de 1995 (ano em que a regra dos gols fora de casa foi introduzida na Libertadores), em confrontos de ida-e-volta a partir das oitavas-de-final (jogos sem a regra dos gols fora de casa não foram incluídos). Os resultados foram os seguintes:

Placar 1º jogo
Mandante classificado
Visitante classificado
% Mandante
3x0
24
0
100%
+4x0
17
0
100%
+4x1
7
0
100%
+4x2
3
0
100%
2x0
38
11
78%
1x0
61
36
63%
3x1
13
9
59%
2x1
29
28
51%
3x2
4
8
33%
1x1
19
52
27%
2x4+
1
3
25%
2x2
8
28
22%
0x0
11
41
21%
1x2
2
22
8%
0x1
3
35
8%
1x4+
0
1
0%
3x4+
0
1
0%
4x3
0
2
0%
0x4+
0
2
0%
0x3
0
6
0%
2x3
0
7
0%
1x3
0
11
0%
0x2
0
27
0%

Visualmente, a tabela acima pode ser traduzida da seguinte forma:


*Células em verde indicam maior chance de classificação para a equipe que jogou a primeira partida em casa; células em vermelho dão favoritismo para o visitante.

Trocando em miúdos, o resumo das estatísticas é o seguinte: se uma equipe perder a primeira partida do confronto em casa, ela está praticamente eliminada. Mesmo em derrotas por apenas 1 gol, a chance de recuperação é inferior a 10%. Por outro lado, se o mandante abrir o confronto com uma vitória por 3 gols de diferença, já pode comemorar a classificação.

E nos outros casos? Se houver empate no jogo de ida, a equipe que foi visitante torna-se favorita para a classificação – embora ainda haja esperança para o adversário (chance de 24%). Se o mandante ganhar o primeiro jogo por 2 gols, ele assume forte favoritismo (72%), mas não pode considerar a parada decidida.

Os confrontos que permanecem realmente equilibrados são aqueles nos quais o mandante vence a primeira partida por apenas 1 gol de diferença, como aconteceu nas quartas-de-final da Copa do Brasil. Aqui, a regra dos gols fora de casa faz bastante diferença: se o placar foi 1 a 0, o mandante do primeiro jogo tem razoável vantagem (63%); por outro lado, se foi 3 a 2 ou 4 a 3, o favorito é o visitante (31%).

Mas o placar mais equilibrado, que impede qualquer tipo de previsão, é o 2 a 1. Em 57 ocorrências nos últimos 11 anos, 29 vezes o mandante passou e em 28 a classificação ficou com o visitante. Ou seja, empate técnico.

Particularidades locais


O levantamento acima foi feito com base em três torneios bem diferentes (Libertadores, Liga dos Campeões e Copa do Brasil). Será que as características regionais levaram a resultados diferentes nas três competições?

Em geral, os resultados das três tabelas foram surpreendentemente uniformes. Os padrões apontados na primeira parte do texto servem perfeitamente para os três torneios. Mas há algumas particularidades curiosas que merecem ser mencionadas.

Em todas as competições, reverter uma derrota em casa é muito difícil. Na Copa do Brasil e na Liga dos Campeões, é praticamente impossível (só aconteceu 1 vez em cada torneio, em 11 anos). Mas, na Libertadores, há um fio de esperança: em 12% dos casos, o mandante que perdeu por 1 gol conseguiu reverter a desvantagem na casa do rival.

Outra diferença curiosa diz respeito aos empates. Na Libertadores e na Liga dos Campeões, um empate no jogo de ida sempre dá boa vantagem para o visitante (de 77% a 85%). Mas, na Copa do Brasil, a história é um pouco diferente: no caso de empates com gols, o time que jogou a primeira partida em casa ainda mantém uma razoável chance de 42% de classificação. O mais curioso é que esse número é bem maior que os 23% de chance em caso de 0 a 0 – resultado que deveria ser melhor para o mandante que os outros empates, por causa da regra dos gols fora de casa. Neste caso, os números vão contra a lógica.

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